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  • Zoroastro- por Jorge Bertolaso Stella (*) -- 1971
    quarta-feira, dezembro 20, 2006
    Apresento apenas um apanhado ligeiro de cada uma destas religiões.

    Como existem certas semelhanças entre elas resolvi enfeixá-las em um só volume.

    Essas semelhanças e suas diferenças observam-se de modo particular no último dos três estudos: «O cristianismo e as outras religiões».
    ZOROASTRO


    Zoroastro foi um antigo profeta do Irã. Personagem histórico, afirmado por tôda a antiguidade clássica, viveu provavelmente entre o VI e o VII século antes de Cristo.
    A significação do seu nome é variadíssima. Zoroastro é do Avesta Zarathustra. Dizem ter o sentido de «o proprietário de velhos camelos», «amigo do fogo», «banhado de ouro», «prata derretida», «esplendor de ouro», «estrêla de ouro», etc. É chamado também «Zarathustra Spitama» e algumas vêzes somente «Spitama».
    O título «Spitama» é a designação de família e o nome é oriundo de um ancestral do profeta, um herói epônimo do clã. A derivação dêste patronímico «Spitama», usado como um apelativo, é evidentemente do Avesta, raiz, spit -- «ser branco» e a designação é provavelmente «descendente da alvura».
    Muito se tem escrito sobre Zoroastro e há quem duvide da sua existência.
    As Gâthâs, que constituem os documentos mais antigos e autorizados, apresentam, no entanto, traços tão vivos a respeito dêle que não é lícito considerá-lo um mito. Sua existência é inegável, embora seja cercada de fatos legendários.
    As opiniões variam quanto à época do seu aparecimento. Uns o colocam em tempos mais recentes, outros emprestam-lhe uma antiguidade fabulosa. É assim que Hermippo assinala o seu aparecimento cinco mil anos antes da guerra de Tróia; Aristóteles no terceiro século a.C. e Eudoxo seis mil anos antes de Platão. (1)
    O Bûndahîsh (nono século da era cristã), que derivava grande parte o seu material dos livros do Avesta, que mais tarde (1) Pizzi, Zarathustra, pág. 49. se extraviaram, afirma que Zoroastro iniciou o seu ministério profético 258 anos antes de Alexandre Magno.
    Interessante é o estudo que Messina fêz do termo «mago», para provar a época em que Zoroastro viveu.
    Ermodoro, Theopompo e Aristóteles, afirmam que a doutrina dos magos é constituída de pontos fundamentais do ensino de Zoroastro e os mesmos autores dizem serem os magos discípulos dêsse iluminado e chamam-no o primeiro mago e o iniciador da sua escola.
    Além disso o nome que se encontra nas Gâthâs magavan e no Avesta posterior moghu -- e no antigo persa magu -- não apresenta senão um composto adjetival, com dois diversos sufixos, do nome maga e tem o significado de «participante do dom». Que, enfim, sob o termo maga (dom), seja compreendida a doutrina de Zoroastro, que é considerada dom de Ahuramazdah é evidente pela análise dos passos nas Gâthâs, em que tal substantivo se encontra «participante do dom» não é pois outra coisa senão participante da doutrina de Zoroastro, isto é, ser seu discípulo. Ora, os discípulos de Zoroastro, são mencionados no século VII a. C. e a isto se deve acrescentar a data de Xanthos, testemunha de grande valor pelas suas relações com os Mazdeus, o qual dá a época de Zoroastro como sendo 600 anos antes da campanha de Xerxes contra os gregos (480 a.C.), isto é, no século V a. C.
    Um fato em abono à antiguidade do Zoroastrismo está em se ter descoberto num dos papiros que se relacionam à colônia militar judaica residente na ilha Elefantina no Egito, um certo Arsana -- governador, ou sátrapa do Egito, na segunda metade do século V, na época da ocupação persa sob Dario II, que (424-405) é chamado mazdayasma, isto é, «mazdeista», própriamente «adorador de Mazda». Mazdayasma é no Avesta o termo técnico para designar os seguidores da boa religião, a de Zarathustra. Isto mostra a antiguidade de Zoroastro .(2)
    (2) Turchi, Storia delle Religioni, volume 1, pág. 435.

    Quanto ao local de origem de Zoroastro é assunto complexo. Uns fazem-no rei da Bactriana, outros, rei dos Medas, a tradição dos pársis coloca na Média o local de nascimento de Zoroastro; na Média propriamente não, mas, precisamente na região de Ragha (Ragae, Rai), (não longe de Teheran), ou antes na Média Atropatene (região de Urnia), onde, perto do rio Draga (Darga), teria sido a residência dos Pitamas até Porusaspa, Tourushapa (Torush-aspa-poluippos) o pai de Zoroastro.
    Segundo uma tradição mais recente, no oriente, afirma-se que Zoroastro morreu aos 77 anos em Bakhdi, isto é, Bactrae, por ocasião de uma guerra religiosa, provocada pelo rei dos infiéis, Argataspa.
    Um modo de conciliar essas opostas tradições consistiria em supor que ele fosse nascido na Média, mas não tendo encontrado em sua pátria o acolhimento que seria de se esperar, como aconteceu com quase todos os outros profetas, emigrou para a Bactriana, onde pôde realizar sua obra. Outros tentam resolver o problema admitindo vários indivíduos com o nome de Zoroastro.
    Das Gâthâs se depreende que o sucesso de Zoroastro foi em parte devido ao rei Vislitasp que se convertera à sua doutrina. Outros seus protetores foram o sábio Jamaspa e seu irmão Frashaosthra. Zoroastro casou-se com Avovi, filha dêste último e deu em casamento a Jamaspa sua própria filha Pourucista, oriunda de outro matrimônio.
    Dentre os primeiros convertidos de sua família cujos nomes são mencionados, figura seu sobrinho e primeiro apóstolo Maidyoi-Maonha. Um convertido de origem turânica, Fryana, é alvo de grande consideração por parte do profeta, dada a sua piedade e generosidade.
    A tradição coloriu muitos fatos e a lenda envolveu Zoroastro. Atribuiu-se-lhe nascimento miraculoso e que ele tenha operado milagres vários. Sua vida juvenil foi uma constante luta contra os poderes maléficos.
    Aos vinte anos retirou-se do mundo para se entregar a meditação. Um espírito, Vohu Mano, o levou perante a divindade suprema, Ahuramazda, que lhe fêz a revelação e. colocou em suas próprias mãos o livro sagrado, o Avesta. Ahura Mazda ao chamar Zoroastro para sua missão, o constituiu «Pastor dos Pobres».
    Aos trinta anos começou sua vida pública. Quando Zoroastro voltava à Terra, o espírito malígno, sabendo que, com a revelação da lei suprema, recebida de Deus, salvaria o mundo, procurou com violência assaltá-lo, com a mentira, prometendo-lhe o domínio, procurando desviá-lo do seu propósito. Tudo porém em vão. O profeta venceu a tentação. A tentação que o Vendidâd narra a respeito de Zoroastro se parece muito com a de Jesus.
    A biografia legendária de Zoroastro encontra-se no Zerdusht Nameh. Afirma-se que o profeta morreu aos 77 anos, assassinado por um sacerdote da velha religião; segundo alguns, massacrado com os sacerdotes do templo, enquanto estava perante o altar do fogo, pelas hordas tirânicas de Arjasp. Na tomada de Balkh, afirma ao contrário o Shah Namek.
    Ao concluir êste capítulo, queremos trazer algumas considerações do Prof. T. Pizzi, em torno de Zoroastro. Na sua opinião é quase certo que Zoroastro é oriundo de uma região que ficava ao ocidente do Irã ou pelo menos da parte mais ocidental, junto do lago Urmia, isto é, de uma região irânica mais próxima dos povos semitas, se não é, como alguns já pensam, oriundo de um país semítico. Isto estaria nas linhas da sua doutrina monoteísta, pois pregavam os profetas hebreus, justamente na época em que se supõe que viveu Zoroastro.
    Não teria sido ele um semita que foi pregar no país irânico procurando impor a doutrina monoteísta do seu país?
    Acresce que a etimologia do nome Zarathustra não encontra explicação plausível nas línguas irânicas antigas ou modernas e tem uma fisionomia de língua estrangeira. Resta encontrar alguma explicação nas línguas semíticas. Outro fato a tomar em consideração, é o modo como a tradição o apresenta, não só como sendo um reformador, mas também como alguém que, havendo recebido da Divindade o alto ofício de pregar a um povo uma nova doutrina até a morte, cumpriu tal dever. Assemelha-se ele aos profetas reformadores ou legisladores semitas e distingue-se dos legisladores ou reformadores de religião não semita. Os não semitas não são mensageiros de divindade alguma, se bem que preguem em nome da divindade. Um caso interessante é o de Buda que pregava a sua religião, ou antes, filosofia, que era atéia. Buda é o tipo do reformador ou legislador ariano ou Indo-Europeu, enquanto que Zoroastro é legislador e reformador do tipo semítico, isto é, do tipo de Moisés e de Samuel, de Isaías e de Jeremias, entre os hebreus. Tudo faz crer que Zoroastro possuisse algo de semita.
    É interessante observar que há uma tradição muçulmana que o considera discípulo de Jeremias, que viveu no século VI a.C., sendo portanto, contemporâneo dêste profeta. Que Zoroastro seja identificado com êsse vulto do Velho Testamento é matéria que teremos ocasião de apreciar mais adiante.


    AVESTA E ZEND-AVESTA
    Várias tentativas foram feitas no sentido de esclarecer a origem e o significado do termo Avesta. Damos apenas algumas mais prováveis.
    Oppert, tendo encontrado nas inscrições de Dario a forma antiga e o sentido da palavra Avesta: «aparity âbastâm upariyâyani» -- «eu governo segundo a lei», deduziu que a palavra persa «âbastâ» ou «abashtâm» deve significar a lei. Dá, portanto, à Vesta, o sentido de lei.
    Porém, Jackson, visitando em 1903 e examinando a rocha de Behistam em que se encontra a célebre inscrição e o termo que estamos procurando conhecer, julgou ter lido «ârasta» - que quer dizer caminho reto (estrada direita, caminho do bem). Veio assim confirmar as conjecturas de Foy, encontrando ao que parece o verdadeiro sentido do termo.
    As inscrições de Behistûn são sobremaneira interessantes. No antigo confim Médio, não longe da moderna cidade de Kermanshah, surge um monte chamado Behistûn, muito escarpado, acima do plano que circunda, de pouco mais de 1.000 metros.
    Na rocha, a 180 metros da base, podem-se divisar as inscrições mais curiosas que têm resistido as injúrias do tempo.
    A superfície da rocha foi polida para receber aquelas inscrições e as lacunas que se apresentavam pelas irregularidades naturais foram preenchidas com pedras, unidas e niveladas com tanto cuidado que é difícil perceber as linhas de conjunção. Sobre esta superfície e na antiga escritura cuneiforme, encontram-se os admiráveis testemunhos de Dario.(1) E se algumas sílabas ou palavras foram mutiladas pelas estações das chuvas, podem ser restauradas com facilidade, recorrendo-se aos lugares onde as mesmas sentenças são repetidas e ainda conservam-se intactas. (2)
    Messina tem outra opinião. A palavra Avesta significa provavelmente o texto fundamental (upa-stâ) em oposição à versão ou comentário que era chamado Zand. Juntos se costuma chamar Avesta e Zenda, daí o inglês Hyde e o francês Anquetil Duperron formarem Zendavesta, e com o nome Zend indicarem a língua do Avesta, pensando que Zend se referisse a língua.
    Como se vê, Zand (Zend literalmente «conhecimento»), significa comentário e não língua. Zendavesta significa própriamente o «Avesta e o seu comentário» ou explicação. Zend não designa portanto nem um texto, nem uma língua.
    Em rigor poder-se-ia empregar para designar o texto pehlvi, mas nunca o texto Avesta e muito menos sua língua.


    A PÁTRIA E ÉPOCA DO AVESTA
    Tarefa árdua é provar onde foi escrito o Avesta. O Avesta menciona muitas regiões do clã oriental e ocidental. Parece, porém, que prevalece o conhecimento da parte oriental. Sucede entretanto, que grande parte dos nomes, das regiões, dos países, das águas, que se lê no Avesta, são de natureza mítica e fabulosa. É assim que ninguém, por exemplo, saberá dizer em que parte do mundo se encontra o monte Haraberezaiti, que circunda a terra ou o lago Kansava, do qual virá o Salvador no fim dos tempos. Pensava-se, com maior probabilidade que a Pátria do Avesta fosse no Iran ocidental e propriamente na Média.

    (1) Mills, Avesta, Oxford, 1914, pág. 8.
    (2) Mills, Avesta, Oxford, 1914, pág. 20.

    Ao tratar de Zoroastro tivemos, até certo ponto, ocasião de referir-nos à época em que o Avesta foi escrito. Vejamos agora alguma coisa mais particular sobre o assunto.
    O professor Geldner, que se prende o mais possível à tradição mazdea, sustenta que as partes mais antigas do Avesta remontam à época de Zoroastro mesmo, e devem ser do século VI a. C.
    O professor Bartholomae e o seu discípulo Reicheld admitem a composição das Gâthâs, anterior ao século VII a.C., enquanto que o prof. MilIs está disposto a dar a época de 1000 ou 1200 a. C.
    As razões que levam a crer que as partes mais antigas do Avesta não são posteriores ao século VI a.C., são resumidas por Carnoy como seguem: 1) o testemunho da literatura grega prova a existência de uma literatura religiosa na Pérsia de época antiga. Heródoto fala de uma teogonia ou genealogia dos deuses, que os Magos recitavam por ocasião do sacrifício. Hermippo de Esmirna do III século a.C. faz referência aos escritos de Zoroastro. As mesmas referências fazem Nicola de Damasco e Dione Crisostorno; 2) a tradição pehlvi é unânime em falar de um Avesta escrito 300 anos antes de Alexandre, que mandara queimar a cópia oficial; 3) não é possível que o Avesta fosse escrito durante o reinado dos Sassânidas, em uma língua há muito extinta. Isso é comprovado pelo fato de que se sentiu naquela época a necessidade de uma tradução pehlvi e de longos comentários que tornassem inteligível um texto que não se compreendia mais, como provam os numerosos erros de tradução. O prof. Geldner demonstrou que os redatores do Vendidâd ignoravam a estrutura métrica dos textos que colecionavam.
    A língua do Avesta representa um estado da língua irânica, tão distante do pehlvi quanto o latim do francês.
    Nas moedas dos reis indo-citas do primeiro e segundo séculos da era cristã, os nomes reais ocorrem já em forma pehlvi inteiramente modificados. Semelhante transformação dêsse caráter pressupõe que hajam decorridos vários séculos. Não há dúvida que o dialeto avéstico poderia ter sido escrito como língua morta, também numa época em que como língua falada se usava apenas o médio persiano, porém, isto se compreendia somente se naquela língua existisse uma copiosa literatura religiosa, cuja origem dever-se-ia procurar nos tempos em que o avéstico era falado, isto é, numa época não muito distante daquela dos primeiros reis Acherminides, porque êstes reis usavam nas suas inscrições um dialeto bastante afim ao avéstico.
    A evolução religiosa, menos do que da língua, pode efetuar-se de um momento para outro. O nome do deus é, para Dario, Auramazdá, enquanto que nas Gâthâs, não somente os dois nomes Ahura e Mazdah aparecem separados, mas em regra se encontram na ordem inversa e freqüentemente se encontram em um só nome. Vohu Manah e Khstra são dois conceitos das Gâthâs e aparecem como abstração apenas personificadas, porém o primeiro em Estrabão e já deus Uranós e a sua fisionomia é extraordinàriamente modificada. O segundo se encontra no primeiro século, como um nome pessoal, sobre as moedas indo-citas, porém na forma fixa é apenas reconhecível de Saorêvas (pehlvi Shahrevar).
    Há opiniões diametralmente opostas a estas.
    Darmesteter em sua obra clássica sustenta que o Avesta foi completamente destruido no período alexandrino e que a restauração mazdea deu ocasião a compilar um livro novo no qual a sobrevivência das idéias antigas foram recolhidas em uma espécie de filosofia religiosa grandemente influenciada pelo gnoticismo e platonismo. Os argumentos em favor da opinião de Darmesteter são os seguintes:
    1) Os historiadores árabes referem-se à parte importante que houve na restauração religiosa, sob Ardashêr, efetivada pelo sacerdote lansar e o definem um «platônico».
    2) No Avesta encontram-se alusões a acontecimentos muito recentes, como o reino de Alexandre, o budismo, os árabes.
    3) Os escritores gregos e as inscrições dos Acheminides apresentam a religião persa como um culto muito elementar da natureza.
    4) As Gâthâs falam constantemente de um reino cuja vinda é esperada pelos fiéis; este conceito chama à nossa mente o judaico do reino de Deus. É provável que essa idéia tivesse sido adotada dos livros hebraicos, nas Gâthâs.
    5) O conceito gathico de Vohu Manach chama a atenção às idéias do LOGOS neoplatônico, especialmente como é apresentado no sistema do judeu alexandrino Filão.
    6) Em regra se afirma que o sistema gathico é muito abstrato e filosófico para ser antigo, e o padre Lagrange diz que supô-lo antigo é supor o desenvolvimento da filosofia antes dos gregos.
    O campo ainda está aberto e não se pode assegurar com certeza a época em que foi escrito.
    Uma coisa é certa, porém; o livro contém partes de diversas épocas, das quais algumas podem ser antiquíssimas, outras relativamente modernas.


    HISTÓRIA DA TRADUÇÃO DO AVESTA
    Os escritores latinos e também do medievo, davam notícias, embora incertas e confusas, de livros de Zoroastro, mas, ninguém, sabia dizer ao certo onde estavam, se existiam, e quais eram.
    Nas bibliotecas da Europa e particularmente nas de Copenhague, de Oxford e de Paris, viam-se manuscritos do Avesta, mas ninguém sabia lê-los e se realmente eram verdadeiros. Assim chegou-se até o século XVIII quando um jovem francês veio mudar o curso das coisas com o seu exemplo abnegado em prol da ciência. Trata-se de Abraão Jacinto Anquetil Duperron.
    Em 1734, com vinte anos de idade e aluno da Escola de Línguas Orientais, viu ele , por acaso, em casa do orientalista Leroux Deshanteroyes, quatro folhas calcadas sobre o Vendidâd d'Oxford, que haviam sido enviadas alguns anos antes a Etienne Fourmont, tio e mestre de Deshanteroyes.
    Estas folhas decidiram sua vocação e resolveu dar à França os livros de Zoroastro e a primeira tradução dêsses livros.


    Para realizar seu intento enfrentou duras vicissitudes. Ingressou como simples soldado no serviço da Companhia das Índias, já que não podia esperar auxílio da Acadêmia das Inscrições. Embarcou dia 24 de fevereiro de 1755 em Lorient levando consigo uma Bíblia e um Montagne. Após três anos de aventuras e travessias de toda a sorte, chegou a 20 de abril de 1758 a Surate, que deveria ser, durante três anos, o centro de suas pesquisas. Depois de ter passado cêrca de 10 anos na Índia, em que se fêz discípulo de um sacerdote de Zoroastro chamado Durab, e sob sua direção traduziu o Avesta, regressou à França, tendo publicado a primeira tradução do Avesta com o seguinte título: «Zendavesta, ouvrage de Zoroastro, contenant lés Idées theologiques, physiques e morales de ce legislateur, lés cerimonies du cult religieus qu'il a etabli et plusierus traísts importants relatif a rancienne histoire des Perses» -- 3 volumes, Paris, 1771.
    Sua obra continha, porém, defeitos sérios. Em primeiro lugar relacionava-se ao texto do Avesta e não se sabe se pelo engano do mestre ou por outro motivo ignorado, sua tradução foi baseada na versão pehlvica, pouco segura. Em segundo lugar a ignorância das coisas concernentes ao Avesta, de sua parte e por parte de Durab, vazio de conhecimentos como tantos outros seus correligionários.
    A publicação de Anquetil trouxe grande celeuma e crítica amarga da parte de W. Jones.
    O célebre filólogo Rash, já pelo ano 1820, pensou em decifrar o verdadeiro texto do Avesta, em vista da versão pehlvica ter-se mostrado insuficiente. Serviu-se dos manuscritos da biblioteca de Copenhague. Seus trabalhos assinalam o princípio de uma verdadeira pesquisa racional.
    Esta foi sàbiamente trilhada pelo genial filólogo Eugênio Bournouf, que entre 1833 e 1835 publicou sua obra com o seguinte título: «Comenter sur le laçna, l'un des livres religieux de Perses, ouvrage contenant le text Zend expliqués pour Ia primeire fois, lés variantes des quatre manuscrit inedit de Mériosengh».
    Serviu-se para decifrar a língua ignorada da comparação do persa e do sânscrito. Bournouf aceitava, porém, a tradução dos

    Pársis e serviu-se também, mas com cautela, da versão pehlvica, sobre a qual Anquetil fizera o seu trabalho. Teve discípulos e seguidores como Spiegel, Justi, De Harlez, Geiger, que nas pegadas do mestre muito fizeram na interpretação e esclarecimento do Avesta.
    Bournouf criou a filologia do Avesta e foi fundador da escola que é chamada tradicional porque, interpretando o Avesta, baseava-se em grande parte na tradição, naquilo em que ela pudesse ser auxílio apreciável. Surgiram sanscritólogos como Benfey e Roth. Esta escola entendia que o texto do Avesta devia ser explicado somente com o auxílio do sânscrito, repudiando inteiramente toda a tradição. Confrontando, pois, a língua do Avesta com a dos Vedas, à força de etimologias e derivações, tentavam fazer a tradução do Avesta. Desde o princípio dos estudos zendas, Bournouf tinha reconhecido que uma parte do Avesta, as Gâthâs, eram escritas em versos, porém sem determinar em que métrica era ela composta. Westphal com rara sagacidade, traçou as principais leis da métrica das Gâthâs. As pesquisas nessa direção foram continuadas com grande êxito por Carlos Gedner que em 1877 publicou um trabalho de grande mérito, relativamente à métrica do Avesta, trazendo esclarecimentos de valor excepcional.
    Além de muitos outros, lembramos Darmesteter, que publicou de 1892 a 1893 «Le Zen Avesta - Traduction Nouvelle avec Comentaire Historique e Philologique».
    Esta obra é uma das mais preciosas sôbre o assunto e com muita propriedade Messina disse ser «uma mina de informações».
    O AVESTA, ÉPOCA DE SUA COMPOSIÇÃO E O CÂNON


    O texto do Avesta foi conservado durante vários séculos, unicamente por tradição oral.(1)
    O Avesta, livro de orações(2) é monumento literário e religioso dos mais importantes da antiguidade. Código sagrado, (1) Garcia Ayuso F., Los pueblos Iranios, Zoroastro, Madrid 1874, pág. XVIIII.
    (2) Henry V., Le parcisme, pág. 150. revela o saber daqueles tempos remotos, compreendendo a moral e a religião, a ciencia médica e a jurídica, além dos cantos à Divindade, os hinos de natureza entre a épica e a lírica(1), as invocações e as súplicas rituais do culto.
    O Avesta não é um livro orgânico, não é obra de um só autor, mas é a reunião de fragmentos de mais obras que se extraviaram. Êste livro, dada a natureza das partes que o compõem, interessa ao filósofo e ao teólogo como código sagrado de uma das religiões mais elevadas da antiguidade, interessa ao historiador, ao literato, ao poeta, na parte que se refere à vida e aos costumes, e as idéias que se referem a gente que viveu em época remota. (4) Interessa ao filólogo, pois o estudo das Gâthâs, é um dos mais árduos problemas da filologia irânica, senão de toda a filologia. (5)
    A tradição nacional atribui o Avesta a Zoroastro. Para ela Zoroastro é o autor da obra, ou melhor, o livro foi a ele revelado pelo próprio Ahura Mazda, o criador do mundo e de tudo o que há de bom no mundo. Supõe-se entretanto e com algum fundamento, que de Zoroastro são oriundas as Gâthâs, os primeiros e mais vetustos hinos que anunciam uma doutrina elevada, monoteísta. As outras partes do Avesta são oriundas primeiramente dos seus discípulos e depois dos continuadores, nos séculos seguintes, que souberam converter em dualista a sua doutrina monoteísta, tornando-a de acordo com os conceitos religiosos naturalísticos do grosso da nação.(6)
    Segundo a tradição dos pársis Kavi Vishtâspa, o protetor de Zarathustra, ou o seu ministro Giamaspa, escreveu sobre 12. 000 peles de boi em caracteres de ouro o Avesta e o comentário (Zand), tendo-o colocado no tesouro real de Shiz, enquanto que, uma cópia do mesmo foi remetida para os arquivos de Stachr (Persepolis). (7)
    Antes que Alexandre Magno entrasse na Ásia, existia já formada a ampla coleção dos livros do Avesta. Depois de Alexandre foram dispersos, perdidos em grande parte e por obra criminosa do mesmo Alexandre. A primeira coleção organizada dos fragmentos que subsistiram, foi feita por ordem do rei Valklash, da dinastia dos Parthos. Uma nova coleção foi organizada no tempo do rei Ardeshir (226-24 depois de Cristo), primeiro rei dos Sassânidas, por obra do arqui-mago Tausar ou Tosar.
    Outra revisão foi processada na época do rei Shahpur (240-271 depois de Cristo). Finalmente, a redação definitiva do Avesta, como chegou até nós, foi ordenada e conduzida a bom termo pelo rei Shahpur II (310-379) depois de Cristo. O rei publicou um decreto, ordenando aos súditos que reconhecessem como autêntica e canônica a última redação do Avesta ordenada por ele e executada pelo arqui-mago Azer-pad. O decreto real foi obedecido a tal ponto que ainda hoje os pársis, quando fazem a sua profissão de fé, declaram também aceitar e reconhecer o Avesta somente na forma em que o arquimago Azer-pad a apresentou. (1)
    O Avesta que agora possuímos e que passou por tantas modificações, revisto e refeito muitas vêzes, não é, pois, senão o último trabalho dos redatores de mais gerações, desde o tempo do rei Vologese, aquêle de Shapur II, cujo reinado vai até 379 da era cristã. O último compositor, ou ordenador, ou redator, se quiser, foi o arqui-mago Azer-pad. Porém, observa Pizzi, (9) o critério com que o arqui-mago Azer-pad realizou a difícil e importante obra, é coisa que não se pode desvendar.
    O AVESTA E OS LIVROS QUE O COMPÕEM


    O Avesta que possuimos hoje é mais ou menos um quarto daquele que existiu no tempo dos Arsacides e dos Sassânidas, o qual formava uma ampla e vasta enciclopédia não somente jurídica, mas teológica, sobretudo litúrgica. O Avesta que atualmente temos, está para com o Avesta antigo, como o breviário ou passos escriturísticos do breviário estão para com a Bíblia. Não chegou, pois, completo aos nossos dias. Por exceção um único livro chegou inteiro -- o Vendidâd -- e é por isso lido em grande estimação.
    Êsse Avesta antigo a que nos referimos, compreendia vinte e uma partes, capítulos ou livros chamados Nash, ligados em três séries de sete cada uma.
    O Vendidâd que chegou a nós completo, formava o capítulo ou livro dezenove.
    Estas informações nos são dadas por um livro pehlvico de grande valor, do século IX da era cristã, chamado Dên-Kart, isto é, o tratado da religião, segundo o qual os livros ou partes do Avesta eram de fato em número de vinte e um.
    Dos títulos de cada parte pode-se avaliar o assunto de que cuidavam. Pelos títulos percebe-se que tratam da criação, cerimonial litúrgico, do ofício sacerdotal, direito criminal, história do gênero humano, etc., formando assim um precioso tratado de todo o saber daqueles tempos.
    Êsses livros eram ordenados e dispostos em três classes. A primeira era uma coleção de cantos e hinos, a terceira era tôda de natureza jurídica e a segunda, parece, ficava entre a primeira e a terceira.
    Os pársis como os hebreus e outros povos essencialmente religiosos, do oriente, tinham especial cuidado em contar as palavras, as sílabas e as letras das partes mais sagradas dos seus livros revelados.
    O Avesta que possuimos hoje, consta de quatro partes com os seguintes títulos: Yasma, também grafado Yaçna, Vispered, Vendîdâd, lash ou Khôsda-Avesta.
    O Yasma, livro essencialmente litúrgico, que significa «adoração, oferta sacrificial, sacrifício», compreende os textos em prosa e em versos, os quais devem ser recitados durante a liturgia sacrificial, especialmente durante o preparo do haôma. É dividido em setenta e duas partes chamadas hâite ou melhor hâ. A primeira (1-27), contém as rubricas do rito juntamente com as instruções teológicas e profissão de fé zoroastriana; a segunda (28-53) contém as Gâthâs ou hinos do sacrifício; a terceira (54-72) louvores.
    Destas três partes, a segunda é a mais antiga e a mais importante, contendo o genuino pensamento de Zarathustra: são as Gâthâs. Estas Gâthâs são unidas em cinco coleções chamadas: Ahunavaiti, Ustitavaiti, Spentâmainyêr, Vohû-Khshathra, Vahistâ-istês.


    AS GÂTHÂS
    Gâthâs etimológicamente significam «Cânticos», «Cantos de louvor»; são tomadas no sentido de hinos, são sermões em versos, chamados «salmos». O próprio Yaçna as chama as «santas Gâthâs».
    As Gâthâs, textos em forma métrica, são a parte mais antiga, o coração do Avesta, não só pelo lado linguístico, como já vimos, mas também pelas idéias que encerram. As Gâthâs são consideradas partes do Avesta, quer citadas, quer invocadas, como a mais santa parte do livro sagrado. Sua importância é incontestável: «tôdas as obras e todas as leis que aparecem no Avesta, diz Neriosengh, Zoroastro revelou nas Gâthâs. Êstes misteriosos poemas formam a parte mais arcaica e mais santa do Avesta.»
    As Gâthâs são obscuras, não uma obscuridade de fundo, mas de forma: obscuridade de estilo. Os conceitos das Gâthâs são muito elevados.
    As Gâthâs antes de serem escritas foram transmitidas provavelmente por tradição oral, não se sabendo por quanto tempo. Aliás, os Vedas, os textos sagrados da Índia, também antes de terem sido fixados pela escrita, foram transmitidos, de geração em geração, por tradição oral. As Gâthâs, no meu modo de entender, estão para o Avesta, assim como os Evangelhos estão para o Novo Testamento. Elas se transportam para os «tempos evangélicos» e «tempos apostólicos». As Gâthâs; encerram um monoteísmo muito mais avançado do que os mais elevados hinos védicos, a Varuna: Ahura Mazda não tem companheiros, nem rivais. Nenhum outro deus é denominado nas Gâthâs.
    O Vendidâd (avéstico, vîdaêvo, dâtem -- «a lei contra os demônios»), dado contra os demônios, é um código ritual que lembra no budismo o Vinâya e muito de perto o Levítico; foi chamado o Levítico pársi. O Vendidâd era o livro de purificação, o mais importante dos livros legais para os sacerdotes, e talvez por isso mesmo preservado. Êle se ocupa principalmente das purificações e expiações, tudo do ponto de vista indicado pelo título do livro, que em zenda é vîdaêva dâta -- «o código antidemoníaco», ou que significa «Leis anti-demoníacas», pois aquilo que é impuro é da esfera da ação dos espíritos malígnos.
    Êsse livro é dividido em 22 capítulos, chamados fargard (é o único que chegou completo até os nossos dias). O livro contém prescrições higiênicas, prescrições contra a contaminação dos demônios. É um documento importante para se conhecer as idéias geográficas daqueles tempos. Trata do poder concedido por Ahura Mazda ao belo e virtuoso Yinia, filho de Vivanhant, que foi, na terra, propagador da fé e iniciador, entre os homens, da agricultura, que é muito exaltada e tida em grande consideração pelos persas. Faz também referência a um dilúvio em que se salvaram o Yinia, chamado o Noé irânico, com os homens bons, com os animais mais belos e mais fortes, em um recinto de que o próprio Ahura Mazda dera o desenho ou modêlo. Contém a tentação que sofreu Zarathustra por parte do demônio AnraMainyu, vencido, repelido por ele , que tem certa semelhança com a tentação que Cristo sofreu da parte de Satanás, como se lê nos Evangelhos -- Mateus 4:1 -11; Marcos 1:12-13; Lucas 4:143.

    O Vîspered (avesta vispe tatavô -- «todos os senhores») é um livro curto, dividido em 24 capítulos, chamados Karda e contém principalmente hinos, súplicas e invocações a «todos os deuses da criação boa de Ahura Mazda». Observa-se que o Vîspered deve ser considerado não propriamente um livro à parte, mas um apêndice do Yaçna e como livro litúrgico usado em ocasiões particulares para ser recitado nas funções religiosas imediatamente depois do Yasna.
    Êstes livros formam o Avesta propriamente dito ou o Grande Avesta.
    Segue-se o «Pequeno Avesta» (Khordah Avesta), constituído Yasht.
    O Yasht (avéstico yashtai). A palavra yasht (zend yéshti) é da mesma raiz e tem mais ou menos, o mesmo sentido do termo yasna, cuja recitação é elemento essencial do culto consagrado aos diversos yazata (deuses inferiores ou anjos). Yasht são, pois, hinos e cânticos posteriores às Gâthâs, usados pelos laicos, em que se desenvolve amplamente tudo quanto se refere à mitologia, às tradições heróicas dos deuses avésticos de ordem inferior. Contém 21 livros, havendo entre êles, alguns hinos belíssimos, dirigidos a Mithra.
    Entre os livros pehlvis que são importantes para o estudo do zoroastrismo, na época dos Sassânidas, mencionamos os seguintes:
    Dênkard «atos de religião», compilados no nono século da era cristã. Contém uma vasta e preciosa coleção de particularidades sobre doutrina, costumes, tradições, história, literatura, etc., dos tempos do mazdeismo. Especialmente notável é a coleção de tradições a respeito da vida e pregação de Zoroastro.
    Bûndahîsh, «princípio da criação», é uma gênesis; narra a criação do mundo, dos sêres divinos e dos homens, o conflito entre as criaturas de Ahura Mazda e as de Ahaiman, dissertações sobre a natureza de várias criaturas e das nações, relativas à escatologia, geografia e história mística do Iran. A época de sua composição é posterior aos Sassânidas, mas o conteúdo é precioso e foi tirado dos textos mais antigos que estão em grande parte agora perdidos.
    Mainyô-i-Khard, ou Maionôg-i-Khirat, ou ainda MênôKhard («a sabedoria divina») ou («espírito de sabedoria»), contém a resposta deste espírito a 62 perguntas sobre a religião, propostas por um sábio. É da época dos Sassânidas.
    Arâ-Uirâf-Nâmâk (livro de Ardâ, filho de Virâf), chamado a «Divina Comédia» dos zoroastrianos. Narra a descida do sacerdote Ardâ durante a visão pelo espaço de sete dias e sete noites, nas regiões além túmulo, e descreve as penas reservadas aos maus e a recompensa preparada para os bons. Pertence à época dos Sassânidas.
    Entre as obras escritas em persa, de que se podem tirar informações proveitosas, convém citar o Shâh Namâh, «livro dos Reis», poema de Firdusi, fim do século X da nossa era, que conta os mitos e as lendas do povo irânico, e de tal forma que projeta luz sobre os nomes e fatos contidos, especialmente nos hinos do Pequeno Avesta. Outras fontes apreciáveis para o estudo da religião de Zoroastro, são encontradas nos escritores gregos e latinos.


    A LÍNGUA DO AVESTA


    O Zenda é a língua dos livros sagrados persas.
    No Irã, como é natural, não se falou sempre a mesma língua. Muitas línguas, embora todas irânicas, houve, faladas e escritas.
    Da língua do Avesta não se conhece bem nem o nome, nem a pátria. Há quem pense que a língua do Avesta fosse o velho bactriano, mais provavelmente o antigo meda.
    Os Vedas e o Avesta tinham, em sua origem, uma língua comum.

    O Prof. Oldenberg afirmou, no seu livro «A Religião Vêdica», que a língua dos velhos hinos védicos se aproxima das partes do Avesta, mais do que aquêles do Mahâbhârata. Daí a expressão de Mills: «Veda é Avesta e Avesta é Veda.'^'
    Várias opiniões surgem quanto à afinidade entre o avéstico e o agfan moderno, a língua dos assete (cáucaso), margiana e sogdiana.
    Foi chamada na Inglaterra e na França, impropriamente zend, denominação erronea porque a palavra não designa uma língua, enquanto que na Alemanha e em outros lugares preferem chamá-la avéstica, nome do livro em que foi escrita.
    Não há dúvida que essa língua pertença à parte do norte do Irã, enquanto que a parte sul pertence a língua das inscrições de Ciro, Dario e Xerxes, que é o persa antigo, estreitamente afim ao sânscrito da Índia antiga e muito mas afim ainda à língua avéstica ou irmã, não porém a mesma como alguns erroneamente pensavam.
    A êste mesmo ramo meridional pertence também a língua pehlvica ou «língua dos Parthes», para a qual foi traduzido o Avesta no tempo dos Sassânidas, e que é a língua de todo o medoevo irânico, desde o III ou VII e VIII séculos da era cristã. É uma língua muito singular porque usa palavras de origem aramaica ou siríaca, que o leitor deve ler com os correspondentes irânicos. A outra língua chamada comumente pársi ou parzend parece ser a mesma pehlvica, vazia de palavras estrangeiras. O neopersiano, que vai do ano 1.000 até os nossos dias, em conseqüência da conquista dos persas pelos árabes, é misto de termos árabes.
    As Gâthâs, que constituem a parte mais arcaica, o núcleo primitivo do Avesta e encarnam o pensamento genuíno de Zoroastro, são compostas em uma língua ou dialeto afim, mas não se lhe conhece a pátria.
    A língua é arcaica tanto na fonética como na formação das palavras e da sintaxe, ela contém formas e palavras que desapareceram do zend vulgar e não se encontram mais, senão na língua védica. Dado o fato de que algumas partes do Avesta são também de época relativamente recente, nada impede de supor-se que, cessado o uso da língua avéstica em uma época que sabemos determinar, fosse utilizada, como língua douta ou língua sagrada pela casta dos magos da Média, do mesmo modo como a língua latina e a sânscrita foram utilizadas pelos sábios e sacerdotes quando já há muito não eram mais faladas.
    As Gâthâs, com sua forma tão concisa e abstrata, oferecem no campo da interpretação, um dos mais árduos problemas de filologia irânica, senão o mais difícil de toda a filologia, diz Messina.
    O AVESTA E A BÍBLIA
    Darmesteter na sua obra clássica, apresenta analogias ou semelhanças entre o Avesta e a Bíblia:(1)
    1. O Avesta tem 21 Nask (livros, partes, capítulos) em três séries: Dâta ou Lei, Gâthâ ou Metafísica, Hadhamâthra ou assuntos mistos, isto é, a classificação do Antigo Testamento. As Dâta correspondem à Thora, a Lei; as Gâthâs aos Nebiim ou Profetas; as HadhaMâtra aos Ketubin ou Escritos diversos.
    2. O Pentateuco e o Avesta são os dois únicos livros religiosos conhecidos em que a legislação vem do céu, numa série de relações entre o legislador e o seu deus: «Jeová diz a Moisés» -- «Ahura Mazda diz a Spitama Zarathustra». Um e outro livro tem por objeto a história da criação e da humanidade, e na humanidade a raça superior, e nessa raça a religião verdadeira. Ambos êsses livros têm por objeto revelar aos fiéis todas as regras da vida. Eis algumas concordâncias que mostram esta unidade de planos:
    I - Criação do mundo: 1) Jeová criou o mundo em seis dias; criou sucessivamente a luz, o céu, o mar, a terra e as plantas, os luminares do céu, os animais e o homem. 2) Ahura Mazda criou o mundo em seis períodos: criou sucessivamente o céu, a água, a terra, os luminares do céu, os animais, as plantas, o homem.
    II - Criação do homem: 1) A humanidade no Gênesis, descende toda de um só casal, homem e mulher, Adão e Eva. A palavra Adão, significa homem. 2) A humanidade no Avesta descende toda de um só casal, homem e mulher, Mashya e Masliyâna. O termo Mashya significa homem. O pecado começou na terra com o primeiro homem, com Adão no Gênesis, com Mashya no Avesta.
    III - O dilúvio: 1) Jeová destruiu a humanidade pecadora, mas salvou Noé com sua família e casais de animais, protegendo-os dentro da arca que o Senhor mandara construir. 2) Ahura, por intermédio do rei Yima, salvou um casal de animais, de plantas e espécimes mais belos dos homens, do grande cataclisma.

    IV - Divisão da terra: 1) Noé teve três filhos, Sen, Can e Jafet, ancestrais de três raças que dividiriam o mundo entre si. Thraêtaona, sucessor e vingador de Yima Khshâeta, teve três filhos: Airya, Sairiina e Tura, entre os quais se divide o mundo. Airya recebe o Iran, centro da terra, Sairiina recebe o Ocidente e Tura recebe o Oriente.
    V - A revelação: 1) Zoroastro fala com Ahura, na montanha das santas revelações, como Moisés fala com Jeová no Monte Sinai. Moisés não foi o primeiro a receber os favores divinos. Um primeiro pacto tinha sido feito com Noé. Assim Zoroastro não recebeu a revelação senão na modesta recusa do Noé iraniano, Yina Khashaêta. Moisés tinha sido precedido e anunciado por três patriarcas, Abrão, Isac e Jacó. Assim o aparecimento de Zoroastro foi precedido e anunciado pelo aparecimento de três precursores no culto: Vîvanhâo, o irmão de Yina, Athroya pai de Thraêtaoha, Thrita, pai de Urvâkhshaya e de Keresâspa.
    No Êxodo se diz que o Deus de Israel se charnava Yahveh, que quer dizer o Ser, isto é, o Ser Supremo, o Ser por excelência, o único Ser. No Avesta o nome de Deus supremo - Ahura, significa Ser.
    O monoteísmo entre os dois livros é tal, que revela um encontro insofismável. Há quem afirme que Zarathustra «patriarca» dos iranianos, encontrou-se com Abrão, patriarca tios hebreus, em Haran, estando Haran a etapa no caminho de Ur para a Palestina (Geri. 11:31-32) precisamente A (i) vyana vaega do Avesta.
    Muito se tem escrito, mostrando as relações entre Zoroastro e os profetas do Velho Testamento. Uns o fazem discípulo de Jeremias, outros o identificam com Ezequiel, com Baruque, com Elias, etc. Também tem-se procurado mostrar o encontro entre o cristianismo e a doutrina do Avesta. A pergunta surge naturalmente: qual dos dois livros ou religião foi a originária? Foi, em outras palavras, o Avesta quem tirou êsses fatos da Bíblia ou a Bíblia do Avesta? As correntes são várias e o problema é árduo.
    No pensar de Darmetester a Bíblia é a fonte originária. Se há semelhança, há também profundas diferenças.
    O messianismo, mais naturalmente, ter-se-ia transmitido dos hebreus para os iranianos e o dualismo talvez mais naturalmente, passou dos iranianos aos hebreus.(2)
    O campo está aberto e as pesquisas poderão trazer novas luzes sobre o assunto.

    (2) MilIs L., Avesta saggi di Le.


    A RELIGIÃO DOS PERSAS OU IRANIANOS
    A religião dos persas e mais genericamente iranianos, tem vários nomes, conforme o ponto de vista sob o qual é considerada.
    1) O próprio Avesta a chama «religião ahuriânica», do nome Ahura Mazda; 2) chama-se mazdeismo, do nome do seu deus supremo Ahura Mazda, de quem os outros deuses são apenas as criaturas e os servos gloriosos; 3) avestaismo, do seu cânon litúrgico ou nome do seu livro sagrado o Avesta; 4) magismo do nome tão respeitado dos seus grandes sacerdotes ou sacerdócio; 5) parsismo, do nome dos seus adoradores atuais, os quais são todos senão de nacionalidade, pelos menos de origem persa, chamados pársis e que ainda hoje o praticam na Índia, fugindo da invasão política religiosa dos Árabes; 6) zoroastrinismo do seu célebre fundador Zarathustra; 7) dualismo, dadas certas particularidades da doutrina dualista.
    Os persas são também impropriamente chamados os adoradores do fogo. O parsismo é também chamado «religião do fogo».


    MONOTEISMO E DUALISMO NO AVESTA
    A religião primitiva das estirpes irânicas devia ter sido um culto naturalístico, politeístico, afim ao védico, trazido consigo das estirpes desde a sede originária comum, até tornarem-se estirpes indo-européias.
    Veio de fora uma doutrina da parte de um legislador ou profeta Zarathustra, diametralmente oposta, doutrina monoteísta, que encontrou como era natural, obstáculos sérios e forte oposição, conforme queixa-se o próprio Zoroastro.
    De Zoroastro são as Gâthâs, que anunciam uma doutrina elevada, pura, monoteísta.
    As outras partes do Avesta foram em primeiro lugar obras dos seus discípulos. Depois, no correr dos séculos, seus seguidores converteram em dualista a doutrina monoteísta do profeta, adaptando-a aos conceitos religiosos naturalísticos com o grosso da nação.
    É bom notar que só as Gâthâs, que encerram o pensamento genuino de Zoroastro, contém a doutrina monoteísta, compreendendo também passos que mostram admitir a doutrina dualista. Imagina-se que Zoroastro considerando que no indivíduo são inatas duas inclinações diversas, opostas entre si, uma voltada para o bem e outra para o mal, e que uma e outra são consideradas e tratadas como dois espíritos diversos, contrários entre si, dos quais procedem as ações do homem: as boas procedem do bom espírito -- Ahura Mazda, as más do mau espírito -- Anra Mainyu.
    Do conceito dêsses dois espíritos surgiu o dualismo: o princípio do bem e o princípio do mal. O mundo interior do indivíduo foi transportado para o mundo exterior.
    A reforma de Zoroastro foi a reforma da religião precedente. Foi uma doutrina nova que constituiu sobre um fundo antigo. Novo foi o espírito, novo em parte também o conteúdo, mas por outro lado antigo, transmitido de tempos imemoriais. Zoroastro mesmo compreende sua obra como um aperfeiçoador. . . Há uma certa semelhança com a obra de Jesus, que não veio destruir, mas cumprir, espiritualizar, reformar, Mateus 5:17. A idéia central da reforma foi o monoteismo. O dualismo não é a negação do monoteísmo. É o mesmo monoteísmo em dois aspectos opostos e contrários.


    TEOLOGIA DO AVESTA
    A teologia avéstica estabelece e reconhece duas hierarquias inimigas: uma celeste, tendo a frente Ahura Mazda; outra infernal, possuindo como chefe Anra Mainyu.
    A primeira compõe-se de sete Amesha Spenta ou Imsaspandi, isto é, dos sete santos imortais, e entre êles está compreendido, por sua vez, o próprio Ahura Mazda e uma infinita plêiade de gênios, designados no Avesta com o nome de Yazata, que significa os veneráveis.
    A segunda compõe-se de Anra Mainyu mesmo, e de infinitos sêres maus e essencialmente réus, de demônios, que se chamam Daêvi ou Devi, inimigos de todo o bem, prontos sempre a contaminá-lo.
    Nesta altura convém observar que quando se compara o sistema do mazdeismo com as religiões da india, nota-se que a palavra dêva que significa «deus» em sânscrito e são divindades boas, protetoras dos homens, significa em zend «demônio», daêva. Por outro lado a palavra asura, que significa «demônio» em sânscrito, é no avesta o nome supremo da divindade - Ahura Mazda.

    AHURA MAZDA E AS OUTRAS DIVINDADES


    Vejamos agora algo a respeito de Ahura Mazda e das outras divindades.
    Ahura Mazda é composto de Ahura «o Senhor», é um derivado de ahu, «o senhor»; Ahura tem valor genérico de «ser divino». Tem o mesmo sentido de Jeová. A outra parte é Mazdâo, Mazda ou ainda Mazdâh, «o grande sábio». Ahuramazda é fixado em um composto, significando a primeira parte «senhor» e a segunda «sábio»; daí sábio Senhor.
    Nas Gâthâs o nome do deus supremo flutua entre Ahura, Mazda, Ahura Mazda e Mazda Ahura. Só mais tarde a denominação fixou-se em um composto Ahuramazda, grego Hôromazês.
    Ahura Mazda o nome do Deus supremo, é pois «o Senhor, o grande sábio», em pehlvi Ahuramazd, em persa Ormazd ou Ormuzd.
    Ele trás além disso doze novos nomes sagrados e vinte e dois nomes acessórios.(1)
    No trecho que vamos citar do Yasna, encontramos os atributos de Ahura Mazda, o Deus Supremo. Ele é o «Criador», Ahura Mazda, resplandecente e glorioso, o maior, o melhor, o mais belo (dos sêres), o mais constante (firme) o mais sábio, o mais perfeito na forma, supremo na justiça (santidade), sábio em fazer, que dá alegria a seu bel prazer, que nos criou, nos formou, nos sustenta, ele é o espírito mais benéfico.
    Ahura Mazda é «o Senhor onisciente, o espírito mais benéfico, o criador do mundo material, o Justo». Êle é «il Dio che

    (1) Hume R. E., Las religiones vivas, 1931, pág. 13.vede tutto, ricorda tutto, é omnisciente, omnipotente, supremo, sovrano, buono, benefico, misericordioso. Egli é il creatore dei dieci Amesha Spenta, de-li Yazata, dei Paradiso, della Volta de cielo, dei sole ardente, dèlIa vita, dei vento, dell'aria, dei fuoco, dell'acqua, della terra, delle piante, degli animali, dei metali e dell'uome» (Carnoy-Storia delle Religioni, V. li, pág. 46 Firenze, 1914). (1) Hume R. E., Las religiones vivas, 1931, pág. 13.


    Eis outro trecho que revela as suas qualidades: «Protetor eu sou», diz Ahura Mazda, criador eu sou, conhecedor e espírito santíssimo eu sou» (Yast I, Ormazd Yasta, 12), «Eu me charno aquêle que muito vê, eu me chamo aquêle que melhor vê longe, eu me chamo aquêle que conhece, eu me chamo aquêle que melhor conhece» (Yast I, 12-13); eu me chamo aquêle que não engana, eu me chamo aquêle que é isento do engano» (Yast I, 14). O venerável Ahura Mazda, diz Zarathustra, «eu me volvo a ti como verdadeira palavra te peço, responde-me tu que sabes, infalível tu és, dotado de infalível inteligência, infalível onisciência» (Yast 12:1); «não é possível iludir Ahura, que observa tudo (Yasna 45,4). Seus atributos são os mais elevados e puros e têm muita analogia com os atributos do Ser Supremo da Bíblia.
    Os santos imortais (Amesha Spenta, sendo «spenta» (bom, beneficente), depois de Ahura Mazda são Vohumanah, que se assemelha a idéia do LOGOS THEIOS DE Filão e do LOGOS de Platão, que Plutarco chama THEOS EUNOIAS, isto é, o bom Pensamento, a boa Intenção; Asa-Vahista Theo aletheias, isto é, a melhor Retidão; Ksathra vairya, theós eunomías, isto é, o mais eleito govêrno; Spenta-Armaiti, Theós sofias, a Santa Piedade, que é o Gênio feminino da terra; Hanrvata Ploútos a integridade e finalmente Ameredat, a Imortalidade.
    Estes santos imortais são como anjos ou arcanjos, ministros de Ahura Mazda, que executam as suas ordens.
    Multidão de espíritos santos, porém de dignidade menor, são os Yazata ou «gênios», que ocupam toda a criação espiritual e corporal. Diógenes Laércio diz, segundo julgam os persas, que todo ar está repleto dêles. Porém os principais dêsses santos são somente vinte e quatro. O seu ofício é executar, como anjos, as ordens de Ahura Mazda; favorecer, proteger os homens bons, defender todas as criaturas contra os assaltos de Anra Mainyu e dos seus demônios. Dividem-se em espirituais e em corporais ou terrenos, porém o senhor de todos é sempre Ahura Mazda.
    Segundo, porém, a sua natureza podem ser classificados também de outra maneira. Alguns deles procedem da antiga e primitiva religião naturalística, são mesmo os antigos e primitivos deuses da nação. Outros são os resultados da especulação sacerdotal e teológica e são portanto personificações de conceitos abstratos, como também os santos imortais. À primeira fila pertencem o Fogo, as Águas, o Sol, a Luz, a Estréla Sírio, aos quais a especulação posterior, para cancelar o caráter místico, acrescentou para cada deus um Gênio custódio.
    Pertencem a outra ordem, entre outros, Sraosa, que é o Gênio da obediência, Daena, o gênio da religião, Verethraghana, o genio da vitória, Rasmu, o gênio da justiça, e as Fravasi, cujo ofício é comparado ao «anjo da guarda».
    1. Fogo é o primeiro dos Gênios bons. É tanto elevado e santo na consciência dos iranianos, que se afirma serem chamados impropriamente, «os adoradores do fogo». Eles ao contrário, o consideram como o melhor símbolo de Ahura Mazda, filho dêle, dígno de louvor e veneração. Tinham o cuidado de mantê-lo sempre aceso. Havia o culto do fogo, o altar do fogo e o parsismo é também chamado vulgarmente «religião do fogo».
    As manifestações do Fogo são cinco, como filho de Ahura Mazda: aquêle que é oculto no seio da terra, o calor do corpo humano, aquêle que é oculto nas madeiras e em toda a matéria combustível, o relâmpago e o raio e finalmente a luz que envolve Ahura Mazda e todas as criaturas celestes. Outra epifania ou manifestação divina do Fogo é o nimbo ou auréola luminosa que circunda a cabeça dos monarcas iranianos dos tempos heróicos dos sacerdotes zoroastrianos, semelhantes à auréola dos santos da igreja Católica. O nimbo é o sinal visível da dignidade real ou majestade real.
    II. As Águas são todas personificadas na deusa Ardvi Sura Anahita. Sua morada é no cimo do monte Hukairya e envia as águas a regar e fecundar as regiões do mundo. É também fecundadora dos sêres vivos e às mulheres que a invocam, concede um parto feliz. À par com ela há outra divindade das Águas, divindade masculina, que o Avesta chama Aparnnapat, e descendente ou o filho das Águas. É um deus misterioso. Habita no místico lago Vourukasa, em cujas águas ele protege e guarda a régia majestade, que é a auréola luminosa que cinge a fronte dos monarcas do tempo antigo. III. O Sol é figurado no Avesta como quem guia por regiões celestes velozes cavalos, que purifica o ar, a terra, as águas, quando de manhã reponta luminoso no Oriente. É qualificado de esplêndido, de imortal e é também chamado o «olho de Ahura Mazda».

    Associado a ele está Mithra, o deus da luz que alegra os céus e a terra. Como antiga divindade naturalística, ele é o Gênio salutar do tempo que vai do despontar do sol ao meio dia. Diante do sol, o que mais tarde foi identificado, aponta Mithra a manhã do mítico monte Hara-berezaiti que fica nos confins da terra, que é onde mora, onde não há nem trevas, nem noites, onde não sopra vento algum, nem quente, nem frígido. É onisciente e nada no céu e na terra passa despercebido dele. Os crisântemos, de vívida côr roxa, lhe eram consagrados.
    Mithra é considerado como guardador dos pactos, dos contratos, pois Mithra significa «contrato», que os mortais conhecem entre si, fiador da justiça e da confiança reciproca e pune os transgressores. Os persas juravam em seu nome. Duas divindades estão ao seu lado: Rasmu e Sraosa, as duas personificações da justiça e da obediência. Criado por Ahura Mazda, foi feito à sua imagem e eleito por ele foi proclamado seu primeiro sacerdote. Ela tem «mil orelhas e dez mil olhos».
    IV. A Luz é adorada e invocada a par do sol. A Lua contém em si, em custódia, os germes do gado, doadora também à terra, de luz e de águas que fecundam.
    V. Os outros corpos celestes, segundo o Avesta, são todos dispostos ao redor de Sírio, que é o condutor. É considerado como o astro benéfico, chamado também magestoso, o reluzente, que dá as águas à terra e a fecunda.
    VI. Sraosa é personificação da obediência a Ahura Mazda e à sua lei. O Avesta lhe dá muitos atributos, mas o mais singular é que ele é chamado a pessoa mesma da palavra divina.
    Foi o primeiro a ensinar a lei divina. Protege e alimenta os pobres, guarda o mundo e acompanha Mithra pelos espaços celestes. Tôdas as manhãs, ao romper da aurora, desperta o galo para que com o seu canto expulse dos vivos que dormem o demônio do sono.
    VII. Plêiade de sêres divinos muito interessante é chamada Fravasi. Cada indivíduo tem a Fravasi como o anjo da guarda, já criada desde o princípio por Ahura Mazda e residente no céu desde o princípio, sendo enviada depois à terra, ao lado da alma do indivíduo, quando ele nasce ou é concebido. Protegem e defendem as crianças no ventre das mães, contra as insídias do demônio Asto-vidotus. Combatem constantemente contra as ondas do mal. Presidem entre os homens a divisão dos bens terrenos.
    VIII. Verethraghna, o gênio da vitória, que o Avesta diz ter sido criado por Ahura Mazda, invocado pelos guerreiros para conseguirem a vitória.
    IX. O Haoma, haoma, hom «amarelo», (2) antiga divindade indo-irânica, é o gênero da planta que os botânicos chamam as asclépias ácida, ou então, Cynanchum vininale. Esta erva cresce nos campos Chilan, próximo de Yezd, no Mazenderan e produz flores amarelas. Das suas hastes, prepara-se, com água, uma bebida de sabor acre que o sacerdote vai bebendo enquanto recita as sagradas orações. É esta a oferta sacrificial e o uso remonta aos tempos védicos, pois, no Rig-Veda e em toda a literatura litúrgica dos Vedas, é feita frequentemente menção da bebida, chamada a soma (que é o haona irânico). Até aqui o Haoma é a bebida sacrificial.
    Mas há também o branco Haoma, chamado Gaokerkna, que cresce no meio do mítico lago Vourukasa, em um lugar mis- terioso, protegido por um infinito número dos Fravasi e pelo peixe Kharmahi que afasta os animais nocivos. É há também o Haoma divino, o gênio da própria planta, ao qual o Avesta tributa muita honra. O Haoma, o gênio da própria planta, faz prosperar todos os seres terrenos, afasta a morte dos vivos e a quem aplica, concede saúde, prosperidade, abundância de bens, etc. (2) Elaide, Storia della Religioni, pág. 301.



    ANRA MAINYU E OUTROS SÊRES MALIGNOS
    Os sêres do mal são em número infinito e em ordem hierárquica, como os do bem. Há três ordens. Ã primeira delas pertence Anra Mainyu; a segunda é constituída dos Daêvi e a terceira pelos outros sêres diabólicos e infernais.
    Anra Mainyu «espírito Malígno», literalmente o «espírito destruidor», conhecido também por Ahrarman ou Ahriman. Sobre Je se acumulam todos os atributos do mal. Foi ele que pôs o veneno nas plantas e infligiu à humanidade nada menos de 4.333 espécies de enfermidades. Tem-se procurado demonstrar o seu contacto com o ser maligno de outras religiões, porém não é tarefa fácil e é assim que se relaciona com o mítico Ahir do Rigveda e talvez com o Satanás dos Hebreus.
    Os Devas, com outros sêres malígnos, formam a tenebrosa milícia de Anra Mainyu. Quando êste em um primeiro assalto contra Ahura Mazda foi derrotado, em contraposição aos sete mortais, criou sete Devi maiores do que os outros. Sete arquidevas contra os sete arcanjos. São êles: Ako-manah, Sauru Naonhaithya, Taurvi, Zairica e o sétimo é o mesmo Anra Mainyu, como o sétimo dos Santos é o próprio Ahura Mazda.
    Há porém muitos outros sêres, conforme se lê no Yasna, IX. 46, que andavam sobre a terra com aspecto humano. Outro devaé Asmadeo. É o demônio malvado da ira, como indica o seu nome, da rebelião, fúria, raiva, discórdia. Seu adversário é Sraosa que o vencerá na última batalha no fim do mundo.
    Araska é o demânio da igreja. Zaurva, o demônio da velhice, Azi o da avidez e da cobiça.
    O demônio do sono Busyasta, que tem as mãos compridas com as quais fecha os olhos dos mortais. Êle foge de manhã quando o galo canta. Outro Deva é Vizareza, a qual durante três noites e três dias gira em torno do cadáver do extinto, examina a alma e ao ver que ela é pecaminosa a leva ao inferno.
    Astovidatus é o demônio que separa (arranca) a alma do corpo. (Drug) engano, fraude, mentira. São sêres femininos que difundem o mal o mais que podem. Uma das principais delas é chamada Nasu, o demônio da morte, isto é, da contaminação que sai de todo o cadáver, apenas tenha exalado o último suspiro e que se apega a todos quantos tocam tal cadáver.
    A Drugia Azi-Dahaka (significando Dahaka a serpente que morde), parece ser a pior que Anra Mainyu haja criado. O Avesta a descreve com três cabeças, com três faces, com seis olhos.
    Há portanto, um eterno combate entre o bem e o mal na esfera moral, a eterna luta cósmica na ordem natural. Nessa batalha, com a vitória do bem, o mal é destruido e desaparece.
    Começou a grande guerra desde o princípio do mundo ou das coisas, quando segundo o conceito zoroastriano, o tempo era ainda infinito. A guerra entre os dois poderes superiores foi fixada num período de 12.000 anos e êsses anos designam também a duração do mundo presente. O período de 12.000 anos foi subdividido por sua vez em quatro períodos de 3.000 anos cada um, de tal modo que no curso deles será compreendida toda a história do mundo, toda a ação do grande drama cósmico, desde * princípio da criação até a ressurreição dos mortos.
    O quarto e último período dos 3.000 anos se inicia com a vida do grande reformador. Êste é o período em que atualmente está o mundo e que acabará com a ressurreição dos mortos.
    Se Zoroastro viveu no século VI a.C., dos 3.000 anos, dêste último período, faltam mais ou menos 500 anos.
    No fim do período dêste 3.000 anos, Anra Mainyu será aniquilado da morte, que é obra de Anra Mainyu, deverá ser restituido a êles, não podendo nunca anular um dom divino.

    O SALVADOR E A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS
    Esta batalha final e a ressurreição dos mortos estão ligadas à vinda de um tardo e póstumo filho de Zoroastro, que o Avesta denomina Saozyant, isto é, Salvador ou Reparador. Nascerá ele da jovem Eredatdedri, a qual, banhando-se em mítico lago que fica no extremo Oriente, onde está guardada a pura semente de Zarathustra, será fecundada e o dará à luz no fim dos séculos. Do oriente virá o Saisyant, coroado com doze estrêlas e o acompanharão, armados com suas armas reluzentes, os heróis da antiguidade, ressuscitados dos seus túmulos.
    Esta renovação do mundo da parte do Salvador e a ressurreição, requerem o espaço de cinqüenta e sete anos. Primeiramente será ressuscitado Gayômart, o primeiro homem depois Mâshya e Mâshyoi, o primeiro casal, finalmente todos os outros homens, quer justos, quer mentirosos. Todos os justos e maus ressuscitarão onde morreram. Seus ossos serão restituidos da terra, o seu sangue da água, os seus cabelos das plantas e sua vida ao fogo aos quais foram entregues, de modo que o corpo possa reconstruir-se com os mesmos materiais de antes.
    A doutrina cristã é igual a esta como se vê. Todos se reunirão sobre a face da terra e cada um verá suas próprias ações boas ou más. Nesse meio de tempo o cometa Gurz-sehr, caindo do céu, incendiará toda a terra e serão liquefeitos todos os metais e as rochas. Pela torrente de fogo passarão os homens que ressuscitaram do túmulo e daí os réus experimentarão penas terríveis, enquanto que os bons e os justos terão a impressão de terem sido emergidos numa corrente de leite tépido. Aquela corrente lavará as culpas cometidas e sairão purificados para sempre. Superada a prova, cada um reconhecerá com júbilo as pessoas que amou em vida e o esposo será reconduzido à espôsa, . espôsa, o filho ao pai, o irmão ao irmão, o amigo ao amigo, e nada mais os separará. Todos falarão uma só língua e louvarão em voz alta Ahura Mazda e os arcanjos. «Multae terricalis linguae, celestibus una».

    Daí Shaoshyant sacrificará o boi Nadhayos e com a sua gordura misturada com o Haoma branco será preparada a ambrósia (hush) que será oferecida a todos os homens como alimento da imortalidade. Os adultos, homens e mulheres, serão restaurados à idade de quarenta anos, e as crianças à idade de quinze anos. Cada homem terá a sua própria mulher e reconhecerá a própria progênie; a vida será semelhante a deste mundo, mas não haverá mais geração.
    Travar-se-á a última batalha, entre as milícias celestes e as infernais, em que Anra Mainyu perecerá com todos os seus sequases. O inferno será tirado ou purificado, os montes serão aplainados e o mundo será ampliado para dar lugar ao princípio de uma vida nova, toda íntegra e pura eternamente.
    Não haverá penas eternas porque então o mal seria eterno, o que é contra o princípio do Avesta ou do Mazdeismo. Do dualismo não ficará traços. A idéia de que o mundo presente deve perecer nas chamas, o zoroastrismo a possui em comum com o cristianismo, com o Brahamanismo e com a antiga religião teutônica.


    A VIDA MORAL E RELIGIOSA
    Porém até que as coisas cheguem ao termo que descrevemos, o homem, na terra, durante toda a sua vida, deve facilitar e auxiliar com boas obras e vitória final de Ahura Mazda, sendo assim grato ao seu senhor e criador.
    Desde o nascimento até a morte, até os funerais, as obras dos pais dele em primeiro lugar, quando ainda é criança e nada conhece do bem e do mal, e depois as suas, após a adolescência devem cooperar e aspirar êste grande fim.
    Nascida a criança é lavada. No princípio a tradição atribuiu a êste banho higiênico, um sentido religioso. Os pais que não cumprem tal cerimônia terão de prestar contas um dia. Até a adolescência os pais são responsáveis pelos atos dos filhos. A criança do sexo masculino deve passar junto das donas de casa os cinco primeiros anos e somente entreter-se em coisas da sua idade. De cinco a dezessete anos ingressava no número dos jovens, quando lhe era imposto um cinto aos flancos, segundo as cerimonias prescritas no Avesta. Este cinto sagrado, que ele não devia tirar a não ser para dormir, indicava que tinha entrado para a comunidade dos zoroastrianos, fazendo parte dela e assumindo os deveres impostos pela religião.
    Em um passo do Avesta (Vendidâd IV, 130), se diz que o homem que tem uma esposa e, no sentido moral, superior ao homem que vive celibatário e que o chefe de uma família é igualmente superior àquele que a não tem. Fazer abortar uma criança é crime.
    A aspiração da moça era o matrimônio. Havia oração para lhe proporcionar um espôso. Aos 15 anos, podiam as moças se casar. É obra meritória segundo Avesta, que o casamento se efetue entre os parentes mais próximos (Yasna, XIII, 28).
    Nesta altura referimo-nos à oração Ahuna Vairya, que é a oração mais santa, santíssima, entre todas as orações. É a oração mística por excelência, é um talismã. É tal o seu valor que é chamada O Pai Nosso» do zoroastrianismo. Atribui-se a ela um poder muito grande. Ahuna Vairya: Ratus ashã ât hacâ vanheush dazdâ manhnhô shyaothenanâm anheus Mazdâi khshathremcâ Ahurâi â yim dadat vâstârem. O desejo do Senhor é a regra do bem. Os bens de Vohu Manô as obras feitas neste mundo por Mazda! Êle fêz reinar Ahura, aquêle que socorre o pobre».
    Zoroastro a pronunciou pela primeira vez; porém, não é conhecida a sua origem; é a palavra eterna de Ahuraniazda (Yasna, 19); é a espada mais forte com que o anjo Serosh vence os Devas; é a mais poderosa de todas as fórmulas sagradas (Yasna, 57,22), que serve para afugentar os demônios (Vend. 19,2). No vendîdâd determinam-se alguns casos em que se deve recitar esta oração; em alguns dêles, quatro vêzes, como (Vend. 10, 11, 11, 11, 18, 43) ou três ou mais até nove (Vend. 17, 6, 11, 3, 8). O maior número de vêzes deve recitar-se quando uma casa se contaminou pela presença-de um cadáver; a pessoa que o tocou deve recitá-la duzentas vêzes (Vend. 19, 22). Longas e minuciosas são as cerimônias fúnebres e tem por fim evitar que o cadáver contamine algum ser vivo, o ar, a água, o fogo, a terra. O cemitério é aberto e os cadáveres entregues às aves e aos cães que são considerados entes sagrados e de alta valia; os mais úteis aos homens possuindo alguma virtude oculta.
    É opinião entre os pársis modernos, como o foi entre os antigos, que morto o homem tomam posse do seu corpo os Devas ou demônios.
    O Avesta tem poucos dogmas mas inculca nos fiéis preceitos elevados: admite a vida futura, promete a vida no fim do mundo, quando surgirão os mortos, de um Salvador; dá recompensa aos bons e castigo aos maus, que não poderá ser eterno, porque o mal virá a desaparecer, inculca uma moral elevadíssima.
    O mesmo tríplice preceito de não pecar jamais por pensamentos, por obras, por palavras, (tal moral mazdeista está prêsa às três palavras, bom pensamento (coisa bem pensada), boas palavras (as coisas bem ditas), boa ação (coisas bem feitas), que se encontra também entre os preconceitos do cristianismo, reune e compreende na sua rigidez, todo e qualquer outro preceito que tenha por fim guiar o homem na terra. As maiores virtudes recomendadas eram a justiça, a beneficência, a generosidade, a piedade. A pureza também ocupa um lugar de destaque nestas palavras de Ahura Mazda: «Lá pureti est, aprés Ia naíssance, lê premier bien pour 1'homme» (Darmesteter-Zenda vest). Os persas tinham horror à mentira. É dever do indivíduo dizer sempre a verdade a todos, também aos inimigos. Dario, na sua grande inscrição de Behistún recomenda ao seu sucessor dizer sempre a verdade e punir o mentiroso: Liv Darius lê roi dèclare: O toi qui serás roí aprês moi ... punisle severement, et, si tu rignes ainsi mon pays será puissant».(1)
    Entre os trabalhos, o mais santo, o mais útil, é o da agricultura, ensinada pelo próprio Ahura Mazda ao primeiro rei Yisna e de Yisna propagado como exemplo entre os primeiros mortais. Cortar uma árvore era considerado pecado. Porém o que semeia o grão, semeia o bem.


    (1) J. Mènant, Les Acliménides et les inscriptions de Ia Perse», Paris, 1872, pág. 120.
    42
    O CÉU, O ESTADO INTERMEDIÁRIO E O INFERNO


    Segundo um passo do Avesta, a alma, apenas separada do corpo, por três dias e durante três noites, gira em torno do corpo. Dada a consciência do bem e do mal que haja praticado, experimenta gozo ou dor. Mas depois, ao alvorecer do quarto dia, emigra longe desta terra e daí, se é boa e eleita, sente como que a fragância de brisa perfumada e, se é ré, sente como que o fedor do vento fétido. À alma boa, sai-lhe ao encontro para recebê-la, uma graciosa jovem e à má, uma mulher de forma horripilante. Depois ei-la à ponte que conduz aos lugares eternos, onde esperam três juízes severos, Mithra, Sraosa e Rasnu. Esta ponte é chamada no Avesta a ponte que reune (civant-perethu) e para almas boas se mostra cômoda e espaçosa, mas às almas más aparece tão árdua e apertada ou estreita, como o fio de uma navalha e que precipita aos precipícios infernais. As almas boas ao contrário agilmente atravessam para subirem aos céus.
    O Paraíso que se designa com vários nomes, ora de luz infinita, alegre morada, ora morada dos pios pensamentos, ora de lugar alegre, é disposto em ordem de sentido racionalmente moral porque antes de chegar ao império onde está o trono de Ahura Mazda, encontram-se três lugares respectivamente colocado nas estrêlas, na luz e no sol. No primeiro são premiadas as almas que sempre retamente pensaram; no segundo aquêles que sempre retamente falaram; no último aquêles que sempre retamente praticaram o bem. Jesus usou o termo «paraíso».(1)
    Igualmente em três graus é disposto o Inferno, chamado lugar pecaminoso e triste, morada dos demônios de Anra Mainyu. Fica como sede dos demônios no fundo do frio e tenebroso setentrião. No primeiro grau estão apenas as almas que tiveram sempre pensamentos maus; no segundo aquelas que sempre tiveram palavras más; no terceiro aquelas que sempre cometeram obras más. Lá existem trevas infinitas, tão densas a ponto de se apertá-las com as mãos. Há nele toda a espécie de mal. Porém o pior dele consiste, no fato de cada alma, com o senso de desesperada desolação sentir-se só e abandonada no meio de tantas outras miseráveis, em número denso e infinito. (1) Nells, Avesta, pág. 43.
    O inferno é chamado o «mundo da mentira».
    Há outro lugar, estado intermediário, em que estarão sem premio e sem penas todas aquelas almas cujas boas obras foram equivalentes às más. Este lugar é localizado entre a terra e a esfera das estrêlas; é chamado o Hamêstegân, isto é, o Imóvel. Nele não se purifica ou expia pecado algum, não se goza, não se sofre. Como foi dito, este lugar e o inferno cessarão, serão purificados quando Ahura Mazda, na última batalha vencer o mal, implantando o bem.
    Um livro tradicional, talvez do século V a. C. escrito em pehlvi narra a viagem que o pio sacerdote Arda, filho de Viraf, fêz nas regiões do além. Esta visão corresponde àquela de Er, o Pamfilio de Platão, de Enoch, do Apocalípse de Pedro. Este sacerdote no tempo do rei Ardesis fundador da dinastia dos Sassânidas, ter-se-ia atormentado no templo do fogo. Sua alma, saída do corpo, visitou, guiada pelo deus Fogo, primeiramente o Paraíso e depois o Inferno. O Inferno e Paraíso são descritos com cores muito pálidas em relação à descrições que outros fizeram. O autor é considerado um predecessor de Dante. Há mesmo quem julgue que Dante teve conhecimento desse trabalho.

    .

    Zoroastro
    geocitiescom/projetoperiferia/zoroastro.htm

    (*) Jorge Bertosaso Stella nasceu na Itália, em 1888, vindo para o Brasil com 3 anos de idade. Professou sua fé em Jesus Cristo aos 15 anos. Até os 20 anos era quase analfabeto, vivendo no meio rural onde trabalhava. Aprendeu as primeiras letras com um seu tio e posteriormente ingressou no Seminário Presbiteriano Independente. Foi ordenado Ministro Evangélico em 1919. Pastoreou diversas Igrejas do interior, vindo para São Paulo em 1933 onde permanece como pastor da primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo desde então, sendo nos últimos doze anos seu pastor emérito. É membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco, Santa Catarina, Paraíba, Bahia e Espírito Santo. Membro da Societé des Americanistes de Paris e da Societé de Linguística de Paris. Sócio fundador da Sociedade de Estudos filológicos de São Paulo. Fêz parte da comissão de revisão da tradução da Bíblia. Lecionou em ginásios, e seminários protestantes e depois de jubilado lecionou na Faculdade de Teologia da Igreja Independente, a cadeira de História das Religiões. Integrou bancas examinadoras de concursos da Universidade de São Paulo. Organizou notável biblioteca, com incontáveis obras raras, que recentemente doou a entidades culturais de São Paulo, biblioteca essa especializada em teologia, filosofia, geografia, história, sânscrito, história das religiões, glotologia, linguística, arqueologia, paleontologia, matérias essas que estudou em profundidade, quase tôdas como auto-didata. Senhor em línguas. Membro da Academia Evangélica de Letras com sede no Rio de Janeiro. Espírito cristão na mais elevada accepção do termo, vem infatigavelmente desenvolvendo seu precioso labor de pastor de almas, não obstante sua avançada idade.
    Jorge Bertolaso Stella, entre outros publicou os seguintes trabalhos:
    Monogenismo Linguístico, 1927
    As Línguas Indígenas da América, 1928
    Conexão Linguística Basco-americana, 1929
    A Língua Etrusca, 1930
    Vestígios da Língua Primitiva, 1933
    A Vida Científica de Trombetti, 1933
    Glotologia e pré-história, 1934
    As Sete Cartas do Apocalipse, 1945
    História da Glotologia, 1945
    A Língua Basca, 1954
    Provérbios da Índia, 1956
    O Pai Nosso, 1958
    O Rig-Veda, 1958
    As Descobertas dos Papiros do Mar Morto, 1960
    Orações da Alma, 1967
    A Oração na História das Religiões, 1968
    Introdução às Upanichades, 1969
    A Bhagavad-Gita, tradução do sânscrito, 1970
    Introdução à História das Religiões, 1970
    A Religião da Índia, 1971 (no prelo)
    História do Indianismo, 1971 (idem)
    Edição Eletrônica pelo Coletivo Periferia
    posted by iSygrun Woelundr @ 7:38 PM  
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