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    quinta-feira, janeiro 25, 2007
    28 de Outubro 2002
    SIC TRANSIT GLORIA MUNDI. Dessa maneira, São Paulo define a condição humana em uma de suas epístolas: a glória do mundo é transitória. E, mesmo sabendo disso, o homem sempre parte em busca do reconhecimento pelo seu trabalho.
    Por quê? Um dos maiores poetas brasileiros, Vinícius de Moraes, diz em uma de suas letras de música:
    “E no entanto é preciso cantar
    mais que nunca é preciso cantar.”
    Vinícius de Moraes é brilhante nestas frases. Lembrando Gertrud Stein, no seu poema “Uma rosa é uma rosa, é uma rosa”, apenas diz que é preciso cantar. Não dá explicações, não justifica, não usa metáforas. Quando me candidatei a esta Cadeira, ao cumprir o ritual de entrar em contato com os membros da Casa de Machado de Assis, ouvi do acadêmico Josué Montello algo semelhante. Disse-me ele: “Todo homem tem o dever de seguir a estrada que passa pela sua aldeia.”
    Por quê?
    O que existe nessa estrada?
    Que força é essa que nos empurra para longe do conforto daquilo que é familiar, e nos faz enfrentar desafios, mesmo sabendo que a glória do mundo é transitória?
    Creio que esse impulso se chama: a busca do sentido da vida. Por muitos anos procurei nos livros, na arte, na ciência, nos perigosos ou confortáveis caminhos que percorri uma resposta definitiva para essa pergunta. Encontrei muitas, algumas que me convenceram por anos, outras que não resistiram a um só dia de análise; entretanto, nenhuma delas foi suficientemente forte para que agora eu pudesse dizer:
    o sentido da vida é este.
    Hoje estou convencido que tal resposta jamais nos será confiada nesta existência, embora, no final, no momento em que estivermos de novo diante do Criador, compreenderemos cada oportunidade que nos foi oferecida – e então aceita ou rejeitada.
    Em um sermão de 1890, o pastor Henry Drummond fala desse encontro com o Criador. Diz ele:
    “Neste momento, a grande pergunta do ser humano não será: “Como eu vivi?”
    Será, isto sim: “Como amei?”
    O teste final de toda busca é a dimensão de nosso Amor. Não será levado em conta o que fizemos, em que acreditamos, o que conseguimos.
    Nada disso nos será cobrado, mas sim nossa maneira de amar o próximo. Os erros que cometemos nem sequer serão lembrados. Não seremos julgados pelo mal que fizemos, mas pelo bem que deixamos de fazer. Pois manter o Amor trancado dentro de si é ir contra o espírito de Deus, é a prova de que nunca O conhecemos, de que Ele nos amou em vão.”
    Lendo a vida e obra daqueles que, antes de mim, ocuparam a Cadeira 21, independentemente de acreditarem ou não naquele encontro com o Criador, este é o primeiro elemento mais presente: amor. Todos buscaram um sentido para suas vidas, mas, enquanto o procuravam, souberam transformar seus passos em manifestações de amor ao próximo. E aí o amor é entendido como algo mais amplo do que o simples ato de gostar.
    Martin Luther King lembrava que os gregos possuem três palavras para designar esse sentimento: a primeira é Eros, o amor saudável e necessário entre dois seres humanos, que se buscam, se encontram, ou se desencontram. A segunda palavra é
    Philos, a paixão que nos empurra ao encontro da sabedoria, dos amigos, da filosofia, dos legados que nos deixaram as gerações anteriores. Finalmente existe a palavra Ágape, o amor maior, aquele a que – como bem lembra Martin Luther King – Jesus se referia quando disse: “Amai vossos inimigos.” Um amor que está além do ato de gostar, porque não podemos gostar de quem nos agride, nos ofende, é injusto em seus comentários, leviano em suas acusações, preconceituoso em seu julgamento. Não podemos gostar, mas podemos amar e, através do amor, entender que por detrás de cada atitude mesquinha e destruidora está um imenso desejo de ser compreendido, aceito, apreciado.
    Então, a essência de Ágape está não apenas nos que aqui me precederam nesta Cadeira 21, mas em todos, em todas as cadeiras desta Casa, deste auditório, em todas as cadeiras do mundo. Basta apenas reunir coragem suficiente para lutar por seus sonhos, e – de novo me apoio em uma expressão cunhada pelo apóstolo São Paulo – “combater o bom combate, e manter a fé.”
    Em 1986, quando fazia o Caminho de Santiago em busca de uma espada, a mesma espada que daqui a pouco me será de novo entregue, simbolicamente, pelo acadêmico Josué Montello, eu compreendi pela primeira vez o sentido dessa expressão.
    O Bom Combate é aquele travado porque o nosso coração pede. Nas épocas heróicas, no tempo dos cavaleiros andantes, isso era fácil, havia muita terra para conquistar e muita coisa para fazer. Hoje, porém, o mundo mudou, e o Bom Combate veio dos campos de batalha para dentro de nós mesmos.
    O Bom Combate é aquele que é travado em nome de nossos sonhos. Quando eles explodem dentro de nós com todo o seu vigor – na juventude – temos muita coragem, mas ainda não aprendemos a lutar. Depois de
    muito esforço, terminamos aprendendo, e então já não temos a mesma coragem. Por isso, nos voltamos contra nós, e nos transformamos em nosso pior inimigo. Dizemos que nossos sonhos eram infantis, difíceis de realizar, ou frutos de nosso desconhecimento das realidades da vida. Matamos nossos sonhos porque temos medo de combater o Bom Combate.
    O primeiro sintoma de que estamos matando nossos sonhos é a falta de tempo. As pessoas mais ocupadas que conheci na minha vida sempre têm tempo para tudo e para todos. As que nada fazem estão sempre cansadas, não dão conta do pouco trabalho que precisam realizar, e se queixam constantemente que o dia é curto demais. Na verdade, elas têm medo de saber onde vai dar a misteriosa estrada que passa pela sua aldeia.
    O segundo sintoma da morte de nossos sonhos são nossas certezas. Porque não queremos aceitar a vida como uma grande aventura a ser vivida, passamos a nos julgar sábios, justos e corretos. Olhamos para além das muralhas do nosso mundo organizado, onde a ciência e a filosofia já têm todas as respostas, onde todas as dúvidas já foram resolvidas pelas ideologias, conceitos e preconceitos. Olhamos e vemos as grandes quedas e os olhares sedentos de conquista dos guerreiros, ouvimos o ruído de lanças que se quebram, sentimos o cheiro de suor e pólvora. Então dizemos, do alto de nossas torres de marfim: “Eles não sabem o que eu sei.” Com essa atitude arrogante, jamais percebemos a alegria, a imensa Alegria que está no coração de quem está lutando, porque para esses não importa nem a vitória nem a derrota, mas apenas olhar o mundo como se fosse uma pergunta – não uma resposta – e através dessa pergunta tentam dignificar suas vidas.
    Raul Seixas descreve bem a alegria no coração dos guerreiros, ao escrever:
    Prefiro ser
    Uma metamorfose ambulante
    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo.
    Finalmente, o terceiro sintoma da morte de nossos sonhos é a Paz. A vida passa a ser uma tarde de Domingo, sem nos pedir grandes coisas, e sem exigir mais do que queremos dar. Achamos então que estamos maduros, deixamos de lado as fantasias da infância, e conseguimos nossa realização pessoal e profissional. Ficamos surpresos quando alguém de nossa idade diz querer ainda isso ou aquilo da vida. Mas, na verdade, no íntimo de nosso coração, sabemos que o preço dessa paz foi nossa renúncia à luta por tudo que considerávamos interessante, e por tudo que nos entusiasmava fazer.
    Quando encontramos a paz, temos um curto período de tranqüilidade. Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós, e a infestar o ambiente em que vivemos. Começamos a nos tornar cruéis com aqueles que nos cercam, e finalmente passamos a dirigir essa crueldade contra nós mesmos. Surgem as doenças e as psicoses. O que queríamos evitar no combate – a decepção e a derrota – passa a ser o único legado de nossa covardia. E, num belo dia os sonhos mortos e apodrecidos tornam o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos livre de nossas certezas, de nossas ocupações, e da paz das tardes de domingo.
    Nenhum dos ocupantes desta Cadeira 21 experimentou – graças a Deus – essa terrível paz. O teatrólogo Dias Gomes, em seu discurso de posse, chamou-a de “A cadeira da Liberdade”. O economista Roberto Campos a chamou de “Cadeira do Ecletismo”. Eu preferiria chamá-la, entretanto, de “Cadeira da Utopia”. Utopia em seu sentido clássico, referindo-me ao momento ideal da história da civilização na qual todas as conquistas do homem seriam
    consolidadas entre seus semelhantes; o país imaginário do escritor inglês Thomas Morus, no qual um governo, organizado da melhor maneira, proporciona ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz.
    O fundador da Cadeira 21, José do Patrocínio, herói da Abolição da Escravatura, diz em um dos seus discursos. Cito:
    “Dentro em três dias vai começar a história moderna do Brasil e fechar-se a triste história dos tempos bárbaros da nossa terra. Não é demasiado otimismo profetizar que a nossa evolução nacional será feita com a mesma rapidez da dos Estados Unidos.
    As estrelas do sul dentro em um quarto de século não invejarão o fulgor da constelação do norte.”
    Um quarto de século se passou, e outro, e muitos outros. Apesar da abolição da escravatura, todos nós sabemos que até hoje o sonho de José do Patrocínio ainda não se tornou realidade. Entretanto, ele nos legou sua utopia, e nós continuamos a lutar por ela.
    Sucedeu-o o poeta Mário de Alencar, descrito por todos como um homem tímido e recluso, cujo modelo de vida era o corajoso Sócrates. Suas obras só nos chegaram por causa da dedicação de seus filhos. Tinha como ideal a beleza pura, e comentava em um dos seus versos:
    “Goza mulher teus dias
    que as puras alegrias
    vêm da ilusão.”
    De novo a idéia utópica de um mundo no qual é possível, apesar da ilusão, permitir-se o prazer das grandes alegrias. O mesmo acontecia com o poeta Olegário Mariano, que o sucedeu: embora mais
    extrovertido em seu comportamento – afinal, são dele várias letras de músicas, uma das quais ainda cantamos: “Cai, cai, balão” – leva a sua utopia do terreno literário para o campo político, como antes fizera José do Patrocínio. Luta por um Brasil moldado no ideário de Getúlio Vargas.
    Quero fazer uma pequena observação aqui: não me cabe, neste discurso de posse, julgar as afinidades partidárias dos ocupantes desta Cadeira, mas o empenho sincero que tiveram em procurar uma opção melhor para o Brasil, levando em conta suas convicções pessoais.
    Como os seus predecessores, também Olegário Mariano quer seguir um sonho impossível. Ele mantém em seu horizonte os ideais utópicos da existência. Como nos versos a seguir. Cito:
    “Vida! Quero viver todas as tuas horas,
    As que prendi na mão e as que nunca alcancei.”
    Álvaro Moreyra, o cronista do Rio, é o próximo ocupante, um dos precursores do novo teatro brasileiro, que se declara adepto da utopia comunista. Deixa importante legado literário, que inclui um estudo sobre o teatro espanhol na Renascença, escrito em 1946, e a peça “Adão e Eva e outros membros da família (1929)”, que até hoje faz parte do repertório de muitas companhias teatrais. Em seu trabalho poético, de novo o mesmo louvor utópico à vida, que o acompanhou até nos dizeres de seu epitáfio:
    O epitáfio de Álvaro Moreyra é o seguinte:
    “Acreditei na Vida, e a Vida em mim.
    Depois, desandamos a rir de nós mesmos - os dois.”
    O crítico Adonias Filho, que sucede Álvaro Moreyra, parte para uma utopia exatamente oposta: ex-integralista, defende o golpe militar de 1964. Mas é tão íntegro em suas convicções que merece o respeito de Jorge Amado, militante de campo exatamente oposto, que faz questão de recebê-lo nesta Casa. Provocador, irônico, Adonias Filho declara em um dos seus textos:
    “Ainda se discute a utilidade dos críticos. Os escritores louvados são a favor. Os outros são contra. O público, felizmente, não se interessa pela discussão. Parece-me que os críticos não deixam de ser úteis. A alguns, eu devo a ampliação dos meus conhecimentos literários. Se eles não houvessem constatado a profunda influência exercida sobre mim por certos autores, com certeza eu nunca os leria depois...”
    De novo o pêndulo da Cadeira 21 oscila para uma utopia oposta: é a vez de Dias Gomes entrar para a Academia Brasileira de Letras, trazendo em seu teatro e na sua vasta bagagem literária o sonho de um Brasil redimido pela vitória do oprimido sobre o opressor. Seu nome torna-se mundialmente conhecido quando uma de suas peças, “O Pagador de Promessas”, é transformada em filme e ganha a Palma de Ouro no Festival de Cannes, na França. Dono de uma linguagem moderna, é levado pelas circunstâncias a escrever para a televisão, e o faz de maneira inovadora, criando obras que até hoje permanecem no imaginário do povo, como “O Bem Amado” e “Roque Santeiro”. Em uma de suas peças, “O Santo Inquérito”, a personagem Branca comenta sobre o abismo que separa o sonho da realidade:
    “Deus deve estar onde há mais claridade, penso eu. E deve gostar de
    ver as criaturas livres como Ele as fez, usando e gozando essa liberdade, porque foi assim que nasceram e assim devem viver. Tudo isso que estou lhes dizendo, é na esperança de que vocês entendam ... Porque eles, eles não entendem... Vão dizer que sou uma herege e que estou possuída pelo demônio.”
    Com sua morte trágica, prematura, que privou o Brasil contemporâneo de uma de suas inteligências mais brilhantes, o pêndulo torna a oscilar e, em uma eleição onde a discussão sobre utopias foi a tônica, Roberto Campos consegue a maioria necessária para ocupar a Cadeira 21.
    Lembro-me de, ainda jovem, ir para as ruas protestar contra sua política econômica – embora na época não tivesse sequer idéia do que isso significava. Fernando Sabino, porém, cunhou uma expressão primorosa: “Todo homem é incendiário aos vinte anos, e bombeiro aos quarenta.” Aos quarenta anos, quando resolvi comprar o meu primeiro computador, vi um Brasil paralisado pela Lei da Informática, caminhando a passos largos em direção - não ao futuro, mas ao passado. Essa lei, que Roberto Campos tanto combatera, e que antes era uma abstração para mim, agora se transformava em algo concreto: estava me privando de um instrumento de trabalho.
    Ainda durante minha transição de incendiário a bombeiro, tive oportunidade de ler muitos artigos seus, e – mesmo a contragosto, já que sempre somos mais sectários do que ousamos admitir – terminei por lhe dar razão. O meu suposto inimigo de antes transformava-se em um homem capaz de defender com coerência e responsabilidade a sua utopia, buscando aí todas as tribunas possíveis.
    Minha admiração chegou a tal ponto que, sabendo de uma noite de autógrafos de seu livro “Lanterna de Popa”, fui até a Gávea para encontrá-lo. Uma chuva torrencial impediu muitas pessoas de comparecer, e eu tive a oportunidade de privar, por meia hora, da sua intimidade e inteligência fulgurante.
    Firme nas convicções, eloqüente nas argumentações, polêmico e provocador, Roberto de Oliveira Campos marcou a história do Brasil moderno. Correndo sempre o risco de não ser compreendido, era capaz de lutar até o fim por tudo aquilo que julgava melhor para nossa Pátria.
    Poucos foram os que se aplicaram em identificar profundamente o pensamento de Roberto Campos, e, entre estes encontra-se o jornalista Olavo Luz. Em sua biografia “Roberto Campos, o homem por detrás do mito”, Olavo nos deu uma dimensão humana desse Economista, Professor, Embaixador, Ministro de Estado, Senador, Deputado, e Acadêmico.
    Roberto Campos viveu entre o amor e o ódio. Despertava a fúria raivosa dos contendores e a paixão extremada, quase uma religião, dos admiradores. Um episódio na vida do meu antecessor merece especial atenção:
    Corriam os chamados “anos de chumbo”, cujo prolongamento Roberto Campos tanto condenou, defendendo o retorno do poder à sociedade civil, após o governo Castelo Branco, que chamava de “arrumação da casa”. Carlos Lacerda, também um brilhante político e, naquele momento, em campo oposto ao então Ministro Extraordinário do Planejamento, cunhou uma frase histórica:
    “O senhor Roberto Campos irrita a todos:
    mata os ricos de raiva e os pobres de fome”.
    Impassível, Roberto Campos respondeu com uma outra frase histórica, que seria também uma declaração honrada de armistício:
    “A violência da flecha dignifica o alvo”.
    “A violência da flecha dignifica o alvo”.Muitas vezes, em momentos em que me sentia julgado com severidade excessiva pela crítica, me recordava dessa frase. E me lembrava de outro sonho, do qual eu não estava disposto a desistir: entrar, um dia, para a Academia Brasileira de Letras.
    Há cinco anos, o acadêmico Eduardo Portella, durante o lançamento de “O Monte Cinco” na França, me se eu consideraria a possibilidade de uma candidatura. Perguntei se estava falando sério; ele disse que sim.
    Pouco tempo depois, Maria Eugenia Stein, amiga de longa data, resolveu promover um encontro com o então Presidente da Academia, Arnaldo Niskier. Retirei o sonho do meu coração, convidei-o para tomar um chá em minha casa, conversei abertamente sobre minhas pretensões, e tornei a guardar meu sonho em lugar onde pudesse contemplá-lo de vez em quando.
    No dia 9 de outubro de 2001, eu participava do Festival de Autores e Cineastas, em Montecarlo. Conversava despreocupadamente com o diretor americano Sidney Pollack, quando meu telefone celular tocou: Roberto Campos havia morrido.
    Pedi licença a Pollack, caminhei até a praia, fiquei contemplando o Mediterrâneo. Nos momentos em que precisamos tomar uma decisão muito importante, é melhor confiar no impulso, na paixão, porque a razão geralmente procura nos afastar do sonho – justificando que ainda não é chegada a hora. A razão tem medo da derrota. Mas a intuição gosta da vida, e dos desafios da vida. Eu também gosto, de modo que resolvi me candidatar, e confiei em meus amigos da Academia. Pessoas mais próximas me perguntavam: “Mas está mesmo na hora? Por que você não deixa isso para mais adiante?” Eu respondia:
    “Como é que você sabe que “mais adiante” é a hora certa? “
    E segui em frente.
    Vez por outra me lembrava de um episódio de minha adolescência: Com um grupo de amigos da Academia de Letras do Colégio Santo Inácio – onde cursava o ginasial – vimos até aqui para assistir a uma palestra. Foi preciso vestir terno e gravata, tomar o bonde, viajar muito tempo para chegar ao centro da cidade. Não me lembro da palestra, nem do palestrante - mas a primeira impressão desse lugar jamais saiu de minha cabeça.
    Hoje, quase 40 anos depois, estou nesta tribuna, fazendo meu discurso de posse. O que era uma utopia de adolescente virou – no início da década de 90 – uma verdadeira heresia. Mas, como acontece com algumas heresias, esta também se transformou em realidade. Lutei por esse sonho, confiei em meus amigos, combati o bom combate e mantive a fé. Aprendi com Jorge Amado, o maior escritor brasileiro do século XX, o insubstituível, o grande, o generoso, o digno Jorge Amado, que as utopias são possíveis.
    E hoje aqui com vocês, celebramos juntos.
    Antes de terminar, gostaria de citar outros dois escritores que nunca conheceram a glória, mas que realizaram seu trabalho com dignidade e dedicação. Um deles jamais sonhou que um dia seu nome seria pronunciado nesta tribuna, e talvez alguns considerem isso anátema, mas não posso deixar passar a oportunidade: trata-se de José Mauro Vasconcellos. Jamais li um livro seu, mas não posso perder este momento único para agradecê-lo por ter levado seu trabalho aos quatro cantos do mundo, ajudando a mostrar às mais diferentes culturas o que existe na alma intensa e comovente do povo brasileiro.
    O outro escritor, um professor de matemática, escondido atrás de um pseudônimo misterioso, povoou minha imaginação infantil com lendas do deserto, dos céus e da terra, das mil histórias sem fim que o povo árabe conta, e que, mais tarde, estariam na gestação de meu livro mais conhecido: “O Alquimista.” Trata-se de Júlio César de Mello e Souza, conhecido por todos os seus leitores como Malba Tahan. É de sua autoria a história que agora narro, com minhas palavras, e que tão bem reflete a frase de São Paulo sobre a glória do mundo:
    “Na antiga Roma, na época do imperador Tibério, vivia um homem muito bom, que tinha dois filhos: um era militar, e quando entrou para o exército, foi enviado para as mais distantes regiões do Império. O outro filho, versado em letras, virou um poeta famoso, que encantava Roma com seus versos.
    “Certa noite, o homem teve um sonho. Um anjo lhe aparecia para dizer que as palavras de um de seus filhos seriam conhecidas e repetidas no mundo inteiro, por todas as gerações vindouras. Acordou agradecido e chorando, porque a vida era generosa, e havia lhe revelado uma coisa que qualquer pai teria orgulho de saber.
    “Pouco tempo depois, morreu ao tentar salvar uma criança que ia ser esmagada pelas rodas de uma carruagem. Como tinha se comportado de maneira correta e justa em toda a sua vida, foi direto para o céu, e encontrou-se com o anjo que lhe aparecera em sonhos.
    “– Você foi um homem bom – disse-lhe o anjo. – Viveu sua existência com amor, e morreu com dignidade. Posso realizar agora seus desejos.
    “– A vida também foi boa para mim – respondeu o homem. – Quando você me apareceu em sonho, senti que todos os meus esforços estavam justificados. Porque os versos de meu filho serão passados de geração em geração. Nada tenho a pedir para mim; entretanto, todo pai se orgulharia de
    testemunhar a imortalidade de alguém que ele cuidou quando criança e educou quando jovem.
    “O anjo tocou em seu ombro, e os dois foram projetados para um futuro distante. Em volta deles apareceu um lugar imenso, com milhares de pessoas, que falavam uma língua estranha.
    “O homem chorou de alegria.
    “– Eu sabia que os versos do meu filho eram bons e imortais – disse para o anjo, entre lágrimas. – Toda Roma se encantava com eles, e sei algumas de suas poesias de cor:
    gostaria que me dissesse qual delas estas pessoas estão repetindo.
    “– Os versos de seu filho poeta foram muito populares em Roma – disse o anjo. – Todos gostavam, e se divertiam com eles. Mas, quando o reinado de Tibério acabou, seus versos também foram esquecidos. Estas palavras são de seu filho que entrou para o exército.
    “O homem olhou surpreso para o anjo, que continuou:
    “– Seu filho foi servir num lugar distante. Era também um homem justo e bom. Certa tarde, um dos seus servos ficou doente, e estava para morrer. Seu filho, então, ouviu falar de um Rabi que curava os doentes, e andou dias e dias em busca daquela pessoa. No caminho, descobriu que o homem que procurava era o Filho de Deus. Encontrou outras pessoas que haviam sido curadas por Ele, aprendeu seus ensinamentos, e, mesmo sendo um centurião romano, converteu-se ao seu credo. Até que certa manhã chegou perto do Rabi.
    “Contou-lhe que tinha um servo doente. E o Rabi se prontificou a ir até sua casa. Mas o centurião era um homem de fé, e olhando no fundo dos olhos do Rabi, disse não ser necessário.
    “O anjo tornou a mostrar as pessoas e, de repente, todas se levantaram:
    “– Estas são as palavras do seu filho soldado – disse o anjo ao homem. – São as palavras que ele disse ao Rabi naquele momento, e que nunca mais foram esquecidas:
    “Senhor, eu não sou digno que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e meu servo será salvo”.
    SIC TRANSIT GLORIA MUNDI. A glória do mundo é transitória, e não é ela que nos dá a dimensão de nossa vida – mas a escolha que fazemos, de seguir nossa lenda pessoal, acreditar em nossas utopias, e lutar por elas. Somos todos protagonistas de nossas existências, e muitas vezes são os heróis anônimos – como o centurião romano – que deixam as marcas mais duradouras.
    Conta uma lenda japonesa que certo monge, entusiasmado pela beleza do livro chinês Tao Te King, resolveu levantar fundos para traduzir e publicar aqueles versos em sua língua pátria. Demorou dez anos até conseguir o suficiente.
    Entretanto, uma peste assolou seu país, e o monge resolveu usar o dinheiro para aliviar o sofrimento dos doentes. Mas assim que a situação se normalizou, de novo partiu para arrecadar a quantia necessária à publicação do Tao; mais dez anos se passaram, e quando já se preparava para imprimir o livro, um maremoto deixou centenas de pessoas desabrigadas.
    O monge de novo gastou o dinheiro na reconstrução de casas para os que tinham perdido tudo. Outros dez anos correram, ele tornou a arrecadar o dinheiro, e finalmente o povo japonês pôde ler o Tao Te King.
    Dizem os sábios que, na verdade, esse monge fez três edições do Tao: duas invisíveis, e uma impressa. Ele acreditou na sua utopia, combateu o bom combate, manteve a fé em seu objetivo, mas não deixou de prestar atenção ao seu semelhante. Que seja assim com todos nós: às vezes os livros invisíveis, nascidos da generosidade para com o próximo, são tão importantes quanto aqueles que levam escritores a ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras.
    Muito obrigado.
    posted by iSygrun Woelundr @ 6:56 PM   0 comments
    Quatro histórias passadas no Japão - paulo coelho
    Concorrendo com os americanos


    Ao visitar o Japão, para promover “O Diário de Um Mago”, peguntei ao editor Masao Masuda , por que os japoneses conseguiram conquistar mercados que antes eram dominados pelos americanos.
    - Muito simples - respondeu Masuda. - Os americanos tem uma idéia, trancam-se numa sala com pesquisas, tomam decisões, e gastam uma energia imensa para provar que estavam certos. Nós não queremos provar nada a ninguém: deixamos que cada ser humano manifeste suas necessidades, e procuramos soluciona-las. O resultado prático é que cada um termina comprando aquilo que já desejava antes.
    “Quem só deseja demonstrar que está certo, termina por agir errado”.

    O verdadeiro respeito

    Durante a evangelização no Japão, um missionário foi preso por samurais.
    - Se quiser continuar vivo, amanhã terá que pisar a imagem de Cristo, diante de todos - disseram os guerreiros.
    O missionário foi dormir, sem nenhuma dúvida no coracão: jamais cometeria tal sacrilégio, e estava preparado para o mártirio.
    Acordou no meio da noite, e ao levantar-se da cama, tropeçou num homem que dormia no chão. Quase caiu para trás: era Jesus Cristo em pessoa!
    - Agora que já pisou em mim, vá lá fora e pise na minha imagem - disse Jesus. -Porque lutar por uma idéia é muito mais importante que a vaidade de um sacrifício.


    Destruindo e reconstruindo

    Sou convidado a ir a Guncan-Gima, onde existe um templo zen-budista. Quando chego lá, fico surpreso: a belíssima estrutura está situada no meio de uma imensa floresta, mas com um gigantesco terreno baldio ao lado.
    Pergunto a razão daquele terreno, e o encarregado explica:
    -É o local da próxima construção. A cada vinte anos, destruímos este templo que voce está vendo, e o reconstruímos ao lado.
    “Desta maneira, os monges carpinteiros, pedreiros e arquitetos, tem possibilidade de estar sempre exercendo suas habilidades, e ensina-las - na prática - aos seus aprendizes. Mostramos também que nada na vida é eterno - e até mesmo os templos estão num processo de constante aperfeiçoamento.”


    A medida do amor

    - Sempre desejei saber se era capaz de amar minha mulher como o senhor ama a sua - disse o jornalista Keichiro a meu editor Satoshi Gungi, enquanto jantávamos.
    - Não existe nada alem do amor – foi a resposta. - É ele que mantém o mundo girando e as estrelas suspensas no céu.
    - Sei disso. Mas como vou saber se meu amor é grande o suficiente?
    - Procure saber se você se entrega, ou se você foge de suas emoções. Mas não faça perguntas como esta porque o amor não é grande nem pequeno; é apenas o amor.
    “Não se pode medir um sentimento como se mede uma estrada. Se você fizer isso, vai começar a comparar com o que lhe contam, ou com o que está esperando encontrar. Desta maneira, sempre vai escutando uma história, ao invés de percorrer seu próprio caminho.”
    posted by iSygrun Woelundr @ 6:55 PM   0 comments
    Alguns exemplos de gente como a gente - paulo coelho
    Eu sou parte da terra

    As guerras entre os conquistadores do Oeste americano e os índios tornavam-se cada vez mais violentas. Pouco antes de morrer, o pai do Cacique Joseph (1840-1904) chamou-o:
    “Meu filho, meu corpo em breve voltará a Mãe Terra”, disse. “Quando eu partir, esta terra é a tua herança. Não estou deixando dinheiro, riquezas, e o poder que agora voce recebe não é motivo de orgulho, mas de responsabilidade. Deixo em tuas mãos o solo em que pisas, e o nosso povo; espero que sejas digno disso. Em breve o homem branco nos cercará por completo, e vai tentar comprar nossa Mãe. Lembre-se que meu corpo está ali, que sou parte Dela”.
    Joseph pegou a mão de seu pai, apertou-a contra seu peito, e prometeu jamais vender a terra.
    O branco tentou comprar, e o cacique não vendeu. Vieram combates cada vez mais sangrentos, e Joseph liderou seu exército contra os soldados americanos. Quando foi capturado, perguntaram porque defendia uma causa perdida.
    “Um homem não vende os ossos de seu pai”, disse o cacique.

    A morte anunciada

    Em meados de 1970, quando estava prestes a completar seu doutorado em física, o cientista Stephen Hawking - já então portador de uma doença que ia paralisando seus movimentos - escutou um médico dizer que tinha apenas dois anos de vida.
    “Então posso tentar entender o Universo, porque não vou mais precisar pensar em coisas como aposentadoria e contas a pagar”, resolveu.
    Como a doença progredia rapidamente, foi obrigado a criar fórmulas simples para explicar - no menor espaço de tempo possível - tudo aquilo que pensava.
    Dois anos e meio se passaram, vinte anos se passaram, e Hawking continua vivo. É capaz de comunicar suas idéias abstratas através de um pequeno computador acoplado a sua cadeira de rodas, e que possui apenas 500 palavras diferentes. Escreveu o clássico “Uma breve história do tempo”(Ed. Rocco), e foi responsável por uma nova visão da Física moderna.
    A doença, ao invés de conduzi-lo a invalidez total, forçou-o a descobrir uma nova maneira de raciocínio.

    Não esqueça os maus

    A seguinte oração foi encontrada entre os pertences pesssoais de um judeu, morto num campo de concentração:
    "Senhor: quando vieres na Tua glória, não te lembres apenas dos homens de boa vontade; lembra-Te também dos homens de má vontade.
    "E, no dia do Julgamento, não Te lembres apenas das crueldades, sevícias, e violências que eles praticaram: lembra-Te também dos frutos que produzimos por causa do que eles nos fizeram. Lembra-Te da paciência, da coragem, da confraternização, da humildade, da grandeza de alma e da fidelidade, que nossos carrascos terminaram por despertar em nossas almas.
    "Permite então, Senhor, que os frutos por nós produzidos possam servir para salvar as almas os homens de má vontade."
    posted by iSygrun Woelundr @ 6:20 PM   0 comments
    O CAMINHO DO ARCO - Paulo Coelho
    Para Leonardo Oiticica, em uma manhã de sol em Saint
    Martin, que depois de me ver praticar kyudo (O caminho
    do arco), me deu a idéia deste texto
    O autor
    Uma oração sem objetivo é como uma flecha sem arco
    Um objetivo sem oração é como um arco sem flecha
    Ella Wheeler Wilcox
    - Tetsuya.
    O rapaz olhou espantado o estrangeiro.
    - Ninguém nesta cidade viu Tetsuya segurando um arco – respondeu. – Todos
    sabemos que ele trabalha em carpintaria.
    - Pode ser que tenha desistido, que tenha se acovardado, isso não me interessa
    – insistiu o estrangeiro. – Mas não pode ser considerado o melhor arqueiro do país, se já
    abandonou sua arte. E por isso viajei tantos dias: para desafia-lo e colocar um ponto final
    em uma fama que já não merece.
    O rapaz viu que não adiantava ficar discutindo: era melhor leva- lo até o
    carpinteiro, para ver com seus próprios olhos que ele estava enganado.
    Tetsuya estava trabalhando na oficina situada nos fundos de sua casa. Virouse
    para ver quem chegava, e seu sorriso foi interrompido no meio. Os olhos se fixaram na
    longa sacola que o estrangeiro carregava consigo.
    - É exatamente o que você está pensando – disse o recém-chegado. – Não vim
    aqui para humilhar nem provocar o homem que virou uma lenda. Apenas gostaria de
    provar que, com todos os meus anos de prática, consegui chegar à perfeição.
    Tetusya fez menção de retornar ao seu trabalho: estava terminando de colocar
    os pés de uma mesa.
    - Um homem que serviu de exemplo para toda uma geração, não pode
    desaparecer como o senhor desapareceu – continuou o estrangeiro. – Segui seus
    ensinamentos, procurei respeitar o caminho do arco, e mereço que me veja atirar. Se fizer
    isso, irei embora e não direi a ninguém onde se encontra o maior de todos os mestres.
    O estrangeiro tirou de sua bagagem um arco longo, feito de bambu
    envernizado, com o punho situado um pouco abaixo do centro. Fez uma reverencia para
    Tetsuya, caminhou até o jardim, e fez outra reverencia para um lugar determinado. Em
    seguida, tirou uma flecha ornada com plumas de águia, abriu as pernas de modo a ter uma
    base sólida para atirar, com uma das mãos trouxe o arco até diante de seu rosto, com a
    outra colocou a flecha.
    O rapaz olhava com um mixto de alegria e espanto. E Tetsuya tinha
    interrompido seu trabalho, olhando o estrangeiro com curiosidade.
    O homem trouxe o arco – já com a flecha presa à corda – até o centro do seu
    peito. Levantou-o acima da cabeça, e a medida que abaixava as mãos, começou a abri- lo.
    Quando chegou com a flecha a altura do seu rosto, o arco já estava
    completamente estendido. Por um momento que pareceu durar uma eternidade, arqueiro
    e arco permaneceram imóveis. O rapaz olhava para o local onde a flecha estava
    apontando, mas não via nada.
    De repente, a mão da corda se abriu, o braço foi empurrado para trás, o arco
    descreveu um giro gracioso na outra mão, e a flecha desapareceu de vista, para tornar a
    aparecer ao longe.
    - Vá pega-la – disse Tetsuya.
    O rapaz voltou com a flecha: ela havia atravessado uma cereja que se
    encontrava no chão, a quarenta metros de distância.
    Tetsuya fez uma reverência para o arqueiro, foi até um canto de sua
    carpintaria, e pegou uma espécie de madeira fina, com curvas delicadas, envolta em uma
    longa tira de couro. Desenrolou a tira sem a menor pressa, e apareceu um arco
    semelhante ao do estrangeiro – com a diferença que parecia ter sido bastante mais usado.
    - Não tenho flechas, e precisarei de uma das suas. Farei o que me pede, mas
    terá que manter a promessa que fez: jamais irá revelar o nome da aldeia onde vivo.
    “Se alguém perguntar por mim, diga que foi até o final do mundo tentando
    encontrar- me, até descobrir que eu tinha sido picado por uma cobra, e morrido dois dias
    depois. “
    O estrangeiro assentiu com a cabeça, e estendeu uma de suas flechas.
    Apoiando uma das extremidades do longo arco de bambu na parede, e fazendo
    um considerável muito esforço, Tetsuya colocou a corda. Em seguida, sem dizer nada,
    saiu em direção as montanhas.
    O estrangeiro e o rapaz o acompanharam. Caminharam por uma hora, até
    chegar a uma fenda entre duas rochas, onde corria um rio caudaloso: o lugar só podia ser
    cruzado através de uma ponte de corda apodrecida, quase despencando.
    Com toda calma, Tetsuya foi até o meio da ponte – que balançava
    perigosamente - fez uma reverência para algo do outro lado, armou o arco da mesma
    maneira que o estrangeiro havia feito, levantou-o, trouxe-o de volta ao peito, e disparou.
    O rapaz e o estrangeiro viram que um pêssego maduro, que se encontrava à
    vinte metros do local, havia sido transpassado pela flecha.
    - Você atingiu uma cereja, eu atingi um pêssego – disse Tetsuya, voltando
    para a segurança da margem. - A cereja é menor.
    “Você atingiu seu alvo a quarenta metros, e o meu estava à metade desta
    distância. Portanto, você tem condições de repetir o que fiz. Venha até aqui o meio desta
    ponte, e faça a mesma coisa.”
    Aterrorizado, o estrangeiro caminhou até o meio da ponte semi-apodrecida,
    mantendo os olhos fixos no despenhadeiro debaixo dos seus pés. Fez os mesmos gestos
    rituais, disparou em direção à arvore de pêssegos, mas a flecha passou muito longe.
    Ao voltar para a margem, seu rosto estava pálido.
    - Você tem habilidade, tem dignidade, e tem postura – disse Tetsuya. –
    Conhece bem a técnica e domina o instrumento, mas não domina sua mente. Sabe atirar
    quando todas as circunstâncias são favoráveis, mas se estiver em um terreno perigoso,
    não consegue atingir o alvo. Ent retanto, nem sempre o arqueiro pode escolher seu campo
    de batalha, de modo que recomece seu treinamento, e esteja preparado para situações
    desfavoráveis.
    “Continue no caminho do arco, pois ele é o percurso de uma vida. Mas
    aprenda que um tiro correto e certeiro é muito diferente de um tiro com a paz na alma. “
    O estrangeiro mais uma vez fez uma longa reverência, colocou seu arco e
    suas flechas na longa sacola que carregava ao ombro, e partiu.
    No caminho de volta, o rapaz estava exultante.
    - Você o humilhou, Tetsuya! Você deve ser mesmo o melhor de todos!
    - Não deveríamos julgar pessoas sem antes aprender a ouvi- las e respeita- las.
    O estrangeiro era um homem bom: não me humilhou, nem tentou provar que era melhor,
    embora desse a impressão de fazer isso. Queria mostrar sua arte, e vê-la reconhecida,
    mesmo que desse a impressão de estar me desafiando.
    “Além do mais, faz parte do caminho do arco enfrentar de vez em quando
    algumas provas inesperadas, e foi justamente o que o estrangeiro me permitiu fazer hoje”.
    - Ele disse que você era o melhor de todos, e eu nem sabia que você era um
    mestre no tiro com arco. Se é assim, por que trabalha em uma carpintaria?
    - Porque o caminho do arco serve para tudo, e meu sonho era trabalhar com
    madeira. Alem do mais, um arqueiro que segue este caminho não precisa de arco, nem de
    flecha, nem de alvo.
    - Nada de interessante acontece nesta aldeia, e de repente eu me dei conta que
    estou diante de um mestre em uma arte que ninguém se interessa mais – disse o rapaz,
    com os olhos brilhando. – O que é o caminho do arco? Você pode me ensinar?
    - Ensinar não é difícil. Posso fazer isso em menos de uma hora, enquanto
    caminhamos de volta ao vilarejo. O difícil é praticar todos os dias, até conseguir a
    precisão necessária.
    Os olhos do rapaz pareciam implorar uma resposta positiva. Tetsuya andou
    em silencio por quase quinze minutos, e quando tornou a falar, sua voz parecia mais
    jovem:
    - Hoje estou contente: honrei o homem que, há muitos anos atrás, salvou
    minha vida. Por causa disso, lhe darei todas as regras necessárias, mas não posso fazer
    nada além disso: se você entender o que estou dizendo, poderá usar estes ensinamentos
    para o que desejar.
    “Há poucos minutos, você me chamou de mestre. O que é um mestre? Pois eu
    lhe respondo: não é aquele que ensina algo, mas aquele que inspira o aluno a dar o
    melhor de si para descobrir um conhecimento que ele já tem em sua alma. “
    E enquanto desciam a montanha, Tetsuya explicou o caminho do arco.
    OS ALIADOS
    O arqueiro que não compartilha com outros a alegria do arco e da flecha,
    jamais irá conhecer suas próprias qualidades e defeitos.
    Portanto, antes de começar qualquer coisa, busque aliados – gente que se
    interessa pelo você está fazendo.
    Não digo: “busque outros arqueiros.” Digo: encontre pessoas com diferentes
    habilidades, porque o caminho do arco não é diferente de qualquer caminho seguido com
    entusiasmo.
    Seus aliados não serão necessariamente aquelas pessoas que todos olham, se
    deslumbram, e afirmam: “ não existe ninguém melhor.” Muito pelo contrário: é gente
    que não tem medo de errar, e portanto erra. Por causa disso, nem sempre seu trabalho é
    reconhecido. Mas é este tipo de pessoa que transforma o mundo, e depois de muitos erros
    consegue acertar algo que que fará a diferença completa na sua comunidade.
    São pessoas que não podem ficar esperando que as coisas aconteçam, para
    depois poderem decidir qual a melhor atitude a tomar: elas decidem a medida que agem,
    mesmo sabendo que isso pode ser muito arriscado.
    Conviver com estas pessoas é importante para um arqueiro, porque ele precisa
    entender que, antes de colocar-se diante do alvo, deve ser livre o bastante para mudar de
    direção a medida que traz a flecha para diante do seu peito. Quando ele abre sua mão e
    solta a corda, , deve dizer para si mesmo: “ enquanto abria o arco, percorri um longo
    caminh. Agora solto esta flecha com a consciência de que arrisquei o bastante, e dei o
    melhor de mim. “
    Os melhores aliados são aqueles que não pensam como os outros. Por isso,
    ao buscar companheiros para dividir com você o entusiasmo do tiro, acredite na sua
    intuição, e não ligue para os comentários alheios. As pessoas sempre julgam os outros
    tendo como modelo suas própria limitações – e as vezes a opinião da comunidade é cheia
    de preconceitos e medos.
    Junte-se a todos que experimentam, arriscam, caem, se machucam, e tornam a
    arriscar. Afaste-se daqueles que afirmam verdades, criticam os que não pensam como
    eles, jamais deram um passo sem ter certeza de que seriam respeitados por isso, e
    preferem ter certezas do que ter dúvidas..
    Junte-se aos que se expõem e não temem ser vulneráveis: esses entendem que
    as pessoas só podem melhorar quando olham o que seu próximo está fazendo, não para
    julga- lo, mas para admira-lo por sua dedicação e coragem.
    Talvez você pense que atirar com o arco não pode interessar a um padeiro ou
    a um agricultor, mas eu lhe digo: eles colocarão o que viram naquilo que estão fazendo.
    Você também fará o mesmo: aprenderá com o bom padeiro como usar usar as mãos, e
    como saber a exata mistura dos ingredientes. Aprenderá com o agricultor a ter paciência,
    trabalhar duro, respeitar as estações, e não blasfemar contra as tempestades – porque isso
    seria uma perda de tempo.
    Junte-se aos que são flexíveis como a madeira do seu arco, e entendem os
    sinais do caminho. São pessoas que não hesitam em mudar de curso quando descobrem
    uma barreira intransponível, ou quando vislumbram uma oportunidade melhor. Essas é a
    qualidade da água: contornar rochas, adaptar-se ao curso do rio, as vezes transformar-se
    em lago até que a depressão esteja cheia e possa continuar seu caminho, porque a água
    não esquece que seu destino é o mar, e mais cedo ou mais tarde deverá chegar até ele.
    Junte-se aos que jamais disseram: “acabou, preciso parar por aqui.” Porque
    assim como o inverno é seguido pela primavera, nada pode acabar: depois de atingir seu
    objetivo é necessário recomeçar de novo, sempre usando tudo que aprendeu no caminho.
    Junte-se aos que cantam, contam histórias, desfrutam a vida, e tem alegria nos
    olhos. Porque a alegria é contagiosa, e sempre consegue impedir que as pessoas se
    deixem paralisar pela depressão, pela solidão, e pelas dificuldades. .
    Junte-se à todos que fazem seu trabalho com entusiasmo. Mas para que você
    possa ser útil a eles como eles são úteis a você, é preciso saber quais são as suas
    ferramentas, e como poderá aperfeiçoar suas habilidades.
    Portanto, é chegada a hora de conhecer seu arco, sua flecha, seu alvo, e seu
    caminho.
    O ARCO
    O arco é a vida: dele vem toda a energia.
    A flecha irá partir um dia.
    O alvo está longe.
    Mas o arco permanecerá sempre com você, e é preciso saber cuida-lo.
    Precisa de períodos de inação – um arco que sempre está armado, em estado
    de tensão, perde sua potência. Portanto, deixe-o repousar, recuperar sua firmeza: assim,
    quando você esticar a corda, ele estará contente e com sua força intacta.
    O arco não tem consciência: ele é um prolongamento da mão e do desejo do
    arqueiro. Serve para matar ou para meditar. Portanto, seja sempre claro em suas
    intenções.
    Um arco tem flexibilidade, mas também tem um limite. Um esforço além da
    sua capacidade irá quebra- lo, ou deixar exausta a mão que o segura. Portanto, procure
    estar em harmonia com o seu instrumento,e não exigir mais do que ele pode lhe dar.
    Um arco está repousando ou estendido na mão do arqueiro: mas a mão é
    apenas o lugar onde todos os músculos do corpo, todas as intenções daquele que atira,
    todo o esforço para o tiro está concentrado. Portanto, para manter com elegância o arco
    aberto, faça com que cada parte dê apenas o necessário, e não disperse suas energias.
    Assim, você poderá disparar muitas flechas sem se cansar.
    Para entender seu arco, ele precisa passar a fazer parte do seu braço, e ser uma
    extensão do seu pensamento.
    A FLECHA
    A flecha é o intento.
    É o que une a força do arco com o centro do alvo.
    O intento tem que ser cristalino, reto, bem equilibrado.
    Uma vez que ela parte, não voltará, então é melhor interromper um tiro –
    porque os movimentos que o levaram até ele não estavam precisos e corretos – do que
    agir de qualquer maneira, só porque o arco já estava retesado e o alvo estava esperando.
    Mas jamais deixe de soltar a flecha se a única coisa que o paralisa é o medo de
    errar. Se fizer os movimentos corretos, abra sua mão e solte a corda. Mesmo que ela não
    atinja o alvo, você saberá corrigir sua pontaria da próxima vez.
    Se não arriscar, jamais saberá quais as mudanças que eram necessárias. .
    Cada flecha deixa em seu coração uma lembrança – e é a soma destas
    lembranças que o fará disparar cada vez melhor.
    O ALVO
    O alvo é o objetivo a ser alcançado.
    Foi escolhido pelo arqueiro, mas está distante, e não podemos jamais culpa-lo
    quando não é atingido. Nisso reside a beleza do caminho do arco: você não pode jamais
    desculpar-se, dizendo que o adversário era mais forte.
    Foi você que escolheu seu alvo, e é responsável por ele.
    O alvo pode ser maior, menor, estar a direita ou a esquerda, mas você tem que
    sempre colocar-se diante dele, respeita-lo, e fazer com que ele se aproxime mentalmente.
    Só quando ele estiver na ponta de sua flecha, é que você deve soltar a corda.
    Se você olhar o alvo como inimigo, poderá até mesmo acertar o seu tiro, mas
    não conseguirá melhorar nada em você mesmo. Passará sua vida tentando colocar apenas
    uma flecha no centro de uma coisa de papel ou madeira, o que é absolutamente inútil. E
    quando estiver com outras pessoas, viverá reclamando que não faz nada de interessante.
    Por isso, você precisa escolher seu alvo, dar o melhor de si para atingi- lo, e
    sempre olha- lo com respeito e dignidade: precisa saber o que o que ele significa, e
    quanto custou do seu esforço, do seu treinamento, da sua intuição.
    Ao olhar o alvo, não se concentre apenas nele, mas em tudo que acontece ao
    seu redor: porque a flecha, ao ser disparada, irá encontrar-se com fatores que você não
    conta, como o vento, o peso, a distancia.
    Você tem que entender o alvo. Precisa perguntar constantemente: “se eu sou
    o alvo, onde estou? Como gostaria de ser atingido, de modo a dar ao arqueiro a honra que
    ele merece?”
    Porque um alvo só existe na medida em que o arqueiro existe. O que justifica
    a sua existência é o desejo do arqueiro de atingi-lo - ou ele seria uma coisa morta, um
    pedaço de papel ou madeira, em que ninguém prestaria atenção.
    Assim, da mesma maneira que a flecha busca o alvo, o alvo também busca a
    flecha, porque é ela que dá sentido a sua existência: já não é mais o papel, mas o centro
    do mundo de um arqueiro.
    A POSTURA
    Uma vez entendendo o arco, a flecha, e o alvo, é preciso ter serenidade e
    elegância para aprender a prática do tiro.
    A serenidade vem do coração. Embora muitas vezes torturado por
    pensamentos de insegurança, ele sabe que - através da postura correta – irá conseguir o
    melhor de si.
    A elegância não é uma coisa superficial, mas a maneira que o homem
    encontrou para honrar a vida e o seu trabalho. Por isso, quando as vezes você sentir que a
    postura o está incomodando, não pense que ela é falsa ou artificial: ela é verdadeira
    porque é difícil. Ela faz com que o alvo se sinta honrado pela dignidade do arqueiro.
    A elegância não é a postura mais confortável, mas a postura mais adequada
    para que o tiro seja perfeito.
    A elegância é atingida quando todo o supérfluo é descartado, e o arqueiro
    descobre a simplicidade e a concentração: quanto mais simples e mais sóbria a postura,
    mais bela ela será.
    A neve é bonita porque tem apenas uma cor, o mar é bonito porque parece
    uma superfície plana – mas tanto o mar como a neve são profundos e conhecem suas
    qualidades.
    COMO SEGURAR A FLECHA
    Segurar a flecha é estar em contacto com a sua intenção.
    É preciso olhar todo seu comprimento, ver se as plumas que guiam seu vôo
    estão bem colocadas, verificar a ponta, ter certeza de que ela está afiada. Certificar-se que
    está reta, não foi curvada ou danificada por um tiro anterior.
    A flecha, como sua simplicidade e leveza, pode parecer frágil – mas a força do
    arqueiro faz com que ela consiga carregar para longe a energia de seu corpo e de sua
    mente. Conta a lenda que uma simples flecha já foi capaz de afundar um navio, porque o
    homem que a atirou sabia onde estava a parte mais fraca da madeira, e assim abriu um
    buraco que fez com que a água penetrasse sem ruído no porão, destruindo a ameaça dos
    invasores de sua aldeia.
    A flecha é a intenção que deixa a mão do arqueiro, e parte em direção ao alvo
    – portanto, ela é livre em seu vôo, e irá seguir o caminho que lhe foi destinado no
    momento do tiro.
    Será tocada pelo vento e pela gravidade, mas isso é parte do seu percurso:
    uma folha não deixa de ser folha só porque uma tempestade a arrancou da árvore.
    Assim é a intenção do homem: perfeita, reta, afiada, firme, precisa. Ninguém
    consegue dete- la enquanto cruza o espaço que a separa do seu destino.
    COMO SEGURAR O ARCO
    Tenha calma e respire profundamente.
    Todos os movimentos estão sendo notados pelos aliados, que o ajudarão no
    que for necessário.
    Mas não esqueça que o adversário também está observando, e conhece a
    diferença entre a mão firme e a mão tremula: portanto, se estiver tenso, respire fundo,
    porque isso o ajudará a concentrar-se em todas as etapas do tiro.
    No momento em que você segura seu arco e o coloca – com elegância –
    diante do corpo, procure rever mentalmente cada etapa que o levou a preparar o disparo.
    Mas faça isso sem tensão, porque é impossível ter todas as regras na cabeça: e com o
    espírito tranqüilo, a medida em que revê cada etapa, irá dar-se conta dos momentos mais
    difíceis, e de como os superou.
    Isso lhe dará confiança, e sua mão não tremerá mais.
    COMO ESTENDER A CORDA
    O arco é um instrumento de musica, e é na corda que o seu som se manifesta.
    A corda é grande, mas a flecha a toca apenas em um pequeno ponto, e é neste
    ponto que toda a sabedoria e experiência do arqueiro deve estar concentrada.
    Se ele inclinar-se um pouco para a direita, ou um pouco para a esquerda, se
    este ponto estiver acima ou abaixo da linha de tiro, o objetivo jamais será alcançado.
    Portanto, ao estender a corda, seja como o músico que toca seu instrumento.
    Na música, o tempo é mais importante que o espaço: um bando de notas colocadas em
    linha não quer dizer nada, mas aquele que lê o que ali está escrito consegue transformar
    esta linha em sons e compassos.
    Assim como o arqueiro justifica a existência do alvo, a flecha justifica a
    existência do arco: você pode lançar uma flecha com a mão, mas um arco sem flecha não
    tem qualquer utilidade.
    Portanto, quando abrir os braços, não pense que você está esticando o arco.
    Pense que a flecha é o centro, imóvel, e você esta fazendo com que o arco e a corda se
    aproximem de suas extremidades, tocando-a com cuidado, pedindo para que coopere com
    você.
    COMO OLHAR O ALVO
    Muitos arqueiros se queixam que, apesar de praticarem por anos a arte do tiro,
    ainda sentem o coração disparar de ansiedade, a mão tremer, a pontaria falhar. Eles
    precisam entender que um arco ou uma flecha não podem mudar nada – mas a arte do
    tiro faz com que nossos erros sejam mais evidentes.
    No dia que você estiver sem amor pela vida, seu tiro será confuso,
    complicado. Verá que está sem força suficiente para esticar ao máximo a corda, que não
    consegue fazer o arco curvar-se como deve.
    E ao ver que seu tiro é confuso naquela manhã, vai tentar descobrir o que
    provocou tamanha imprecisão: isso fará com que se enfrente com um problema que o
    incomoda, mas que até então encontrava-se oculto.
    O contrario também acontece: seu tiro é seguro, a corda soa como o
    instrumento musical, os pássaros cantam ao redor. Então você percebe que está dando o
    melhor de si mesmo.
    Entretanto, não se deixe levar pelos tiros da manhã, sejam eles precisos ou
    inseguros. Ainda existem muitos outros dias pela frente, e cada flecha é uma vida em si.
    Aproveite os maus momentos para descobrir o que o faz tremer. Aproveite os
    bons momentos para encontrar seu caminho até a paz interior.
    Mas não pare por temor nem por alegria: o caminho do arco é um caminho
    sem fim.
    O MOMENTO DE DISPARAR
    Existem dois tipos de tiro.
    O primeiro é aquele que é dado com precisão, mas sem alma. Neste caso,
    embora o arqueiro tenha um grande domínio da técnica, ele concentrou-se
    exclusivamente no alvo – e por causa disso não evoluiu, tornou-se repetitivo, não
    conseguiu crescer, e um dia irá deixar o caminho do arco, porque acha que tudo
    transformou-se em rotina.
    O segundo tiro é o que é dado com a alma. Quando a intenção do arqueiro se
    transforma no vôo da flecha, sua mão abre no momento certo, o som da corda faz os
    pássaros cantarem, e o gesto de atirar alguma coisa à distancia provoca – paradoxalmente
    – um retorno e um encontro consigo mesmo.
    Você sabe o esforço que custou para abrir o arco, respirar direito, concentrarse
    em seu objetivo, ter clara sua intenção, manter a elegância da postura, respeitar o alvo.
    Mas precisa também compreender que nada neste mundo fica conosco por
    muito tempo: em um dado momento sua mão terá que se abrir, e deixar que sua intenção
    siga seu destino.
    Portanto, a flecha tem que partir, por mais que você ame todos os passos que o
    levaram até à postura elegante e à intenção correta, e por mais que você admire suas
    plumas, sua ponta, sua forma.
    Mas ela não pode sair antes do arqueiro estar pronto para o disparo, porque
    seu vôo seria pequeno. Ela não pode sair depois de se ter atingido a postura e a
    concentração exatas, porque o corpo não resistiria ao esforço e a mão começaria a tremer.
    Ela tem que partir no momento em que o arco, o arqueiro, e o alvo se
    encontram no mesmo ponto do universo: isso é chamado de inspiração.
    A REPETIÇAO
    O gesto é a encarnação do verbo: ou seja, uma ação é um pensamento que se
    manifesta.
    Um pequeno gesto nos denuncia, de modo que temos que aperfeiçoar tudo,
    pensar nos detalhes, aprender a técnica de tal maneira que ela se torne intuitiva. Intuição
    nada tem a ver com rotina, mas com um estado de espírito que está além da técnica.
    Assim, depois de muito praticar, já não pensamos em todos os movimentos
    necessários: eles passam a fazer parte de nossa própria existência. Mas para isso, é
    preciso treinar, repetir.
    E como se não bastasse, é preciso repetir e treinar.
    Observe um bom ferreiro trabalhando o aço. Para o olhar destreinado, ele está
    repetindo as mesmas marteladas.
    Mas quem conhece o caminho do arco, sabe que cada vez que ele levanta o
    martelo e o faz descer, a intensidade do golpe é diferente. A mão repete o mesmo gesto,
    mas a medida que se aproxima do ferro, ela compreende se deve toca- lo com mais
    dureza ou mais suavidade.
    Assim é com a repetição: embora pareça a mesma coisa, ela é sempre distinta .
    Observe o moinho. Para quem olha suas pás apenas uma vez, ele parece girar
    com a mesma velocidade, repetindo sempre o mesmo movimento.
    Mas aquele que conhece os moinhos sabe que eles estão condicionados ao
    vento, e mudam de direção sempre que isso é necessário.
    A mão do ferreiro foi educada depois que ele repetiu milhares de vezes o
    gesto de martelar. As pás do moinho são capazes de se moverem com velocidade depois
    que o vento soprou muito, e fez com que suas engrenagens ficassem polidas.
    O arqueiro permite que muitas flechas passem longe do seu objetivo, porque
    sabe que só irá aprender a importância do arco, da postura, da corda, e do alvo, depois
    que repetir seus gestos milhares de vezes, sem medo de errar.
    E os verdadeiros aliados jamais o criticarão, porque sabem que o treinamento
    é necessário, é a única maneira de aperfeiçoar seu instinto e seu golpe.
    Até que chega o momento em que não é mais preciso pensar no que se está
    fazendo. A partir daí, o arqueiro passa a ser seu arco, sua flecha, e seu alvo.
    COMO OBSERVAR O VÔO DA FLECHA
    Uma vez que a flecha foi disparada, já não há mais nada que o arqueiro possa
    fazer, a não ser acompanhar o seu percurso em direção ao alvo. A partir deste momento, a
    tensão necessária para o tiro já não tem mais razão para existir.
    Portanto, o arqueiro mantem os olhos fixos no vôo da flecha, mas seu coração
    repousa, e ele sorri.
    A mão que soltou a corda é empurrada para trás, a mão do arco faz um
    movimento de expansão, o arqueiro é forçado a abrir os braços e enfrentar, de peito
    aberto, o olhar de seus aliados e de seus adversários.
    Neste momento, se treinou o bastante, se conseguiu desenvolver seu instinto,
    se manteve a elegância e a concentração durante todo o processo do disparo, ele sentirá a
    presença do universo, e verá que sua ação foi justa e merecida.
    A técnica faz com que as duas mãos estejam prontas, que a respiração seja
    precisa, que os olhos possam fixar o alvo. O instinto faz com o momento do disparo seja
    perfeito.
    Quem passar por perto e ver o arqueiro de braços abertos, com os olhos
    acompanhando a flecha, irá achar que está parado. Mas os aliados sabem que a mente de
    quem fez o disparo mudou de dimensão, está agora em contacto com todo o universo: ela
    continua trabalhando, aprendendo tudo o que aquele disparo trouxe de positivo,
    corrigindo os eventuais erros, aceitando suas qualidades, esperando para ver como o alvo
    reage ao ser atingido.
    Quando o arqueiro estica a corda, pode ver o mundo inteiro dentro do seu
    arco. Quando acompanha o vôo da flecha, este mundo se aproxima dele, o acaricia, e faz
    com que tenha a sensação perfeita do dever cumprido.
    Cada flecha voa de maneira diferente. Atire mil flechas, cada uma irá lhe
    mostrar um percurso distinto: esse é o caminho do arco.
    O ARQUEIRO SEM ARCO, SEM FLECHA, SEM ALVO
    O arqueiro aprende quando esquece as regras do caminho do arco, e passa a
    agir baseado apenas no seu instinto. Entretanto, para esquecer as regras, é preciso saber
    respeita- las e conhece-las.
    Quando ele atinge este estado, já não precisa dos instrumentos que o fizeram
    aprender. Já não precisa do arco, nem das flechas, nem do alvo – porque o caminho é
    mais importante que aquilo que o levou a caminhar.
    Da mesma maneira, o aluno que está aprendendo a ler chega ao momento em
    que se liberta das letras isoladas. e passa a criar palavras com elas.
    Entretanto, se as palavras estivessem todas unidas, elas não fariam sentido, ou
    complicariam muito o seu entendimento: é necessário que existam espaços entre as
    palavras.
    É necessário que, entre uma ação e a próxima, o arqueiro relembre tudo que
    fez, converse com seus aliados, descanse e fique contente com o fato de estar vivo.
    O caminho do arco é o caminho da alegria e do entusiasmo, da perfeição e do
    erro, da técnica e do instinto.
    Mas você só irá aprende-lo a medida que for atirando suas flechas.
    Quando Tetsuya parou de falar, já estavam na porta da carpintaria.
    - Obrigado pela companhia – disse ao rapaz.
    Mas este não se moveu.
    - Como posso saber se estou agindo certo? Como terei certeza de que tenho o
    olhar concentrado, a postura elegante, o arco seguro de maneira correta?
    - Mentalize a idéia de um mestre perfeito sempre ao seu lado, e faça tudo para
    reverencia-lo e honrar seus ensinamentos. Este mestre, que muitos chamam de Deus,
    outros chamam de “a coisa”, outros chamam de talento, está sempre ali nos olhando. Ele
    merece que o melhor.
    “Lembre-se também dos seus aliados: você tem que apóia-los, porque eles lhe
    ajudarão nos momentos em que estará precisando. Procure desenvolver o dom da
    bondade: este dom lhe permite estar sempre em paz com seu coração. Mas sobretudo não
    esqueça: o que lhe falei são talvez palavras inspiradas, mas só terão sentido se você as
    experimentar.
    Tetsuya estendeu a mão para despedir-se, mas o rapaz pediu:
    - Só mais uma coisa: como foi que aprendeu a atirar?
    Tetsuya refletiu um pouco: valia a pena contar? Mas como aquele tinha sido
    um dia especial, terminou abrindo a porta de sua oficina.
    - Vou preparar um chá. E vou contar a história – mas você terá que prometer a
    mesma coisa que eu pedi que o estrangeiro me prometesse: jamais comentar com
    ninguém sobre minha habilidade.
    Entrou, acendeu a luz, tornou a envolver seu arco com a longa tira de couro, e
    colocou-o em um lugar discreto: se alguém o achasse por acaso, iria pensar que era
    apenas um pedaço de bambu retorcido. Foi até a cozinha, preparou o chá, sentou-se com
    o rapaz, e começou sua história.
    - Eu trabalhava para um grande senhor das redondezas: era encarregado de
    cuidar dos seus estábulos. Mas como o senhor viajava sempre, e meu tempo livre era
    enorme, resolvi me dedicar ao que considerava a verdadeira razão de viver: bebida e
    mulheres.
    “Um belo dia, depois de várias noites em claro, senti uma vertigem e cai no
    meio do campo. Achei que ia morrer, e entreguei-me. Mas um homem que jamais tinha
    visto passou pela estrada, amparou-me, levou- me até sua casa – em um lugar muito
    distante daqui – e cuidou de minha saúde durante meses seguidos. Enquanto repousava,
    eu o via todas as manhãs ir para o campo com seu arco e suas flechas.
    “Quando me senti recuperado, pedi que me ensinasse a arte do arco – era
    muito mais interessante que cuidar de cavalos. Ele me disse, entretanto, que minha morte
    tinha se aproximado muito, e agora não podia faze- la recuar: ela estava a dois passos de
    mim, eu já havia causado muito dano a meu corpo físico.
    “ Se eu quisesse aprender, era apenas para que minha morte não me
    tocasse. Um homem de um país distante, do outro lado do oceano, havia lhe ensinado que
    era possível desviar por algum tempo o caminho até o precipício da morte. Mas no meu
    caso , pelo resto de meus dias, eu precisava ter consciência de que estava caminhando à
    beira deste abismo, e podia cair nele a qualquer momento.
    “Ensinou-me então o caminho do arco. Apresentou-me aos seus aliados,
    obrigou- me a participar de competições, e logo minha fama se espalhou por todo o país.
    Quando viu que eu já aprendera o suficiente, retirou minhas flechas, meu alvo, deixando
    apenas o arco como lembrança. Disse que eu usasse todo aqueles ensinamentos para fazer
    algo que realmente me enchesse de entusiasmo.
    “Eu comentei que a coisa que mais gostava era a carpintaria. Ele me
    abençoou, pediu que eu partisse e me dedicasse ao que gostava de fazer, antes que minha
    fama como arqueiro terminasse por me destruir, ou me levasse de volta à antiga vida.
    “ Desde então, travo todos os segundos uma luta contra meus vícios e
    minha auto-piedade. Preciso estar concentrado, manter a calma, fazer com amor o
    trabalho que escolhi, e jamais ter apego ao momento presente. Porque a morte continua
    ainda muito próxima, o abismo está do lado, e eu caminho pela sua borda.”
    Tetsuya não disse que a morte está sempre perto todos os seres vivos: o
    rapaz era ainda muito jovem, e não precisava ficar pensando nisso. Tetsuya tampouco
    disse que cada etapa do caminho do arco estava presente em qualquer atividade humana.
    Apenas abençoou o rapaz, da mesma maneira que tinha sido abençoado há
    muitos anos, e pediu que fosse embora, porque tinha sido um longo dia, e precisava
    dormir.
    AGRADECIMENTOS
    Herve Louit e Didier Faure, por me terem aberto o caminho do arco.
    Harrigel , pelo livro “Zen e a arte cavalheiresca do tiro com arco” (Ed.
    Pensamento)
    Pamela Hartigan, diretora geral da Schwab Foudation for Social
    Entrepreneurship: por descrever as qualidades dos aliados.
    Dan e Jackie DeProspero pelo livro sobre Onuma-san, “Kyudo”( Budo
    Editions, France).
    Carlos Castaneda, pela descrição do encontro da morte com o nagual Elias.
    posted by iSygrun Woelundr @ 5:18 PM   0 comments
    As quatro nobres verdades. A felicidade dos Budas. A Iluminação vem de Buda - OTÁVIO LEAL
    “Grande parte do sofrimento
    é criada por nós mesmos.”
    Dalai Lama
    Os iluminados de escolas budistas ou não citam que existe a felicidade, mas
    também o sofrimento, pois não se pode negá-lo.
    Ter contentamento e felicidade é não se surpreender com momentos de
    sofrimento.
    No budismo, há o conceito das Quatro Nobres Verdades, que são instrumentos
    para reconhecermos a felicidade. Esse método que você aprende agora é seguido por
    milhares de praticantes, budistas ou seguidores de outras crenças.
    1ª nobre verdade: o sofrimento existe para todos.
    Em maior ou menor proporção, sofremos com mágoas, morte física, perdas,
    tristeza — há infelicidades na vida. Não negue isso, mas fique alerta com seu
    sofrimento.
    Mestres e meditadores encaram com muita consciência os momentos de dor. E o
    homem moderno cria toda espécie de fuga contra as origens da dor: álcool, cigarro e
    drogas variadas. São João da Cruz, que passou por momentos de muita dor, escreveu
    Noites escuras, um clássico meditativo. Ele nos diz que a solidão nesses momentos
    pode nos tornar conscientes e nos ajuda a ultrapassar algumas situações.
    Uma amiga sempre se queixava que em sua vida as situações de dor se repetiam.
    Dizia ela: “Eu já passei por isso”. Passou, mas não ultrapassou, não foi a fundo, não
    se desapegou.
    É necessário entrar em contato com o sofrimento, e não fugir dele.A vida não é só
    felicidade.
    Sucesso não é ser feliz. Sucesso é ser você.
    Suzuki, o mestre zen, escreveu: “Toda dor vem do desejo de não sentirmos
    dor”.
    2ª nobre verdade: descobrir as raízes do sofrimento, as causas da dor.
    Algumas dicas sobre as causas: apego, julgamento, inconsciência,
    descontentamento. Medite agora sobre o que causa sofrimento em sua vida.
    3ª nobre verdade: interromper o sofrimento.
    Evite pensamentos e atitudes que geram sofrimento.
    Se o álcool é sofrimento, eu descubro por que bebo e transformo esse hábito.
    Se o cigarro é sofrimento, eu descubro por que fumo e transformo esse hábito.
    Se o jogo é sofrimento, eu descubro por que jogo e transformo esse hábito.
    4ª nobre verdade: seguir o caminho para eliminar o sofrimento.
    São oito passos ensinados ao mundo pelo iluminado Sidarta Gautama, o Buda
    histórico.
    Esse caminho é chamado de Caminho Óctuplo por dividir-se em oito partes.
    Vamos a elas:
    1ª parte: o caminho da compreensão dos fatos. Ter consciência.
    Buda dizia que este mundo é saha — ou seja, impossível de apegar-se, pois nada
    é permanente.
    Olhe o mundo sem ilusões ou distorções. Enxergue a verdadeira natureza de todas
    as coisas por detrás das ilusões. A verdade do que existe, e não de suas expectativas.
    Conheça suas raízes de luz e de sombra e seja consciente delas.
    2ª parte: o caminho do pensamento e da intenção correta. Falar mentalmente
    com benevolência.
    É o falar com a mente, é a necessidade de a usarmos sem egoísmo. Trata-se do
    contentamento e das expectativas honestas no pensar em si e pensar nos outros.
    A Dhammapada, um texto sagrado do budismo que reflete as palavras de Buda, é
    inspirador para entendermos a intenção correta:
    “O pensamento se manifesta como uma palavra na mente,
    A palavra se transforma em uma ação,
    A ação se transforma num hábito,
    E o hábito se cristaliza como temperamento”.
    Portanto, fique consciente de seus pensamentos e dos resultados deles. E faça com
    que brotem na compaixão e no respeito para com todos os seres.
    Da mesma forma que a sombra segue o corpo, nós nos tornaremos aquilo que
    pensamos.
    Há uma prática do budismo chamada tonglen, que consiste, dentre outras coisas,
    em aceitar os encargos da vida sem se sentir sobrecarregado, e uma opção para
    alcançar esse objetivo é perdoar os outros e a si mesmo, abandonar a autopiedade, a
    culpa e a vergonha de ser você.
    No Tao te king, de Lao Tse, está escrito:
    “Quando você aceita a si mesmo, o mundo
    inteiro o aceita”.
    3ª parte: o caminho da atenção ao presente. Ter atenção plena.
    Esse caminho consiste em usar nossa energia para o momento presente, pois é
    aqui e agora que podemos de fato Ser.
    Dicas:
    · Tenha atenção sempre e, o mais possível, consciência do presente.
    · Conte suas respirações e feche os olhos nos momentos de
    inconsciência, para voltar ao presente.
    · Preste atenção ao andar, ao mastigar, ao ouvir uma música, ao olhar
    sem julgar, ao namorar, ao dançar, enfim, em todos os atos.
    Não tente parar de pensar. Aliás quem tentaria? Isso já é um Koan: Quem tentaria
    parar de pensar?
    Observe os pensamentos sem se identificar com os mesmos.
    4ª parte: o caminho da fala correta. Ter atenção com as palavras.
    Evitar palavras violentas, agressivas, perversas. Use as palavras para ajudar, e não
    para ferir.
    “Melhor do que uma história sem sentido que tem mil
    palavras é uma única palavra com significado profundo
    que, ao ser ouvida, produz a paz.”
    Buda
    Muitos fazem orações pedindo só para si. Já assisti em missas na TV pessoas
    pedindo emprego só para elas, esquecendo, às vezes, milhões que nem comida têm.
    A fala correta pode ser praticada com essa oração chamada Meha, na qual
    mentalizamos por todos os seres. É uma mentalização sem egoísmo.
    “Que todos os seres possam ser felizes, contentes e realizados.
    Que todos os seres possam se sentir saudáveis e equilibrados.
    Que todos possam ter aquilo que querem e precisam.
    Que todos estejam protegidos contra o mal e livres do medo.
    Que todos os seres tenham paz interior e bem-estar.
    Que todos estejam despertos, liberados, independentes e não tenham
    limitações.
    Que haja paz neste mundo e em todo o universo.”
    Ao final dessa oração agradeça por todas as bênçãos que o planeta
    tem, a existência nos oferece.
    Exercício da Palavra Correta
    Essa técnica faz parte de mosteiros budistas no Japão. Durante um dia
    todo se utiliza da palavra correta.
    · Lembre-se de já ao acordar pensar: “ Hoje será o dia das palavras gentis e
    amorosas”
    · Durante todo dia mesmo se houver irritação, mantenha suas palavras suaves
    · Observe seu tom de voz, fale com paciência, bondade e delicadeza
    · Fale a verdade, não fofoque
    · Diga às pessoas que se importam com elas (e se importe realmente)
    · Não fale em excesso .
    5ª parte: o caminho da ação correta. Não prejudicar ninguém, preservar e
    “acariciar” a vida e não matar.
    Eis aqui o treinamento da generosidade, que estudaremos com mais detalhes no
    item “Quem dá é quem deve agradecer”.
    A ação correta também é o estudo sobre “O caminho do meio”, filosofia tão
    ensinada por várias escolas de iluminação, como a taoísta, a budista e a hinduísta. Os
    Lamas ensinam que os antagonismos no mundo ou em nossa vida seriam resolvidos
    se ambos os lados cedessem um pouco, não se deixando dominar pelos extremos. Por
    exemplo:
    · alimentação: nem pouco nem muito;
    · trabalho: nem pouco nem muito;
    · esportes: nem pouco nem muito;
    · dormir: nem pouco nem muito;
    · diversões: nem pouco nem muito.
    Enfim, em todos os aspectos da vida, sempre o caminho do meio.
    6ª parte: o caminho ao trabalho correto.Ecologia e Étia profissional
    Trata-se de trabalho ético, ecológico, útil a você e a todos os seres vivos do
    planeta Terra. É um trabalho do bem, em vez de ficar a vida toda só pensando em
    como ganhar, gastar, economizar, ganhar, gastar, economizar... ad infinitum.
    Dentro do budismo, há o conceito dos oito ventos mundanos, ou influências, que
    podem criar tristeza pessoal ou mundial.
    Segundo esse ensinamento, todas as nossas intenções são regidas por essas
    influências e assim podemos perceber se nossas motivações são reais ou mundanas.
    Os oito ventos mundanos são quatro pares de polaridades de desejo/aversão a
    seguir descritos:
    · prazer / dor (a si e aos outros);
    · ganho / perda (a si e aos outros);
    · elogio / crítica (a si e aos outros);
    · fama / vergonha (a si e aos outros).
    Toda vez que temos apego e preocupação exagerada com o prazer, o ganho,
    o elogio e a fama geramos como desequilíbrio a reação contrária de dor, perda,
    crítica e vergonha.
    Se observar o mercado de trabalho, você poderá notar como os ventos
    mundanos sopram em todas as direções, fazendo com que num instante se
    sinta um vencedor e no outro um derrotado, de acordo com os diferentes níveis
    de interesse individual e coletivo. Quando é o seu interesse que prevalece
    sobre o dos demais, você se sente feliz, vencedor. Mas quando é o do outro
    que prevalece sobre o seu, você se sente triste, enfraquecido e até derrotado.
    Quando me concentrava para escrever sobre contentamento e felicidade no
    trabalho, surgiram em mim muitas dúvidas porque sei que no planeta há
    milhões de desempregados, outros que trabalham somente por moradia e
    alimento, milhões que trabalham em empresas antiecológicas, insaciáveis na
    ganância de explorar o próximo ou o planeta, empresas parasitas que só visam
    o lucro de seus presidentes e diretores e um salário limitado a seus
    funcionários. A escravidão ainda existe no planeta com outros nomes, na
    África e Ásia existem ainda hoje 74 milhões de escravos oficiais.
    O homem passou a trabalhar várias horas ao dia há pouco tempo, algo em
    torno de 4 mil anos. Antes, coletávamos alimento, executando no máximo
    duas horas de trabalho diário em média. Hoje, em todo o mundo questiona-se
    muito o fato de as pessoas trabalharem tanto, 12, 16 horas ao dia ou mais...
    Na atual civilização, se você não tiver um trabalho, um sustento, passará
    por apuros.
    Quando uma pessoa quer tornar-se monge budista, deve pedir esmolas para
    aprender a humildade. Isso é muito difícil, as pessoas a quem você recorre
    solicitando alimentos, roupas ou valores viram o rosto, não abrem as portas
    dos lares, fecham os vidros do carro etc.
    Se você não quer passar por isso, case com alguém milionário ou receba
    alguma herança, ou ganhe na Loto, ou... trabalhe. Trabalho não é uma
    obrigação. É uma opção. Trabalho não é o único meio de sobrevivência, mas
    um meio que pode desenvolver alguma capacidades.
    O trabalho só será monótono se você não for criativo, só será luta para
    lutadores de boxe ou de artes marciais. Fora isso, ele pode fluir e haverá
    contentamento.
    Seja realista, não caia na armadilha de imaginar: “quando meu trabalho for
    assim...” ou “quando eu for reconhecido...”, ou “quando eu ganhar mais...”, ou
    ainda “quando eu criar meu próprio negócio...”.
    Em várias peregrinações que fiz na Ásia encontrei situações de trabalho
    realmente escravo. Mas será que esse é seu caso?
    Acreditar que alguém o escraviza e você não pode escapar é uma boa
    desculpa para não ir atrás de melhores oportunidades, bons salários, novas
    opções. Você poderá pôr a culpa em seu país, no patrão, na empresa, no
    destino etc.
    Mas lembre-se do poder pessoal. Você coloca poder no que pensa e faz. Se
    você pensar e trabalhar com queixas, mau humor, falsidade, desmotivação,
    você encontrará tudo isso na vida. Ao contrário, se pensar e trabalhar nutrindose
    de energia, harmonia, boa vontade, leveza, relaxamento, bom humor,
    vontade de aprender, você estará fazendo bem a si mesmo.
    Mude também a crença de que quem faz o que gosta não ganha bem.
    Conheço pessoas frustradas com o que fazem, mas escolheram isso em busca
    de poder, status, dinheiro a troco de cumprir ordens absurdas e assim passaram
    a realizar algo que odiavam. Com o tempo essas pessoas se tornam vazias
    porque só trabalham para ter poder.
    Não espere que “os outros” valorizarem seu trabalho.
    Você deve se valorizar e apoiar em vez de apenas esperar que caiam do céu
    elogios e apoio.
    Perguntaram ao rabino de Kotzk:
    — O mandamento “não roubarás” refere-se a não roubar do semelhante?
    — Não só isso — respondeu Kotzk. — Não roubarás de você mesmo.
    Portanto, que seu trabalho não roube o tempo que deve ser dedicado a
    outras atividades.
    Tempo não é dinheiro.
    O tempo não passa.
    Quem passa somos nós, o tempo fica. Tanto que um dos apelidos de Deus
    no Judaísmo e Cristianismo é Eterno. O tempo é eterno. Já que é você quem
    passa pela vida, aproveite-a.
    Se tem dificuldade em gostar do que faz, aqui vão algumas dicas:
    · Lembre-se de que você não é seu trabalho. Ele, sim, é uma parte de
    sua vida, não tudo.
    · Respire fundo nos momentos difíceis.
    · Medite sempre se seu trabalho ou a empresa onde trabalha são bons
    para o planeta. Se ela faz algum mal ao próximo, realmente será
    difícil alcançar a felicidade . Difícil, mas não impossível. Acredite
    no impossível, e ele se tornará possível.
    · Não leve seu trabalho para o lar ou para dentro de você quando ele
    não estiver indo bem. Lembre-se de que poucos morrem de trabalhar
    e muitos morrem de estresse, que é causado também por falta de
    prazer. Muito pior do que o morrer de trabalhar é a morte por
    depressão. Em 1998 morreram por esgotamento profissional 2
    milhões de pessoas, e por depressão, 58 milhões.
    · Seja criativo todos os dias. Criar é prazeroso. Conheço muitas
    pessoas descontentes profissionalmente que, quando se tornaram
    criativas, passaram a ser mais contentes. Aqueles que trabalham
    como máquinas correm o risco de ser substituídos por elas.
    · Segundo Confúcio: “Encontre um trabalho que lhe dê prazer, e você
    nunca terá que trabalhar”. E Richard Bach preconiza: “Quanto mais
    eu quero que algo seja realizado, menos eu chamo de trabalho”.
    Se você puder escolher a profissão dos seus sonhos, escolha. Não ligue só
    para o dinheiro. Os índios praticamente não têm nada material, mas nem
    por isso podem ser considerados pobres.
    Procurar economizar um pouco é uma boa maneira de ter contentamento,
    pois nos momentos de imprevistos — e imprevistos acontecem — você não se
    desequilibrará e também para momentos prazerosos que requerem valores.
    Se precisar, comece tudo de novo. Michelangelo, quando pintava a
    Capela Sistina, em certo momento não estava contente com seu trabalho e
    humildemente começou tudo de novo.
    Na vida sempre há a chance de começar tudo de novo. E de fazer bemfeito
    e com boa vontade.
    Reflita: o sucesso não é a “alma do negócio”. Sua alma é silênciosa e
    está no ócio. Você não precisa fazer nada para percebê-la.
    7ª parte: o caminho do esforço correto.
    Muitos são os que só se esforçam para ter posses, poder sobre os outros,
    dinheiro, carros novos, enfim. Esforço correto, segundo as tradições orientais,
    é:
    1. evitar julgar (tratado no item);
    2. evitar hábitos nocivos (cigarro, sedentarismo, inveja e drogas);
    3. ter pensamentos iluminados:
    - generosos,
    - pacientes (a paciência surge com a tolerância),
    - sábios (equilibrados, pensando não só em você),
    - éticos com os seres vivos;
    4. ser autêntico (evitar a comparação);
    5. ser gentil e carinhoso
    6. saber ouvir os outros com o coração, quando puder e desejar, ajudar.
    7. silenciar a mente
    8ª parte: o caminho da concentração correta.
    É muito semelhante com o 3ª caminho, sobre a atenção plena. Na prática
    consiste em focar sua mente, concentrar-se em uma coisa de cada vez, antes de
    entrar em silêncio.
    Como reflexão sobre o Caminho Óctuplo, proponho que medite em cada
    uma das partes estudadas e defina para si mesmo no que elas consistem em sua
    vida. Trata-se de seus pontos de vista ou pontos de intuição.
    A Amiga e Monja do Zen Budismo, Coen de Souza escreveu esse texto
    auspicioso que nos ensina o que a escola japonesa Zen sente sobre o
    contentamento e a felicidade.
    “Você me pede a falar sobre o contentamento e vou me lembrando de Buda que
    exortava seus monges a encontrar esse estado fundamental de saber contentar-se.
    Buda até completava "contentar-se com pouco", dizendo que aquele que se
    contenta com pouco fica feliz mesmo tendo de dormir no chão, enquanto que aquele
    que não conhece o contentamento pode ter todas as coisas materiais e mesmo
    espirituais, sem ser capaz de ficar feliz. A este sempre algo falta.
    No Parinirvana Sutra, o último sermão de Xaquiamuni Buda, ele fala de oito
    aspectos importantes que os monges e praticantes devem considerar.
    Mestre Eihei Dogen (1200-1253), fundador da tradição Soto Zen a que pertenço,
    no Japão, deixou um texto belíssimo baseado no Parinirvana Sutra no qual fala das
    oito iluminações ou despertares de um grande ser.
    O primeiro é ter poucos desejos, o segundo é o contentamento, o terceiro é sentir
    prazer na tranqüilidade, o quarto praticar diligência, o quinto não perder a
    concentração, o sexto praticar a meditação, o sétimo praticar a sabedoria e o oitavo
    não se envolver em falar à toa.
    Vou reproduzir aqui apenas o texto referente ao contentamento:
    "Buda disse: Se vocês monges quiserem se livrar de todas as espécies de
    sofrimento vocês devem refletir sobre conhecer a satisfação. A prática do
    contentamento é o próprio local da abundância, felicidade e paz. Aqueles que
    conhecem o contentamento, mesmo deitados no chão, estão confortáveis e alegres.
    Aqueles que não conseguem ficar satisfeitos, mesmo morando em um palácio
    celestial ainda não estão bem. Aqueles que não conhecem o contentamento, mesmo
    sendo ricos são pobres. Aqueles que conhecem o contentamento mesmo sendo
    pobres são ricos. Aqueles que não conseguem ficar satisfeitos são constantemente
    puxados e empurrados pelos cinco desejos. Os que conhecem o contentamento se
    apiedam daqueles que não o conhecem. Isto é chamado saber estar satisfeito".
    Isto o satisfaz? É suficiente? Traz contentamento”?
    Mãos em prece
    Monja Coen
    Reflexão:
    · E agora faça a sua reflexão sobre cada uma das partes do caminho
    sagrado do budismo. O que é para você:
    · Compreensão correta:
    · Pensamento e intenções corretas:
    · Atenção (ao presente) correta:
    · Palavras corretas:
    · Ações corretas e o caminho do meio (sem extremos):
    · Meio de existência correto:
    · Esforço correto:
    · Concentração correta:
    Use sua intuição e reflita sobre a noção de “correto” para você, mas não
    para a sua sociedade.
    Koan
    Se a natureza da sua mente é pensar, qual a natureza da sua essência?
    Quais são suas ilusões?
    Você na essência pode se tornar compassivo e amoroso ou já é compassivo
    e amoroso por natureza?
    posted by iSygrun Woelundr @ 5:15 PM   0 comments
    Avadhut Gita (A Canção do Asceta) - Mahatma Dattatreya
    Índice
    Índice 1
    Avadhut Gita 1
    Introdução 1
    Capítulo 1 2
    Capítulo 2 6
    Capítulo 3 9
    Capítulo 4 12
    Capítulo 5 13
    Capítulo 6 15
    Capítulo 7 17
    Capítulo 8 17

    Avadhut Gita
    O Bhagavad Gita, "O cântico do Senhor", é o mais famoso texto hindu conhecido no Ocidente, porém, na índia outros Gitas são igualmente famosos e respeitados. O Avadhut é um deles.
    Ele é um dos poucos livros que os Yogues preservam quando da proximidade da realização espiritual e mesmo após...
    Ele é, como o nome diz, "A Canção do Asceta", as palavras de um Mestre; Dattatreya, que ouviu a Voz do Silêncio, transcendeu o tempo e nos traz a sabedoria da Idade do Ouro até a nossa Idade do Ferro, Kaly Yuga.
    Ele é um clássico de Vedanta, um livro imperdível para toda e qualquer pessoa que se interesse por filosofia oriental e Yoga.
    Ele é um, dos "livros de cabeceira" da humanidade, é a Sabedoria Antiga Viva.
    O Ocidente parece finalmente estar se abrindo para uma perspectiva não-materialista, não-fragmentada do homem e da natureza. Termos como Holístico, Totalidade, Transpessoal, já fazem parte do cotidiano.
    Na tentativa de aprofundar o conhecimento da filosofia Oriental e ao mesmo tempo de mostrar os mitos formadores do Ocidente moderno, apresentamos ao leitor brasileiro clássicos medievais com fundo místico, esotérico e também jóias Vedantinas como o Avadhut Gita, e pinçadas de realidade como O Zen e a Arte do Pastoreio do Touro.
    Introdução
    O Avadhut Gita do Mahatma Dattatreya é um daqueles livros cuja origem histórica está submersa no tempo.
    O seu autor teria vivido na Idade do Ouro (Satyuga) e desde a mais tenra idade demonstrava pendores de asceta e reiterada tendência religiosa.
    Sua família era nobre, seu pai o Rei Atri e sua Mãe Anasuya, mulher piedosa tal como o marido. A Rainha teve três filhos: o primeiro foi Dattatreya, o segundo Durvasa e o terceiro Chandrama.
    Os três Irmãos tinham características das três Gunas (qualidades da matéria, na filosofia hindu). Chandrama era dominado pela qualidade de Raja (brilho, força, atividade), Durvasa era influenciado pela qualidade de Tamas (trevas, inatividade, lentidão) mas Dattatreya era a personificação de Satva (pureza, sabedoria, luz).
    Dattatreya reinou após a morte de seu pai e seu governo foi o mais benigno que o seu país teve; porém ele renunciou a tudo e se tomou monge errante (tal qual Buda) ensinando, a todos os que estivessem preparados, o caminho da libertação.
    A palavra "Gita" quer dizer "canção" e "Avadhut" significa "asceta, renunciante, grande alma" (mahatma). Existem muitos Gitas na tradição indiana, sendo no Ocidente o mais conhecido o "Bhagavad Gita", mas na índia outros Gitas são também muito conhecidos e apreciados; entre eles podemos citar o "Shiva Gita", o "Rama Gita", e o "Devi Gita".
    O Avadhut é texto clássico vedantino destinado aos yogues mais avançados; a Vedanta é um dos seis principais Darshanas, pontos de vista da filosofia Hindu. A palavra "Vedanta" quer dizer "final dos Vedas" e o expoente maior da Vedanta foi, sem sombra de dúvidas, Sankacharya, discípulo de Govinda, que viveu por volta de 788-820 AC.
    A filosofia Vedanta está calcada na afirmação “Tat Vam Asi"... Ou seja "Tu és Aquilo". Segundo esta filosofia, o Atma é a única realidade, o resto seria Maya (ilusão) ou Avidhya (ignorância).
    Somente a Vidya (sabedoria) pode levar o homem a Moksha (libertação), e essa sabedoria já está presente no homem. Ela não se manifesta, apenas, porque os véus sobre a consciência não permitem.
    A meditação e a concentração intensa são os principais meios de remover os véus. O Avadhut, embora destinado àqueles que já atingiram um estado avançado na Senda, pode ainda assim ser de ajuda mesmo àqueles que não chegaram a um estágio tão alto de consciência.
    Capítulo 1
    1. O desejo de Advaitismo é produzido nas mentes dos homens sábios pela graça de Deus, (graça essa que é) um antídoto para todos os medos.
    2. No eu, pelo próprio eu, se contém tudo isto (ou seja, o mundo). Como posso adorar o Atma (que é) informe, incapaz de divisão, e ventura imorredoura?
    3. A quem devo oferecer os meus respeitos (quando eu sou Brahman, eu próprio) sempre imaculado? Este mundo é apenas a obra de cinco elementos e na realidade não é mais do que u'a miragem.
    4. Verdadeiramente tudo isto é Atma. Não existe diferença, tampouco a não-diferença, nem existência ou não-existência: o que devo dizer? A mim tudo isto parece um espanto.
    5. Esta é a soma total do Vedanta "Eu sou Atma, o eu sem forma, presente a tudo por sua Natureza".
    6. Aquilo que é o Atma sempre refulgente de tudo; pelo tempo ilimitado como espaço, puro e sagrado por sua própria natureza; isso eu sou, sem dúvida.
    7. Eu sou imorredouro, puro, infinito e uma morada de conhecimento. Não conheço prazer ou dor, ou alguém a quem eles afetem, ou como.
    8. Para mim não há ato da mente que seja bom ou mau, ato do corpo, bom ou mau, ato de fala, bom ou mau. Eu sou o conhecimento, imortal e sempre puro além do alcance dos sentidos.
    9. A mente é livre e sem limites como o espaço, é onipresente, a mente é tudo e no entanto. a mente não é a verdade mais elevada. O Atma se acha além da mente.
    10. Eu sou este Um onipresente, ilimitado pelo espaço: como posso ver o Atma (Eu) manifesto ou imanifesto?
    11. Por que não refletes que tu és Um sozinho, o mesmo em tudo, indestrutível e imorredouro? Tu és sempre exaltado e indivisível. Por que, então, te lamentas dia e noite?
    12. Conhece o Atma para sempre como o Um absoluto, onipresente. Eu próprio sou o contemplador e o mais elevado contemplado. Como pode o indivisível ser dividido?
    13. Tu não és nascido nem morto, tampouco tens qualquer corpo. Tudo isto é Brahman. Assim declaram os Vedas para sempre.
    14. Tu és Ventura eterna onipresente, dentro e fora. Por que, então, vagueias aqui e acolá como um fantasma?
    15. Associação e separação, não existe qualquer delas para ti ou para mim. Não existes tu, não existo eu neste mundo. Tudo isto é Atma, sem dúvida.
    16. Som, odor e o mais, são efeitos dos cinco sentidos. Portanto, não és. Tampouco eles te pertencem. Tu és a Verdade mais elevada. Por que, então, te lamentas?
    17. Tu não tens nascimento, morte ou mente. Liberdade e confinamento, bem e mal não te afetam. Por que choras, criança'? Nem tu, nem eu, temos qualquer nome ou forma.
    18. ó mente! Por que vagueias perplexa, como um fantasma? Entende o Atma (que é) incapaz de divisão. Abandona o desejo e sê feliz.
    19. Verdadeiramente és a verdade, livre de todas as mudanças, o inabalável, a morada da emancipação. A ti não pertencem as paixões ou o desejo de paixões. Por que, então, te lamentas, dominado por desejos?
    20. Todos os Vedas proclamam que o Atma está livre de todas as qualidades. É uma Existência pura, imorredoura, sem forma e homogênea. Sabe que eu sou isso, sem dúvida.
    21. Sabe que tudo que existe em forma é irreal. Conhece o Um indiviso e informe. Pelo conhecimento desta verdade todo o nascimento futuro é nulificado.
    22. Os sábios declaram que sem dúvida existe apenas uma entidade imutável. Quando abandonas as paixões e resta apenas UM, a variedade desaparece.
    23. Como pode haver Samadhi se Atma não tem forma? Como pode haver Samadhi se não ocorre assim? Como pode haver Samadhi se não existe nem isto, nem aquilo? Tudo isto é ilimitado, como a própria Liberdade.
    24. Tu és a essência imutável pura, sem forma e sem morte. Como podes dizer que sabes isto e não sabes aquilo sobre o Atma?
    25. O eu, e somente o eu, é declarado por tais frases como (isso és tu). Isto, não é isto, é a palavra dos Vedas sobre a questão. O mundo fenomenal não é uma realidade.
    26. No eu somente e pelo eu (tu) somente se acha contido tudo isto (universo). Para ti não há contemplador, contemplação ou o órgão da contemplação. Como, então, contemplas e não te envergonhas?
    27. Eu não conheço O venturoso, como posso falar sobre Ele? Eu não conheço O venturoso, como posso adorá-Lo? Eu sou O venturoso, a verdade mais elevada, a essência homogeneamente una, livre e ilimitada como ó espaço.
    28. Eu não sou matéria, mas um princípio imutável e além do alcance da imaginação. Sou livre de toda a servidão, nem sou alguém que escraviza (outros). Como posso, então, ser cognoscível em minha natureza?
    29. Não existe outro senão o Um eterno, nenhum outro senão o princípio da existência. Apenas Atma é a verdade mais elevada. Não existe um que mata, nem o ato de matar.
    30. Quando um vaso se parte, seu espaço interior surge para o espaço universal; similarmente, na mente pura, apenas o Atma imaculado permanece. E então nenhuma diferença, em absoluto, existe para mim.
    31. Não existe o vaso, nem o espaço ocupado por ele; tampouco a alma individual ou seu receptáculo. Conhece o Brahman apenas, em quem não existe o cognoscente ou ,aquilo que é paira ser conhecido.
    32. Conhece o Atma como o eternamente verdadeiro em todos os lugares, em todos os tempos, porque de todas as maneiras o mundo é irreal mas o Atma é a própria realidade. Sabe que assim existo, sem dúvida.
    33. Não existem os Vedas nem as diferentes religiões; tampouco os deuses ou os sacrifícios; nem as etapas diferentes da vida, família, ou casta; tampouco a trilha de fumaça ou a trilha da luz; apenas existe o Brahman, a verdade mais elevada.
    34. Quando estás de fato esvaziado de tudo e estás onipresente, como podes achar que estás presente ou ausente?
    35. Alguns anseiam pela Unidade, outros pela Dualidade. Eles não conhecem a Essência imutável destituída de toda a dualidade e unidade.
    36. Como podem eles descrever a Essência que está vazia de todas as cores como o branco e as demais, ou de todos os atributos, tais como o som e o resto, e que é inacessível ao pensamento e fala?
    37. Quando alguém chega a conhecer Brahman, todo este mundo de matéria aparece sem base, como o ar. E então não resta dualismo em Um.
    38. A mim o Atma parece ser um, somente, e idêntico a Brahman. Como pode haver um contemplador, ou a contemplação em quem está livre como o espaço e não tem dualidade?
    39. O que quer que eu faça, coma, sacrifique e dê, nada é meu. Eu sou o puro, não gerado e imorredouro.
    40. Fica sabendo que todo o universo existe sem for-ma; que todo o universo existe sem mudança; aprende, agora, que todo o universo é como uma corporificação da pureza; que todo o universo é como uma espécie de Ventura ininterrupta.
    41. Tu és sem dúvida a Essência verdadeira; que mais sei eu? Como então achas. que o Atma seja inacessível ou acessível ao conhecimento?
    42. Ó caro! O que falas do Maya ou não Maya? Não existe a substância, nem a sua sombra. Tudo isto é uma Existência, pura e livre como o espaço.
    43. Eu sou sem começo, meio ou fim; tampouco me encontro em servidão. Sou puro em natureza. Esta é minha opinião definitiva.
    44. Este mundo, embora grandioso, parece-me nada. Tudo isto é Brahman. Como podem haver quaisquer etapas prescritas de vida?
    45. Eu sempre sei tudo. Sou eternamente um, verdadeiro e sem apoio. C Mundo com seus fenômenos, tais como o céu, etc., é falso.
    46. Tu não és um animal, homem ou mulher, tampouco és conhecimento ou ignorância; como, então, te consideras cheio de venturas ou destituído delas?
    47. Tu és uma Essência imorredoura, pura por tua própria natureza, não pura por virtude do Sadânga Yoga ou pela eliminação da mente ou pelas instruções do Guru.
    48. Tu não és um estojo de cinco elementos, tampouco alguém sem um corpo. Tudo é apenas Atma. Como podem haver a terceira ou quarta etapas?
    49. Não estou manietado, nem livre, tampouco me acho separado de Brahman. Não sou um agente, nem um desfrutador, acho-me despido de tudo que permeia e que é Permeado.
    50. Assim como a água atirada em água se toma uma só, sem distinção, a mim parece que o Prakriti e o Purusha são inseparáveis um do outro.
    51 . Quando não estás manietado, nem liberado, como então te consideras ser com ou sem forma?
    52. Eu sei que teu eu supremo está livre e onipresente como o espaço visível. Tudo o mais (o mundo) é ilusório como miragem.
    53. Não existe o Guru nem sua instrução, tampouco upadhi ou ação. Conhece o que é imaterial, livre como o espaço. Eu sou puro por minha própria natureza.
    54. Tu és puro e incorpóreo, tua mente é mais elevada que a mais elevada. Eu sou o Atma, o mais elevado de todos, não te envergonhes de dize-lo.
    55. Por que choras, ó mente? Exalta-te por teu Atma, criança. Bebe as águas da imortalidade e do Advaitismo.
    56. Não é conhecimento, tampouco a falta de conhecimento, nem conhecimento e ignorância juntos. Quem tem tal tipo de conhecimento possui um conhecimento verdadeiro, como não existe outro melhor.
    57. Não existe sabedoria ou lógica, nem meditação ou Yoga, tampouco tempo ou espaço, nem existem as instruções de um Guru. Eu sou a Verdade mais elevada, eternamente livre como o espaço.
    58. Não sou nascido, nem morto, tampouco meus atos são bons ou maus. Eu sou o Brahman puro e sem descrições. Como pode haver servidão ou emancipação para mim?
    59. Se O refulgente é difundido e preenche tudo por toda a parte, não vejo quaisquer diferenças. Como, então, pode haver qualquer exterior ou interior?
    60. Que maravilhosa é Maya, causa das noções de unidade e dualidade, pelas quais este universo parece um e intacto!
    61. Não há existências materiais ou imateriais, assim dizem os Vedas para sempre. Existe apenas o Atma, destituído de todas as dimensões de unidade e de separação.
    62. Tu não tens pai ou mãe, irmão ou esposa, amigo ou filho. Tu não és afetado pela parcialidade ou imparcialidade. Como, então, pode existir esta perturbação em tua mente?
    63. Não há dia ou noite, tampouco amanhecer ou ocaso em tua mente. Como podem homens sábios atribuir corpo ao incorpóreo?
    64. Sabe que o Atma imorredouro é destituído de todo ou de parte. Nele não há divisão ou união, nem pesar, nem alegria.
    65. Não sou agente, nem desfrutador, tampouco existem quaisquer atos a me prenderem. Não sou corpo, nem incorpóreo; como pode a posse ser atribuída a quem tem nenhuma?
    66. Não sou contaminado pelas paixões, etc. tampouco sofro aflições corporais. Conhece-me como o eu ilimitado como o espaço.
    67. Amigo, o que ganhas falando tanto? Amigo, o que ganhas com tais contorções intelectuais? Já te disse o que é a essência verdadeira. Tu és o mais elevado Eu, ilimitado como o espaço.
    68. Deixa que os Yogues morram com qualquer impressão mental e em qualquer lugar; eles se submergirão no Brahman como o espaço ocupado por um vaso se une com o espaço exterior.
    69. Aquele que morre, quer em casa ou em local de peregrinação, tendo-se despido de todas as ligações pessoais, se toma o Eu mais elevado de todos, permeando tudo.
    70. Os Yogues consideram toda a virtude, riqueza, ambição, as criaturas móveis de todas as ordens, até mesmo a salvação, como tão imaginárias quanto a miragem.
    71. Não desfruto, nem deixo de desfrutar os atos que foram ou estejam sendo cometidos. Esta é minha crença firme.
    72. O asceta batizado pelo sentimento de unidade vive feliz neste mundo de vacuidade; caminha sozinho, abandonando todo o orgulho, porque se realiza em seu próprio eu.
    73. Não existe o terceiro, nem o quarto estado de consciência: o mais elevado de todos se realiza em si próprio. Não há virtude ou vício. Como podem haver servidão ou emancipação?
    74. O asceta imerso no sentimento de unidade e purificado de todas as suas afecções mentais declara a verdade que nem os Mantrans , nem os versos védicos, ou a lógica podem exprimir (Brahman).
    75. Não existe vazio, nem plenitude, tampouco existência ou inexistência. Isto foi expresso de acordo com juízo intuitivo completado pelas instruções dos shastras.
    Fim do primeiro capitulo do Avadhuta Gita, por Shri Dattatreya, sobre o conhecimento do Atma.
    Capítulo 2
    1. Jamais deve importar se o professor é um menino ou alguém dependente do prazer sensório, ou se trata de um idiota ou servidor braçal, ou dona de casa. Alguém recusaria um diamante que estivesse incrustado de impurezas?
    2. Não deve importar se o Guru é ou não dotado de erudição poética. O sábio deve colher o bom que há nele. Por acaso o barco que não esteja pintado em vermelhão deixa de transportar passageiros ao outro lado do rio?
    3. Todo o mundo movível e imovível está englobado pela alma imutável, sem esforço algum. Esse Atma é por natureza tranqüilo, inteligente e livre como o espaço.
    4. Ele movimenta todo o Mundo movível e imovível sem o menor esforço. É onipresente. Como pode estar separado de mim?
    5. Mais sutil do que a própria Natureza, sou eterna e imutável Ventura, livre do bem e do mal, livre do movimento e da inércia.
    6. Sou incorpóreo e adorado assim pelos deuses. Sendo onipresente, os deuses não são diferentes de mim.
    7. Não creias ser eu quem impele os impulsos enganosos da mente. Eles surgem e se dissolvem como bolhas em um rio.
    8 e 9. Assim como a maciez, dureza, doçura e amargor são inseparáveis do macio, duro, doce e amargo, como o frio e a maciez são inseparáveis da água, também o Prakriti (Natureza ou matéria) que preenche tudo, do mais sutil elemento aos objetos mais grosseiros, apresenta-se inseparável do Purusha.
    10. Está além de qualquer distinção de nomes; é mais sutil que o mais sutil; encontra-se além do alcance do intelecto, da mente e dos sentidos. É o imaculado Senhor do Universo.
    11. Sendo Ele assim por Sua natureza, como pode haver "Eu" ou "Tu" ou este mundo n'Ele?
    12. O que chamamos livre e ilimitado como o céu, na verdade o é (pois não existe outro céu ao qual esta comparação se aplique). É imaculado e absoluto. Somente ele é Inteligência onisciente.
    13. Ele (Atma) não se move no chão, tampouco é levado pelo vento ou coberto pela água. Declara-se Ele que está sentado no meio da Luz Eterna.
    14. O espaço por toda a parte está permeado por Ele. Ele não é permeado por coisa alguma. Está englobando tudo, dentro e fora, e é Eterno e indivisível.
    15. Sendo sutil, invisível e sem atributos, não pode ser percebido de imediato. Sua percepção vem vagarosamente, como os Yogues explicaram.
    16. Ele que não depende de alguém e está incessantemente absorto na devoção e se libertou de todos os méritos ou defeitos internos, funde-se no curso desta disciplina, no Brahman. Não há outro meio de atingir essa absorção.
    17. Este é o único remédio soberano (néctar) para destruir a árvore venenosa, amarga e criadora de ilusões deste mundo.
    18. Aquilo que tem forma pode ser visto pelo olho, ,,mas aquilo que não tem forma só pode ser alcançado pelo sentimento. Acha-se além da existência e da inexistência ,do mesmo modo e por isso é chamado antarat, o mais interno de todos.
    19. Tudo que aparece externamente é o mundo. Dentro dele, é o Prakriti. Aquilo que se acha dentro desse ambiente interno merece ser compreendido, assim como compreendemos a existência da água em um coco que exteriormente parece feito de invólucro duro e além do qual há .a camada de polpa e depois sua água, que é a coisa mais interna de todas.
    20. O conhecimento das aparências externas é falso. O conhecimento de seu significado interno é sabedoria, porém o conhecimento do que se acha mais internamente vale a pena alcançar. O exemplo do coco e seu invólucro duro, polpa e água, também se justifica neste caso.
    21. Assim como a Lua na noite do Purnamasi (último dia do mês hindu) é uma e não apresenta defeitos, assim é ,o Atma. A dualidade é o resultado apenas da perversão da visão.
    22. As distinções são, desse modo, apenas os resultados da visão da pessoa, não as características do Onipresente. O adquirente deste conhecimento alcança o vigor mental necessário. O (Brahman) é decantado por milhões de nomes.
    23. Aquele que, erudito ou idiota, desperta para o conhecimento da Verdade mediante os ensinamentos de um Guru não se importa com o oceano da existência, isto é, se vê libertado dos cicios de migrações.
    24. Aquele que, livre das paixões e animosidade, estiver disposto a fazer o bem a todos os seres, que tiver convicções firmes e decisão forte, alcança a meta suprema.
    25. Assim como o espaço ocupado por um vaso se difunde, ao se partir o vaso, no espaço onipresente, também o Yogue, ao dissolver-se seu corpo, se funde com o espírito supremo.
    26. Apenas no caso do Karmayogue (o que pratica a trilha da ação) é que seu último desejo determina seu nascimento futuro. Esta doutrina do nascimento futuro seguindo-se ao último desejo não é tida como aplicável no caso do Yogue que pratica a trilha do conhecimento.
    27. A meta dos que seguem a senda das ações pode ser descrita pela faculdade da fala, mas a meta dos Yogues é inteiramente indescritível.
    28. Esta meta dos Yogues é imorredoura e se acha além da conceituação. Para quem a conhece, o êxito vem por si mesmo.
    29. O Yogue, quer morra em lugar de peregrinação ou em casa de um chandal (pessoa baixa e impura) ou em qualquer outro lugar não volta a ver o nascimento. Funde-se no Eu Supremo.
    30. Quem compreende o Atma que é, por sua natureza, além do nascimento e concepção, não se vê contaminado por qualquer impureza, embora se comporte como lhe aprouver. Sendo assim imaculável por pecado, esse Yogue realmente nada faz que o possa prender.
    31. Ele atinge aquele Atma Eterno e Supremo que se acha livre de todas as enfermidades, que não possui forma, não tem contornos, apoio, corpo, desejo, é livre de paixão, animosidade e apego, e que é um poder inexaurível.
    32. Ele atinge aquele Atma Eterno e Supremo que tem tão pouco a ver com os Vedas quanto com o professor e o discípulo, ou com a instrução sagrada. O rito de escanhoar a cabeça, os segredos dos Mantras e a prática das posições e gestos devocionais não têm ligação com ele.
    33. Ele alcança aquele Atma Supremo que não se caracteriza pelo sectarismo dos Shiva ou dos Shakti, que não é globular nem de qualquer outra forma, que não tem mãos ou pés e no qual não há espaço.
    34. Ele alcança aquele Atma Eterno e Supremo de quem este universo emerge, pelo qual é mantido e no qual afinal se dissolve, assim como as bolhas de um rio, que emergem e se fundem em suas águas.
    35. Ele alcança aquele Atma Eterno e Supremo que não pode ser compreendido pela fixação do olhar na ponta do nariz, em que não existe conhecimento ou ignorância e no qual não se encontram músculos ou veias.
    36. Ele alcança aquele Atma Eterno e Supremo que se acha livre de todas as noções de relatividade tais como variedade, unidade, qualidade, diferenciação, grandeza, pequenez, largura ou vacuidade e todas as noções de mensuração e sua capacidade, ou noções de igualdade ou disparidade.
    37. Ele alcança aquele Atma Eterno e Supremo, quer tenha ou não controlado seus sentidos, quer tenha ou não a cobiça de posses, quer se abstenha de, ou execute ações.
    38. Ele alcança aquele Atma Eterno e Supremo, onipresente como o éter, que não tem mente ou intelecto, nem corpo nem sentidos, nem a quintessência dos elementos, tampouco os elementos, nem o Ahankar (egoísmo).
    39. Para o Yogue cuja mente, despida de todas as noções de dualidade, se funde no Espírito Supremo, não há dever ou abstinências quanto ao dever, nem ordenação de pureza, tampouco sua proibição. Em outras palavras, nada há para ele que seja prescrito ou proscrito aos homens.
    40. O que a mente e a fala são incapazes de explicar, como pode o ensinamento de um Guru explicar? Para o Guru que está uno com Atma e que explica este segredo (divino), a verdade se apresenta sempre a mesma por toda a parte.
    Capítulo 3
    1. Como posso adorar essa Ventura (Brahman) que é ente como o espaço, em que não há distinção quanto a forma ou informidade? Ela é despida de amor e ódio, a ou informidade; é eternamente pura e destituída de os fenômenos, onipresente, e o universo é sua imagem.
    2. Ó, caro amigo! Como posso saudar a mim mesmo no Eu, pois eu sou (eu próprio) a Ventura Suprema Eterna que não tem distinção de cores tais como o branco, etc, que não se acha preso por causa e efeito, que é imutável a todas as mudanças e uma Ventura ilimitada?
    3. Eu existo sempre, não sendo nem a origem, nem o originador das coisas. Eu existo sempre, não sendo nem brilhante, nem tenebroso. Eu existo sempre, não sendo nem luz, nem escuridão. Eu sou o conhecimento imortal, uniforme e onipresente como o espaço.
    4. Como posso denominar O sem-desejos como desejos? Como posso denominar O desprendido como apegado? Como posso chamar O imaterial como material? Eu sou o conhecimento imortal, uniforme e onipresente como o espaço.
    5. Como posso denominar tudo isto de um, como posso chamar tudo isto de múltiplo, como posso chamar tudo isto de eterno ou efêmero? Eu sou o conhecimento imortal, uniforme e onipresente como o espaço.
    6. Nosso Atma não é material, nem etéreo, sujeito a migrações ou tendo qualquer início, meio ou fim; nem isto, nem aquilo. Estou dizendo a verdade, porque sou a Verdade Suprema. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    7. Fica sabendo que todos os sentidos são insubstanciais como o céu; que todas as paixões são insubstanciais como o céu; que Atma, apenas, está livre de todas as impurezas, servidões e mesmo libertação. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    8. Ó caro! o Atma é difícil de compreender e seu conhecimento inacessível; eu não sou sequer esse conhecimento (pois afinal ele é falso). Ó caro! o Atma é difícil de conceber, tal concepção é inatingível; não sou sequer essa concepção, pois também ela é falsa; mesmo uma aproximação a ela é difícil; não sou sequer isso (pois também é falsa). Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    9. Eu sou destituído de todas as ações. Eu sou o fogo que destrói todas as ações. Eu sou destituído de todos os sofrimentos. Eu sou o fogo que destrói todos os sofrimentos. Eu sou incorpóreo. Eu sou o fogo que destrói todos os corpos. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    10. Eu sou sem pecados, Eu sou o fogo que destrói todos os pecados. Estou livre de todos os deveres. Eu sou o fogo que engole todos os deveres. Eu sou sem servidões.
    11. Ó crianças! Eu não sou dotado de sentimentos nem estou sem eles. Não tenho companhia, nem estou sem ela; não tenho mente, nem a deixo de ter, eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    12. Eu sou destituído tanto de apego quanto de desapego; SOU destituído tanto de alegria quanto de tristeza; sou destituído tanto de cobiça quanto de não-cobiça. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    13. A árvore da continuidade do Samsara (mundo) não é Para mim; a alegria da Continuidade do contentamento não me afeta; a servidão da ignorância não é para mim. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    14. A atividade do Samsara (mundo) incessante não me afeta; a escuridão do sofrimento incessante não me afeta; a paz advinda do desempenho do dever não me afeta; eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    15. O curso das ações que produz sofrimento não me prende; a mente afetada pelos efeitos do sofrimento não se acha em mim; o material que produz Ahankar (egoísmo) não está em mim; eu sou o conhecimento mortal, imutável e onipresente como o espaço.
    16. Não sou calmo, nem perturbado; não sou refletido, nem irrefletido; estou destituído tanto dos estados de sono como de vigília; não sou bem, nem mal, nem móvel, nem parado. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    17. Esse Alma não é o sabedor, nem a coisa a ser sabida, pois se acha além de todos os argumentos e debates; não é a mente, nem o intelecto, pois inacessível a todas as expressões. Como posso explicar-te esta verdade? Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    18. Ele é a essência Suprema da Verdade, despido de qualquer dualidade ou não-dualidade; a Verdade Suprema não tem exterior ou interior: não é o que era antes; não está ligada a qualquer coisa, tampouco é algo. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    19. Eu sou verazmente o Ser imaculado de qualquer vício advindo das paixões, etc. Sou verazmente o Ser despido de todo o sofrimento resultante do desprazer dos deuses, etc. Sou verazmente o Ser despido de quaisquer sofrimentos humanos. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    20. Se o Atma é livre das três etapas de consciência, como pode a quarta etapa ser-lhe atribuída? Se está livre das três divisões do tempo, como pode qualquer posição ser-lhe atribuída? É a morada suprema da tranqüilidade e a própria verdade suprema. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    21. Sou incapaz de grandes ou pequenas divisões; sou incapaz de extensão ou contração; não sou redondo, nem pontudo. Sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    22. Nenhum pai, esposa ou filho jamais nasceu para mim, tampouco algum deles morreu ou me pertenceu. Minha mente nunca foi ou é volúvel ou firme. Eu sou a Verdade Suprema, o conhecimento imortal e imutável, onipresente como o espaço.
    23. Eu sou puro, superlativamente puro, inatingível pelo pensamento, a própria forma de infinidade. Embora não associado, impensável e tendo aspectos infinitos, associo-me a tudo; sou indivisível porém divisível. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    24. Se existe uma Verdade Suprema imaculada, como pode haver legião de Brahmans e outros deuses e regiões tais como os céus, etc, nela? Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    25. Como posso dizer que não é, Neti, Neti, ou seja, não é isto, não é isto? Como posso descrever aquilo que é o resíduo imaculado último de tudo que é? Como posso descrever aquilo que é despido de todos os símbolos? Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    26. Eu sou destituído de ações, no entanto desempenho várias ações; sou sem ligações, no entanto me desfruto de modos vários; sou sem corpo, no entanto me entrego a prazeres constantes. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    27. Eu me acho além do espetáculo dos fenômenos ilusórios (o mundo), além de toda a ostentação de arrogância, além de todas as imposições da tirania, além de todos os fenômenos da verdade e falsidade. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    28. Embora despido de todas as mudanças do tempo, não me encontro isolado; embora despido de consciência interna, não sou surdo ou mudo; embora despido de todas as mudanças, não me acho separado até mesmo da impureza do pensamento. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    29. Não sou o senhor, nem o criado; não tenho ligações familiares; não tenho ansiedade, pois não possuo mente. Todas as dificuldades não me afetam; conhece(-me) como despido de tudo e destituído de todas as relações. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    30. O mundo é como um ermo solitário. Que posso dizer dele? Ele (o mundo) é prova positiva de todas as incertezas. Que devo dizer dele? (O Atma) é perpetuamente o mesmo, livre de todos os problemas. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    31. (O Atma) parece ser despido tanto das coisas sensíveis como das insensíveis; ele não se originou de alguma coisa, nem alguma coisa se originou dele; é o próprio Nirvana, uma Liberdade Eterna. Eu sou o conhecimento mortal, imutável e onipresente como o espaço.
    32. O Atma é perpetuamente despido de toda a prosperidade mundana, acha-se livre do ciclo incessante de nascimentos; é igualmente livre do ciclo incessante das mortes. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    33. Tu não tens nome ou forma; tu és indivisível, tampouco qualquer elemento diferenciador existe em ti. ó coração desavergonhado! Por que, então, te lamentas? Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    34. Ó amigo! (isto é, coração) por que choras? Tu não tens dores de parto, nem idade avançada, nem morte, nem (qualquer outra) mudança. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    35. Ó amigo, por que choras? Tu não tens beleza ou .fealdade, nem idade avançada, etc. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    36. Ó amigo, por que choras? Tu não tens mente ou sentidos, nem idade avançada, etc. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente corro o espaço.
    37. Ó amigo, por que choras? Tu não tens desejo; tu não tens cobiça; tu não tens apego. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    38. Por que anseias pela riqueza? Tu estás acima de todas as riquezas. Por que anseias por felicidade? Tu não tens esposa. Por que anseias por posses? Nada é teu. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    39. A característica que produz o mundo não é tua nem minha. O (mundo) tem uma aparência de variedade apenas para a mente estúpida e desavergonhada. Não existe diferença alguma, de qualquer espécie, em ti ou em mim. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    40. Verazmente tu não tens paixão, despaixão, ou qualquer desejo. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    41. Com relação a ti não existe Samadhi ou meditação; nem sujeito, nem objeto de meditação; nem exterior (nem interior); nem matéria, nem tempo. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    42. Eu te expliquei a verdade suprema e final. Não existes tu, nem existo eu, coisa alguma grande (ou pequena), tampouco qualquer mestre ou qualquer discípulo. Essa ,Verdade Suprema, em sua própria natureza, é absolutamente livre. Eu sou o conhecimento imortal, imutável e onipresente como o espaço.
    43. Se é a Ventura, ela própria, onipresente como o espaço, como pode haver outra verdade suprema? Se é a Ventura, ela própria, onipresente como o espaço, como pode haver algo superior (a ela)? Se é tanto o conhecimento quanto a verdade, como pode haver algo mais elevado?
    44. Fica sabendo que toda a verdade está despida de fogo e vento, despida de terra e água, despida de todo o movimento e é onipresente como o espaço.
    45. Não é da forma do vácuo, nem da matéria. Não é pura nem impura. Não é de boa ou de má forma. É o seu próprio Eu - a Verdade Suprema.
    46. Desiste do mundo, desiste até da renúncia; abandona tanto a renúncia quanto a não-renúncia. O Atma, por sua própria natureza, é imaculado, imortal e uma certeza total.
    Capítulo 4
    1. Não se pode invocá-lo, nem se despedir dele. Tampouco podem folhas e flores ser-lhe oferecidas, nem a meditação ou o cântico de Mantras aplicar-se a ele. Encarar tudo por igual é a adoração verdadeira desse Venturoso.
    2. Eu sou não apenas livre de todas as servidões naturais e adquiridas, não apenas livre de toda a pureza interna e externa, não apenas livre de todas as relações de união ou separação, como sou completamente a Liberdade Eterna, desimpedida como os céus.
    3. Se todo este (mundo) é, na verdade, criado ou apenas criado como uma ilusão, estes pensamentos não surgem em mim. Sou, por natureza, livre e além de todos os males.
    4. Não estou incrustado como o Maya , tampouco deixo de estar. Não existe diferença ou não-diferença, tampouco a variedade me afeta. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    5. Nem o conhecimento, nem a ignorância, me dizem respeito. Eu não sou a forma de conhecimento. Como Posso falar de conhecimento ou de ignorância? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    6. Não sou virtuoso, nem pecador, preso ou livre. Relação alguma me afeta. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    7. Não sou isto, nem aquilo, tampouco intermédio, nem relações com o amigo ou inimigo me afetam, tampouco tenho algo a ver com o bem ou o mal. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    8. Não sou o devoto, nem aquele a quem a devoção se oferece. Para mim não existe qualquer instrução, tampouco qualquer oferece. Para mim não existe qualquer instrução, tampouco qualquer dever. Nem mesmo sou a forma de conhecimento. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    9. Não sou o impregnador, nem o impregnado. Não sou o local de repouso, nem o seu oposto. Não sou vazio, nem cheio. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    10. Não sou o que captura, nem o capturado. Para mim não existe causa, nem efeito. Como posso ser alguém em quem se possa pensar ou deixar de pensar? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    11 . Não sou a causa de diferenças, tampouco diferença alguma existe em mim. Não sou o sabedor, nem o sabido. Ó caro! Como posso, então, falar do passado e do futuro? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    12. Não tenho corpo, tampouco sou incorpóreo. Não possuo intelecto, mente ou sentidos. Não sou afetado pela paixão, nem despaixão.. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    13. (O Atma) nem mesmo em nome é diferente (do Brahman). Não se acha oculto nas palavras elevadas (dos Vedas). ó amigo! Como o posso chamar uniforme ou variado? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    14. Eu controlo e não controlo os sentidos. Não existe lei ou ordenação para mim. ó amigo! Assim sendo, como posso dizer que a vitória ou a derrota me afetam? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    15. Sou informe; não existe imagem minha. Não tenho principio, fim ou meio. ó amigo! Como posso ser chamado de forte ou fraco? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    16. Para mim não há morte, nem imortalidade, tampouco néctar ou veneno, nem pureza, nem impureza. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    17. Para mim não existe despertar, nem adormecer, ou quaisquer posições devocionais, nem dia ou noite, ventura ou sofrimento. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    18. Conhece-me como livre de um e de tudo. Para mim não existe o Maya (ilusão), nem seu oposto. Como posso ser tido como tendo a ver com o Sandhya e outros a deveres devocionais prescritos? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    19. Fica sabendo que eu estou associado a todas as meditações concentradas (Samadhis), além de tudo que pode e não pode ser o objetivo do pensamento. Como posso, então, falar de união ou separação? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    20. Não sou um idiota, nem um erudito. Não sou loquaz, nem reticente. Como posso, então, dizer que a discussão ou a crítica me afetam? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    21. Não tenho pai ou mãe, tampouco casta ou família, nascimento ou morte. Como posso, então, falar de apego ou desapego? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    22. Sou sempre resplandecente. Jamais tenho ocaso ou desapareço. Para mim não existe luz ou trevas. Como posso dizer que os desempenhos devocionais, como os observados de noite ou de manhã, me obrigam? Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    23. Conhece-me com certeza, destituído de origem; sem diferença ou divisão. Conhece-me com certeza, destituído de impureza. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    24. Os sábios renunciam a todas as meditações devocionais e aos atos, bons e maus. ó caro! Eles só se abeberam no néctar da renúncia. Eu sou, por natureza, a Liberdade Eterna além de todos os males.
    25. O Asceta esclarecido que foi expurgado de todos os desejos maus e se acha submerso no sentimento de Unidade completa declara a verdade que ninguém consegue saber (o Brahman, que nem os versos védicos nem as definições lógicas podem jamais descrever.
    Capítulo 5
    1. O som "Om" quando proferido, é indicativo do Brahman e, portanto, onipresente como os céus. Não há noção da realidade superior ou inferior nele. É negativo tanto para o prazer mundano como para a dor. Assim sendo, como pode uma letra com um ponto ser pronunciada? (pois isso denotaria uma dualidade, quando o fato é a não-dualidade rígida).
    2. Tu és o princípio Eterno da Alma, como declaram os versos védicos, tais como 'Tu és Aquilo'. Tu és destituído de todas as obstruções e és universalmente um. Sendo tudo um, por que lamentas, ó coração?
    3. É tudo um vazio de altura ou profundidade. É tudo um vazio de exterior ou inferior. É tudo um vazio de número. Sendo tudo um, por que lamentar-te, ó coração?
    4. É tudo além de toda a concepção e tudo que é concebido. Está além de causa e efeito. É vazio de todas as palavras e arranjos de palavras. É tudo um. Assim sendo, por que te lamentas, ó coração?
    5. Está além da concentração do conhecimento. Está além da globalidade do espaço. Está além do alcance do Tempo. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    6. Não é a panela nem o espaço por ela ocupado; não é o corpo nem o Jiva nele habitante; nem a causa, nem o efeito. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    7. É emancipação para sempre e mais sempre. Está destituído de todas as distinções de ser curto ou longo. Não está marcado por qualquer arredondamento ou angularidade. É tudo um. Assim sendo, por que te lamentas, ó coração?,
    8. Está vazio tanto de plenitude quanto de vácuo; está vazio tanto de pureza como de impureza, é incapaz de ser o todo ou uma parte. É tudo um só. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    9. A ele idéia alguma de unidade ou separação se aplica; nenhuma idéia de interioridade ou de sua união se aplica. É tudo um, destituído de todas as distinções quanto a amigo ou inimigo. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    10. Não é discípulo nem o não-discípulo. Nele não há distinção de seres animados ou inanimados. É a meta eterna de emancipação. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    11. Está verazmente destituído tanto de forma como de informidade. Está destituído de separação ou inseparação. Está destituído tanto de origem como de dissolução. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    12. Não está preso pela servidão de qualidades boas ou más. Como pode passar pelo nascimento e morte? É tudo um, puro e imaculado. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    13. Está destituído de todos os pensamentos e sentimentos. Está destituído de desejo e ausência de desejos. É verazmente o conhecimento mais elevado e a emancipação eterna. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    14. É a verdade - a verdade Eterna. Está destituído de todas as idéias de união ou separação. Está destituído de tudo e é universalmente um. Assim sendo, por que te lamentas, ó coração?
    15. Não tem lugar de morada. Para ele todos são como os membros de uma família. É rigidamente incapaz de contato ou ausência de contato. Está verazmente além de todo o conhecimento e ignorância. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    16. (Este mundo) sendo uma mudança do que é imutável, uma materialização do que não pode ser conhecido, é falso. Se o Atma que é todo um, é a única entidade real, nesse caso por que te lamentas, ó coração?
    17. Tudo isto verazmente é vida - vida eterna. Tudo isto é vida, pura, inconspurcada. Tudo é verazmente Um. Por que, então, te lamentas, ó coração?
    18. Não se sabe se a discriminação ou indiscriminação constitui a qualidade do Brahman. Não se sabe se ele se caracteriza ou não pela mudança. Se ele é Uma Consciência Eterna, e tudo é um, por que te lamentas, ó coração?
    19. Não existe realmente servidão ou libertação, tampouco virtude ou vício, plenitude ou vácuo. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    20. Se está igualmente destituído de cor e descolorido, se está igualmente destituído de causa e efeito, se está igualmente destituído de unidade e separação, nesse caso sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    21. Ele reside em todos os corações, sendo onipresente. Mora em todos os corações, sendo uma existência imutável. Reside em todos os corações, não tendo pés, etc. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    22. Está verdadeiramente por toda a parte, sempiterno e onipresente. E supremamente puro e imutável e subjacente a tudo. É penetrante e interpenetrante, indiferente ao dia e noite. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    23. Não se acha preso por qualquer espécie de lia-me. Não admite união ou separação. Não pode ser alcançado por debates ou criticas. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    24. Não está preso pelo tempo e seus períodos. Não é tocado pelo fogo. É Verdade, pura e simples. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    25. Não é material nem imaterial. Acha-se igualmente destituído dos estados de sono e sono profundo. Acha-se certamente além de toda a fala e descrição. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    26. É como os céus, imenso e uniforme. Não está separado de tudo que existe, pois é universalmente um. Por toda a parte é o mesmo ser além da realidade, irrealidade e todas as mudanças. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    27. É igualmente indiferente à virtude e vício, aos desfrutes materiais e imateriais e às paixões despaixões. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    28. Está igualmente destituído de prazer ou dor, sendo tudo igual. Acha-se muito além de pesar e alegria. Não é mestre, nem discípulo. É a Verdade e a Verdade Suprema. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    29. Nele verazmente não há embrião da realidade ou falsidão. Não é movível nem imovível, uniforme ou variado. Acha-se além de todas as observâncias ritualistas ou não-rituatistas. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    30. É a quintessência de todos os essenciais. Exprimível apenas na auto-compreensão. Todas as atividades sensórias são falsas. Sendo tudo um, por que te lamentas, ó coração?
    31. Todos os fenômenos, tais como os céus, etc, são tão ilusórios quanto a miragem, proclamam muitos versos védicos. Se é Um incessante e uniformemente permeia tudo, então por que te lamentas, ó coração?
    32. O Asceta esclarecido que foi expurgado de todos os desejos maus e está submerso no sentimento de Unidade, por completo, declara a verdade de que jamais alguém consegue conhecê-lo (Brahman), que nem os versos Védicos, nem qualquer definição lógica poderá jamais descrever.
    Capítulo 6
    1. Os versos védicos repetidamente declaram que todos os fenômenos, tais como os céus, etc, são tão ilusórios quanto a miragem. Se (o Atma) é uma Ventura universal, eterna, quem pode então ser o sujeito ou objeto de comparação?
    2. Ele está além de toda a diferença ou não-diferença. Acha-se além de causa e falta de causa. Se é uma ventura universal eterna, como pode ser objeto de adoração ou de austeridades?
    3. A mente é perpetuamente onipenetrante. Acha-se destituída de todas as dimensões, grandes ou pequenas. Somente ela (a mente) é uma ventura universal, eterna, mas (o Brahman) se acha além, tanto da mente como da fala.
    4. Ele (Brahman) é destituído de todas as divisões de tempo, isto é, dia e noite. Nada tem a ver com aurora ou ocaso. Se é tudo uma Ventura Eterna, como podem o Sol, a Lua e o fogo afetá-lo?
    5. Ele está além de todos os sentimentos, paixão e despaixão. Está destituído de todas as atividades e inatividades. Se é tudo uma ventura eterna, como pode a diferença de exterior ou interior se aplicar a ele?
    6. Está além da realidade e irrealidade do mesmo modo, além da plenitude e do vazio igualmente. Se é tudo uma ventura eterna, como pode a idéia de Primeiro ou Último se aplicar a ele?
    7. Se está destituído de diferença e não-diferença, se está vazio da idéia do sábio e do sabível igualmente, se é tudo uma ventura eterna, como pode a noção do Terceiro ou Quarto estado de consciência se aplicar a ele?
    8. Tudo que é ensinado e tudo que não é ensinado são igualmente falsos. Se é tudo uma ventura incessante, como pode ser um objeto do intelecto, mente, ou os sentidos de prazer?
    9. Nem o céu nem o ar são reais; tampouco a terra ou o fogo são reais. Se é tudo uma ventura incessante, como pode haver alguma nuvem ou unidade nele?
    10. Se está além do mundo criado, se está acima dos deuses criados, se é tudo uma ventura incessante, como pode a faculdade que discrimina entre o bem e o mal atingi-lo?
    11. Acha-se além da vida e da morte; além da ação e da inação. Se é tudo uma felicidade perene e incessante, como pode alguém atribuir movimento ou descanso a ele?
    12. Nele não existe distinção de Prakriti e Purusha - matéria e espírito. Nele não existe distinção de causa e efeito. Se é tudo uma ventura perene e incessante, como pode alguém dizer que é ou não é o Purusha?
    13. Não é afetado nem pelo sofrimento do terceiro nem pelos prazeres do segundo período de vida. Se é tudo uma ventura perene e incessante, como podem idade avançada, a juventude ou a infância ser atribuídas, a ele?
    14. Está verazmente acima de todas as etapas de vida e de castas. Não é agente, nem ação. Se é tudo uma ventura perene e incessante, como pode o certo ou errado ser atribuído a ele?
    15. O devorador e o devorado são ambos irreais. O criador e o criado são um. Se é tudo uma ventura perene e incessante, como pode a destruição ou a permanência ser atribuída a ele?
    16. Nele desaparece toda a idéia de homem ou animal, a idéia de mulher ou de eunuco. Se é tudo uma ventura universal, como pode o prazer ou dor afetá-lo?
    17. Se está além do apego e do pesar, se está destituído de dúvida e ansiedade, se é tudo uma ventura perpétua, como pode a noção de 'Eu' ou 'Meu' aplicar-se a ele?
    18. Tanto a virtude como o vício desaparecem nele; tanto a servidão como a liberdade desaparecem nele. Se é tudo uma ventura perpétua, como podem a alegria e o pesar ser atribuídos a ele?
    19. Nele não há distinção de sacrificador ou sacrificado, nenhuma distinção da colher sacrifical. Se é tudo uma ventura perpétua, dize, como quaisquer frutos da ação podem ser atribuídos a ele?
    20. Está verazmente além da alegria e do pesar, está verazmente destituído de orgulho e humildade. Se é tudo uma ventura perpétua, como pode a paixão ou a apatia ser atribuída a ele?
    21. Nele não há sentimento como afeição ou indiferença, nenhum sentimento de cobiça ou não-cobiça. Se é tudo uma ventura perpétua, como pode ser atribuída a ele a faculdade de discriminar?
    22. A ele a idéia de "Eu" ou "Tu" jamais se aplica. Todo esse interesse por casta ou família é ilusório. Eu próprio sou a Ventura Suprema. Assim sendo, a quem devo adorar?
    23. Está despido de todas as relações de preceptor e discípulo. Acha-se igualmente despido de qualquer noção de ensino. Eu próprio sou a realidade e Ventura Suprema; a quem devo render minhas adorações?
    24. Nele não existe idéia deste corpo irreal ou do mundo. Eu sou a realidade e a Ventura Suprema. A quem devo, portanto, prestar minhas adorações?
    25. Jamais é apaixonado ou desapaixonado. É verazmente imaculado, imutável e puro. Eu próprio sou a realidade e Ventura Suprema. A quem devo, portanto, prestar minhas adorações?
    26. Nele não há idéia do corpo, ou incorporeidade. Essas são todas atividades falsas, não reais. Eu próprio sou a realidade e Ventura Suprema. A quem, devo, portanto, prestar minhas adorações?
    27. O Asceta esclarecido que foi expurgado de todos os desejos maus e que está submerso no sentimento de Unidade, por completo, declara a verdade de que ninguém consegue conhecê-lo (o Brahman), que nem os versos védicos, nem as definições lógicas podem jamais descrever.
    Capítulo 7
    1. O asceta puro e imaculado que está submerso no sentimento de unidade, que veste trapos recolhidos nas ruas e evita a trilha tanto da virtude como do vício, parte para um lugar deserto e se senta por lá, sozinho.
    2. O asceta batizado pela pureza da Verdade Eterna e Una está além de metas concebíveis e inconcebíveis, e despido de contato e separação igualmente. Que tem ele a ver com debates ou críticas?
    3. Tais ascetas estão livres dos laços todos de esperança, despidos de todos os atos de pureza exterior e privados de tudo. São desposados com a Realidade pura e imaculada, apenas.
    4. Como vêm a idéia do corpo e do incorpóreo, a idéia da existência da paixão e a despaixão quando ele (o Atma) é em si mesmo a Realidade pura, imutável e natural mente informe, ilimitada como o espaço?
    5. Como pode alguém adquirir qualquer conhecimento ali; como pode haver qualquer forma ou informidade? Onde é somente o Mais Alto, ilimitado como o espaço, como pode haver alguma atividade sensorial?
    6. Ele é perpetuamente tão ilimitado quanto o céu. Ele é a Verdade, pura e sem mácula. Ele está livre de qualquer servidão e liberdade. Como pode haver nele qualquer noção de diferença ou não-diferença?
    7. A Realidade Eterna e Una existe por toda a parte. Como pode existir qualquer noção relativa à união ou desunião? Ele é verazmente o Mais Alto, existindo eternamente por toda a parte. Como pode haver qualquer noção de ganho e perda nele?
    8. Ele é a realidade universal e pura. É eternamente imaculado e ilimitado como o céu. Como pode o contato ou separação, a cor ou uma variedade ser verdadeira em relação a ele?
    9. O asceta que está despido de união ou de desunião e que é um desfrutador sem desfrutes ou não-desfrutes, alcança gradualmente a felicidade espontânea projetada pela mente.
    10. Um asceta que esteja ligado ao conhecimento e ignorância da dualidade ou não-dualidade não pode alcançar a libertação. Como pode tal asceta ser naturalmente desapaixonado e o desfrutador do sentimento puro e sem mácula da Unidade?
    11. Ele (o Atma) é infinito e ilimitado como o céu, se for destituído de todas as noções de divisibilidade e indivisibilidade, todas as noções de apego e desapego, como pode haver em relação a ele qualquer noção de verdade ou falsidade?
    12. O vidente é perpetuamente avesso a tudo e devotado apenas à auto-compreensão. Ele vai além de todas as verdades elementares e alcança a libertação onde não existe nascimento, nem morte, nem meditação ou seu oposto.
    13. Tudo isto (o mundo) é exatamente como uma alucinação mágica ou miragem em deserto de areia. Somente a Ventura, universal, e ininterrupta e ilimitada como o espaço, existe.
    14. O Eu está inteiramente além de tudo, além de todas as atividades que começam com as observâncias religiosas e culminam na libertação. Como os eruditos, então, lhe impõem sentimentos como o amor e o desapego?
    15. O Asceta esclarecido, que foi expurgado de todos os desejos maus e se acha submerso no sentimento de Unidade por completo, declara a verdade de que jamais alguém consegue conhecê-lo (o Brahman), que nem os versos Védicos, nem as definições lógicas podem descrever.
    Capítulo 8
    1. Tu és declarado como sendo Onipresente. Uma peregrinação em tua direção significa a negação de tua Onipresença. Tu és declarado como estando além do pensamento. Qualquer contemplação de tua parte implica em que não és assim. Tu és declarado como estando além da fala. Qualquer cântico de louvores a ti significa que tu és acessível à palavra.
    2. Aquele cuja mente esteja não-obcecada por paixões, que tenha dominado as atividades sensórias, que seja gentil, puro e pobre, que viva de refeições ligeiras e não tenha desejos, seja tranqüilo e firme, e que tenha buscado apenas meu abrigo, é um sábio (Muni).
    3. Aquele que tenha dominado todas as atividades sensórias, que seja esclarecido, sóbrio, corajoso, sem ostentação, capaz, cortês, compadecido e amistoso, é um vidente.
    4. Ele é bondoso, paciente, veraz, de alma livre, hostil a ninguém, fazendo o bem a todos e encarando a todos do mesmo modo.
    5. As características do asceta (Avadhut) merecem ser conhecidas pelos devotos, pelos seguidores das castas, pelos conhecedores dos segredos dos Vedas e das castas e pelos propagadores dos Vedas e do Vedanta.
    6. A letra (a) na palavra Avadhut implica em que ele está livre da esperança, que está livre do começo, do meio e do fim, e que reside perpetuamente na felicidade.
    7. A letra (va) no Avadhut implica em que ele está isento de todos os desejos, que sua fala é despida de todo o mal e que ele reside em todas as coisas existentes.
    8. A letra (dhu) em Avadhut implica em que seu corpo está coberto de pó e que sua mente foi expurgada de todos os maus pensamentos e que ele se acha livre de todas as enfermidades e que se acha acima da concentração mental e das meditações.
    9. A letra (T) em Avadhut significa que ele está obcecado com a contemplação da Realidade, que se acha livre de todas as atividades que causam ansiedades e que se encontra isento das trevas (ignorância) e do egoísmo.
    10. O homem vicioso que é descrito como corvo desprezível, ignora o Atma (espírito) imorredouro e imperecível que está isento de todas as diferenças e é (a própria) Liberdade, e marcha para o inferno.
    (Os Slokas 11 a 25 condenam os prazeres sexuais. Sua tradução fiel é omitida aqui por motivos de decência).
    26. É um grande pecado beber vinho. A prática dos prazeres sensuais é igualmente condenável. O sábio que tenha, portanto, abandonado ambos, estabelece-se na verdade.
    27. O corpo material sofre quando a mente se acha perturbada com ansiedades. Quando a mente se encontra enferma as partes do corpo também sofrem. A mente, portanto, merece ser conservada de todos os modos. Apenas na mente sadia todas as faculdades prosperam.
    28. Este livro foi escrito Pelo Asceta venturoso Dattatreya. Aqueles que o lerem ou ouvirem se tomarão unes aos nascimentos futuros.
    posted by iSygrun Woelundr @ 5:14 PM   0 comments
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